Entrevista com vampiro

Nesta edição nosso repórter Luizinho do Lixão entrevista a golpista, mau-caráter, contraventora, estelionatária e afins: Valéria Vacilo. Num clima nada agradável leia alguns trechos dessa conversa bastante amistosa e reveladora.

-L.L.: -Valéria como se sente ao completar 70 anos e durante todo esse tempo carregar a bandeira do mau-caratismo?

-V.V.: -Você não tem idéia do quanto isso é gratificante, chegar à essa idade sentindo todo esse vigor, vejo que tenho muito ainda a fazer. Mas não pense que isso é fácil não, durante todo tempo eu tive o prazer de fuder muita gente, foi duro, mas edificante.

-Você é conhecida por não ter critérios, você sempre leva ao pé da letra essa máxima?

-Claro, sempre! Ou você já se esqueceu que no passado eu coloquei na merda toda a minha família? Não há limites para que eu seja feliz. Posso arruinar sua vida agora, dúvidas?

-Claro que não. Nessa data memorável alguém veio visitar a senhora?

-E eu preciso de visitas? Não me venha! E revise seus conceitos ao chamar-me de senhora. Primo por continuar levando adiante minha tradição de pilantragens. Não preciso de ninguém por perto que não venha a me favorecer.

-Desculpe. Você acha que antigamente era melhor para, como eu diria... trabalhar?

-Isso é puro saudosismo ou desculpa de quem já perdeu a criatividade. O mundo é veloz e cresce em progressão geométrica, logo concluo que apesar de mais acesso à informação, a sociedade atual continua produzindo um número maior de imbecis sempre prontos para cair em um novo golpe, ou até mesmo nos mais batidinhos.

-E o seu envolvimento com o mafioso Vicente Mutreta?

-Foi uma das melhores fases de minha vida! Éramos procurados pela Interpol devido a um golpe bem sucedido onde desviei milhões do banco central, e isso tudo com a conivência de alguns figurões que trabalhavam lá, gente fina, mas gostavam de uma boa sacanagem, logo nos identificamos. No caso do Vicente, nosso romance era muito atípico, coisa nossa mesmo.

-Guarda Alguma mágoa?

-...Aquele maldito velho de merda!

-Quem seria esse?

-Meu irmão! Até hoje poucas vezes em minha vida vi alguém tão filho da puta. O canalha jamais permitiu muito minha aproximação, e perdeu um bom tempo armando e maquinando formas de acabar com a minha reputação. Minha maior mágoa é por não ter conseguido tirar dele um último imóvel de nossa família que ainda não está em minhas mãos. No fundo meu desgosto é por não vê-lo morando embaixo do viaduto do Centenário em Duque de Caxias.

-Por que esse ódio todo?

-Não guardo rancor. Sempre fui feliz em minha vida. A cada dia que acordo sinto a alegria renovar-se, jamais deixei de fazer o que tive vontade. Frequentei os lugares mais badalados do mundo e sempre cercada de muito requinte. Foda-se se algumas pessoas tiveram que sofrer por isso. Nunca pedi nada a ninguém.

-E suas vítimas?

-Dobre sua língua! Nunca fiz vítimas. Todos são vítimas da vida e das conjecturas apresentadas no curso do trajeto que percorremos. Você acha que as pessoas que caem em algum golpe são imbecis de fato? No fundo toda trapaça só é bem sucedida quando a parte lesada em algum momento resolve embarcar nessa ilusão, pois também quer favorecer-se de alguma forma.

-isso significa que você perdoa?

-Não. Essas pessoas é que deveriam perdoar-se, não eu.

-Mudando de assunto, e essa grana toda aonde foi parar?

-Você é bem deselegante rapazinho, mas isso é que dá conceder entrevista a um sujeito que tem o seu nome. Talvez na próxima semana eu resolva tirar umas férias em meu luxuoso iate em mares caribenhos.

Ricardo Villa Verde
Enviado por Ricardo Villa Verde em 13/05/2011
Reeditado em 06/12/2012
Código do texto: T2968352
Classificação de conteúdo: seguro