TODO DIA É DIA DA MULHER: ELIANE AUER
ENTREVISTA - VAREJO SORTIDO:TODO DIA É DIA DE MULHER
http://varejosortido.blogspot.com/2012/01/todo-dia-e-dia-da-mulher-eliane-auer.html

CONCEDIDA AO LUIZ ALBERTO MACHADO  escritor, compositor musical e radialista pernambucano, editor do Guia de Poesia do Projeto SobreSites. membro da Cooperativa dos Músicos de Alagoas - Comusa e cônsul em Alagoas do Poetas del Mundo. 


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ELIANE AUER – A professora e escritora capixaba, Eliane Auer que também se assina Moça Bonita, é professora do Núcleo Comum, Coordenadora Pedagógica da Rede de Ensino Municipal, formada pela Universidade Federal do Estado do Espírito Santo, pós-graduada com especialização em Inspeção, Orientação, Gestão e Supervisão Escolar no Instituto Vale do Cricaré - São Mateus/ES. É também voluntária do PROERD - Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência.

 
ENTREVISTA DE ELIANE AUER

LAM - Eliane, você é professora e escritora. Então vamos trabalhar em duas partes, primeiro a professora. Quando, como e por que você se definiu professora?
 
No passado, em minha região, os familiares escolhiam o curso que as mulheres deveriam seguir, não deixando opção de escolha. Havia o famoso curso básico, em que se faziam todas as matérias e se optava pelo curso no segundo ano. Havia apenas os Cursos Científico, Técnico em Contabilidade, Técnico em Administração e Magistério (que era o curso para mulheres). Ao iniciar o curso, me identifiquei, pois sempre gostei muito de desenhar, pintar e criar. O curso exigia criatividade.
Tinha uma professora de Didática e Prática de Ensino que era muito exigente e ela era dona de uma escola privada renomada no município. Sempre me elogiou muito e assim que eu concluí o curso, no ano de 1983, ela esteve na casa de minha mãe, me convidando para assumir a minha primeira sala de aula, era uma sala de alfabetização.Com um mês de trabalho, convidou-me para trabalhar dois turnos.Assim, me dediquei por 11 anos à essa escola privada.
 
LAM - Quais as influências da infância e adolescência que determinaram a escolha pelo magistério?
 
Na verdade, os antecedentes eram já de duas irmãs formadas em magistério, porém nenhuma das duas atuava na área educacional.
 
LAM - Você passou por uma experiência pedagógica de sonhar com a faculdade, mas um sonho que ficou distante na época. Ao lado disso veio a hora de ser mãe e depois conseguir entrar na faculdade de Pedagogia. Fala pra gente dessas experiências.
 
Aos 18 anos de idade, assim que me formei, tive a minha iniciação na área educacional.
A faculdade, na época, ficava numa cidade da região serrana, no município de Colatina, como moro no município de São Mateus, norte do estado do Espírito Santo, tornava-se inviável financeiramente, era uma faculdade particular.
No ano de 1993, me casei e em 1995 tive minha primeira filha. Chegou o momento da renúncia para cuidar da minha filha e me realizar como mãe.
No ano de 1999, fiz um concurso público municipal para professora, onde fui aprovada. Reassumi a sala de aula e vieram as exigências para a prática docente, sendo elas curso de pedagogia ou normal superior.
Prestei um vestibular para ingresso num projeto EAD (educação Aberta e à Distância) entre a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) e com o material didático fornecido pela Universidade do Mato Grosso.
Este curso de pedagogia foi semipresencial, onde eu trabalhava como professora num bairro periférico e desenvolvia os projetos e trabalhos de pesquisa nas horas vagas,além de desempenhar o papel de mãe.
 
 

LAM - Além dessa experiência, outra significativa foi a de se confrontar entre o ensino público e a rede privada. Relata pra gente como é que se deu esse confronto entre a escola pública. Qual a sua perspectiva hoje com relação tanto ao ensino público, como o do ensino na rede privada?
 
Trabalhar em uma escola privada foi uma experiência extremamente positiva, tinha riqueza de materiais didáticos, apoio dos pais, diariamente a dona da escola estava presente e era uma professora de carreira, que conhecia bem os anseios de uma sala de aula e os problemas que poderiam surgir e como solucioná-los junto com os professores.
Na rede pública, uma grande tristeza vivi, pois trabalhava em um bairro periférico. O oposto da situação da escola privada.
Crianças com fome, convívio diário com drogas e mortes, violência, pedofilia, zoofilia, incesto...
Lá, consegui um pacote completo de problemas emocionais: depressão, bipolaridade, ansiedade, síndrome do pânico e fobia social.
Faço acompanhamento psiquiátrico, psicológico, neurológico...
Depois de 11 anos vivendo com laudos médicos, descaso, críticas e ironias até mesmo com o nome de uma medicação, "pondera" (pondera é a paroxetina, um antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina)
 
