Entrevista cedida a André Felipe Maria

ENTREVISTA REVISTA ANDRÉ MARIA

1 – Qual o o principal desafio para a Educação em nosso país?

Vários! Impossível citar apenas um. Mais investimento e estrutura melhor, para que o professor se sinta valorizado e possa trabalhar bem, e o aluno seja estimulado e goste de estar na escola. São pontos primordiais o material de ensino ser de boa qualidade, além de amplo investimento no profissional da Educação, seja pagando um salário justo, seja tendo maior oferta de cursos e apoio para especializações, criando maiores condições para o professor alavancar sua carreira.

2 – Como você define os movimentos políticos que estão ocorrendo nos dias de hoje?

Importantíssimo para que o povo lute por seus direitos e melhor qualidade de vida neste país tão rico, mas com a riqueza concentrada na mão de poucos. Mas minha preocupação é que as pessoas usem com sabedoria este poder, que descobriram na prática, que possuem. Para reivindicar um direito, o cidadão precisa estar bem informado, precisa ter embasamento, para que não se veja numa armadilha criada por ele próprio, lutando por causas absurdas ou mesmo por causas justas, mas de forma absurda.

3 – Como podemos nos manifestar artisticamente através da Fotografia?

Conhecer esta arte, aprender mais sobre ela, por meio de cursos, pessoas experientes e... fotografando! Indo pra rua e disparando o flash. Para conhecermos o trabalho de fotógrafos profissionais, basta visitarmos as galerias e exposições destes – sejam elas virtuais ou físicas - ou vasculharmos nos estabelecimentos especializados seções de livros Fotografia. Vamos encontrar, certamente, importantes registros históricos dos povos e de suas guerras, festas, dor, miséria, alegria e amor. Ao dedicarmos alguns minutos observando com atenção uma fotografia, aprendemos muito sobre o ser humano, seja este o fotografado ou mesmo o fotógrafo. Basta abrir os olhos, a mente e o coração.

4 – O que falta no povo brasileiro?

Difícil falar no “povo” de um modo geral. Mas algo que faltava até algumas semanas antes era a “reclamação-clichê esbranquiçada de tão puída” de que o brasileiro é idiota, bobo alegre, se contenta com futebol e Carnaval, aceitando todo o resto, incluindo pilantragens e injustiças. O que está acontecendo nas ruas e a surpreendente movimentação desesperada de nossos respeitabilíssimos engravatados provam o contrário.

Respondendo de forma diferente a esta pergunta, eu poderia também dizer, com menos chance de errar, o que falta no “Zé”, no “Jão”, na “Ana”, no “Pedro”, na “Maria”... e quando se faz isso, tem que ser conversando com a própria pessoa, olhando nos olhos dela para emitir nossa opinião. Falar para o “Jão” o que falta no “Zé” não vai adiantar.

5 – Como a Arte influenciou o fim da ditadura?

Um dia ainda pergunto para Chico, Caetano, Tom Zé e cia. limitada (ou ilimitada!). Mas o que posso dizer por mim e não somente na época da ditadura militar, mas em qualquer outra, é que o artista, por meio de sua obra, tem a grande chance de despertar, entre outros sentimentos, a curiosidade das pessoas. Se, por exemplo, for publicada uma charge no jornal sobre Renan Calheiros e o leitor não entende a piada, este tornar-se-á o ingrediente essencial para que ele pesquise, leia, se informe, para descobrir por que aquele indivíduo está sendo alvo de sátira.

6 – Os povos de antigamente se sentem censurados até hoje, decorrente do que sofreram no passado ditatorial. Por quê?

Esta pergunta renderia tardes de conversa! E algumas pistas estão por aí, para que possamos pensar.

Um exemplo: foi criada a “comissão da verdade” para apoiar as famílias de desaparecidos políticos nas investigações. Porém, em pouco mais de um ano, pouco foi feito. Existe ainda registro de famílias que procuraram ajuda e, pela forma que foram recepcionadas, tiveram seu pedido ignorado ou até mesmo rejeitado. Em outras palavras: foram censuradas também!

Outro exemplo: há os que defendem que a imprensa – alguns extratos dela, ou mesmo ela toda - não é imparcial, nem transparente, não reflete os sentimentos do povo... e aí nos surpreendemos com fatos recentes como o jornal Estadão sofrendo censura!

7 – O que poderia ser feito para minimizar a corrupção?

Curto e grosso: ressarcimento total por parte dos envolvidos e pena de assassino para eles. Como é que pode uma criatura dessas, por exemplo, ser capaz de desviar recursos destinados a merenda escolar e medicamentos?

8 – De que forma a Literatura ajuda no crescimento intelectual?

Assim: estimular no indivíduo desde pequeno, a começar pela família, e depois na escola, o prazer de ler. Se este, por vontade própria, deixar o videogame, o celular, a TV, o Facebook e o tablet em segundo plano para dedicar mais tempo e se deliciar com livros e revistas, novas histórias, novas espécies de bichos e plantas, novos lugares, culturas diferentes, a missão foi cumprida!

9 – Faça uma homenagem para uma pessoa

Gostaria de homenagear não uma pessoa, mas um grupinho muito especial, que fez meu dia seis de julho de 2013, dia do #VemPraPraçaJabuka, tornar-se inesquecível: as meninas do Recanto Menina Luz! Neste dia tive uma lição de vida. Elas apresentaram dois números de canto e dança, junto com a tia Val e o cachorrinho de estimação.

Nesta noite, fiz um desafio na praça, para que as pessoas descobrissem onde foram feitas duas de minhas fotografias. Pessoas de todas as idades quebraram a cabeça para adivinhar, até alguns fotógrafos presentes. E foram as meninas, numa demonstração de persistência e inteligência, que descobriram! Portanto, gostaria de deixar aqui o meu abraço e o meu carinho para elas, para a “tia” Val Barbieri e estendê-los para as demais meninas do Recanto e as “tias” e “tios” que dedicam seu tempo e talento a este projeto maravilhoso. Um abração do tio Gabriel!