Perspectivas:
Quanto ao ensino público, vejo muitos colegas com laudos psiquiátricos e fazendo tratamentos emocionais, percebo nas instituições federais, os IFES, -cito onde a minha filha mais velha estuda- total descaso com a causa educacional. Prédios inacabados, faltam laboratórios, apoio profissional. Enfim, foram quase três meses de movimento e o ano letivo só será concluído no ano de 2012, atrasando consequentemente o próximo ano letivo.
Na rede pública municipal, continuam as ameaças feitas por alunos a professores e salários de descaso. Com tudo que passei em problemas emocionais, em nenhum momento a assistente social procurou saber sobre o que acontecia ou como a minha família se comportava com a situação. Acredito que com nenhum outro colega ocorra algum apoio.
Na rede privada, acompanho minha filha mais nova, a insatisfação salarial dos profissionais é a mesma, apesar do valor da mensalidade paga pelos alunos ser bastante alta.
Vejo que se não houver investimentos em capacitações, incentivos salariais, condições dignas de trabalho, segurança e comodidade, de nada adiantarão discursos mirabolantes descrevendo o cenário educacional.
Precisa-se de atingir as fraquezas, os erros, desde a base.
O aprendizado do aluno da escola pública, com fome, acredito que se torna difícil.  Defendia a idéia do café da manhã, pelo menos para que a criança não fique esperando pela merenda de hora de recreio apenas. Mas, os políticos vão para seus gabinetes de barriga cheia!
 
LAM - A seu ver a LDB vigente atende aos anseios de professores e estudantes?
 
A lei 9394/96 dá muita liberdade para as escolas, para os sistemas de ensino dos municípios e dos estados, fixando normas gerais. Alguns detalhes da LDB vigente são tidos como ganhos importantes para os cidadãos: "a União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público" (art. 69); O Ensino fundamental passa a ser obrigatório e gratuito (art. 4) e; a educação infantil (creches e pré-escola) se torna oficialmente a primeira etapa da educação básica.
As políticas educacionais formuladas a partir da LDB trouxeram vários desafios para a formação dos docentes para atuar na educação básica, onde devem ser habilitados em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação.
A partir do momento em que se tem um profissional qualificado e habilitado para o exercício da função, o aluno passa a ter ganhos de conhecimento.
 
LAM - Você desenvolveu um trabalho acadêmico acerca da Petrobrás em São Mateus (ES). O que motivou a realização dessa pesquisa e os resultados obtidos?
 
A motivação se deu através da economia da cidade. Desde os anos sessenta a Petrobras, no nosso município, tem tido um papel relevante para a sociedade mateense.Promovendo desenvolvimento na economia local através de empregos, renda, royalties.Na minha vida, foi muito mais do que economicamente, trouxe-me um funcionário que se tornaria o meu marido e pai de minhas filhas, que muito me apoiou no desenvolvimento do trabalho.Bem como pesquisas empíricas com pessoas que vivenciaram a descoberta do petróleo no nosso município.
Através desse trabalho de pesquisa pudemos mostrar a importância da Petrobras na nossa região e dos produtos derivados do petróleo na economia.
O objetivo principal que era passar a informação e a importância da Petrobras no município e a presença no nosso dia-a-dia.

 

LAM - Você também destinou atenção ao tema da Etnografia. O que levou você a se debruçar sobre este tema?
 
Na verdade, este estudo etnográfico se deu sobre a coleta de dados de uma família, abordando uma temática de antropologia. Infelizmente , as aparências ditam as regras da família dentro de uma sociedade.Buscando o conhecimento mais voltado para a antropologia, o foco principal foi a família, com seus hábitos e costumes diários.
 
LAM - Agora é a vez da escritora. Como e quando se deu seu encontro com a literatura?
 
Na infância, tive uma professora que gostava de pedir para recitar na frente da sala, para os outros alunos. Sempre gostei muito de poesias e leitura.
Sempre escrevia alguma homenagem que pediam discursos em nome de alguém, mas nunca assinava.
Ao iniciar o tratamento psicoterápico em 2007, tive uma psicóloga maravilhosa que me incentivou a escrever minhas dores, sentimentos, frustrações, angústias, raivas... Era uma tarefa de casa após cada sessão de terapia.
Porém, sempre observava que tinha muita poesia nos escritos: eram folhas e folhas. Ela pedia para que eu sempre assinasse tudo que eu escrevesse.Assim fui escrevendo, me envolvendo  emocionalmente com a literatura e me apaixonando a cada dia mais e mais.
Com o incentivo dos comentaristas, fui escrevendo. Gosto de me sentir livre na escrita.
 
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LAM - Você reúne seu material literário no Recanto das Letras e também edita um blog. A seu ver, como está a receptividade ao seu trabalho literário?
 
Percebo uma boa receptividade no trabalho através dos comentários e pelo perfil de muitos comentaristas.
 
 
LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?
 
Produzir uma nova obra literária e voltar à faculdade através do curso de psicologia, para poder ajudar às pessoas emocionalmente.