CRISTAIS DO TEMPO: história da fotografia no interior do Estado de São paulo, da última década do século XIX à primeira metade do século XX - CAPÍTULO III

“É uma branca saleta

De tinhorões nas janellas;

Com o luar entram por ellas

Auras de sonho e violeta;

Alta e pequena; repleta,

De riso e sol, bagatellas!

Uma porção de aquarellas

Esse El-Dorado completa.

Em meio da cantarola

Dos canarios na gaiola,

Poeta sem saber como,

Mettido em ‘chambre’ de chita

Um moço á mesa da escripta

Rabisca, a lápis, um ‘chromo’.”

("Chromos" - B.Lopes)

D. Ophelia Bonora (1) (2) (3) (4):

Eu sou daqui, Palmeiras. Santa Cruz das Palmeiras. Meu nome é Ophelia Baston Bonora. Nasci em 30 de março de 1908. Meu marido, o Virgínio Bonora, nasceu em Palmeiras também. Virgínio era de 16 de maio, ele era nove anos mais velho que eu, de 1901. Faleceu em junho, 17 de junho de 1960. Faz 39 anos que ele morreu.

Ele começou por aí... Conheci ele num casamento, ele estava tirando retrato do casamento, aqui em Palmeiras mesmo. Ah, a festa! Era uma parente minha, mas eu não me lembro quanto, quanto tempo ainda, eu não me lembro quanto,

e ele começou a olhar pra mim, olhava... No dia seguinte, ele estava na casa de uns primos, por aí. E o primo dele falou: “ _ Meu primo tá olhando pra você!” E eu também olhei pra ele; aí, ele foi embora.

Ele tinha uma irmã que foi morar - que uns amigos nossos criaram - ... ele foi morar em Mococa, tinha um hotel em Mococa, “Hotel dos Viajantes”, em Mococa. E eu fui... Era ver a minha mãe brava comigo, sabe. Vamos deixar ela ir pra Mococa... fui uma vez. Cheguei lá e eles tomavam conta do cinema, os Bonora, os irmãos Bonora. Delfino Primo e os filhos: Íride, Virgínio, Ernesta, Alzira . Eles tomavam conta do cinema. Então, eu... quando fui no cinema, tinha intervalo antigamente no cinema, tinha música. Assim fui passear em Mococa, antes do casamento; e aí ele veio aqui, eu não o conhecia antes do casamento, não. Aí ele chegou e falou assim:

“_ Hoje à tarde, pode falar com o seu pai?”.

Eu falei:

“_ Pode.”

E na semana seguinte, ele veio... o pai dele falou com o meu pai. Meu pai deu um ano de prazo. Ele foi embora pra Presidente Prudente. Ele escrevia as cartas... ficou um ano. Eu fiquei sem ver o noivo durante um ano. Nós escrevíamos. Quando fez um ano; meu pai é daqueles italianos, daqueles italianos... Então, ele falou assim, pra mim: “_ ‘Fé’, (aqui eles tudo me tratavam de ‘Fé’) aquele rapaz não arranjou 36 mil réis pra casar? então larga dele”. Então, na última carta, eu escrevi: meu pai falou assim, se de tudo você não puder dar uma satisfação, fica o dito por não dito.

Então, ele veio, era dezembro. Eu falei:

“_ O que você veio fazer aqui?”

“_ Eu vim casar, mas eu não tenho nada pronto. Como é que seu pai falou assim? Como falou assim? Então, bom, fica marcado pra fevereiro. Eu venho.”

E ele tem um tio aqui... eles falaram com o padre e tudo, sabe.

“_ Tá marcado pra fevereiro. Em fevereiro eu venho.”

Quando foi em fevereiro, na semana de fevereiro, o pessoal perguntava pra mim:

“_ Senhora Ophélia, a senhora vai casar?”

“_ Não sei, acho que vou... não sei.”

Quando faltavam dois dias pro casamento, ele apareceu. E nós nos casamos, e fomos pra Presidente Prudente. Eu sem conhecer ele! 1929... 11 de fevereiro de 1929. Fomos lá, fomos lá, mas eu pensei que ele fosse morar numa casa e tudo. Não! Fui morar na casa de uma irmã dele, da Maria Zanchi. Ele tinha um bazar; ele vendeu pra casar. Ele não tinha esse trabalho [profissão de fotógrafo]. Aí, eu descobri só depois, que eu ‘tava lá... Aí, depois, ele arranjou emprego; ele fazia demonstrações com caminhões Naufaul.

Depois, fomos pra São Paulo. Aí, em São Paulo, ele trabalhou no... será que ainda existe a “Foto Santiago?!”, na Avenida São João. Será?! Avenida São João... Mas era de um outro fotógrafo, que se chamava Francisco Nudi. Esse Francisco Nudi vendeu para o Santiago, porque era um “lambe-lambe”, no Jardim da Luz... fotógrafo do Jardim da Luz, e ele vendeu pro Santiago. O Santiago comprou o Ateliê do Francisco Nudi; e o Virgínio continuou trabalhando com o Santiago, no Jardim da Luz. O pai dele [do Virgínio] era fotógrafo na Itália, ele já era fotógrafo, eu o conheci... nós tiramos um retrato de casamento; o pai dele se chamava Delfino Bonora... era italiano.

Nos 30 anos que nós ficamos em São Paulo, nós ficamos no Ateliê, na Rangel Pestana. Tivemos um Ateliê durante 2 anos, na Rangel Pestana. Era a “Foto Launor”, Laura e Norma; “Launor” era o nome das duas filhas, Laura e Norma. Então, o pessoal chegava e chamava:

“_ Seu Launor! Seu Launor!”

Não era Launor, ele se chamava Virgínio. Nós tratávamos ele de seu Launor.

Ah! Em 39, 39... passamos, mudamos, acho que pra Santana. Em 40, saímos de lá. Em 60, ele teve enfarte.

Nós tínhamos Ateliê, trabalhando como fotógrafo. Nós tínhamos um, porque nosso Ateliê era perto da Igreja Santana. O Bonora tinha muitos casamentos lá, em Santana, sabe? E tudo vinha pra tirar retrato lá, em São Paulo... costumavam sair da Igreja e ir ao fotógrafo.

Naquele tempo, retocava negativo... eu retocava negativo, eu ficava até zonza, você não vê? As pessoas [nas antigas fotografias] sem rugas?! eu dava acabamento nas fotografias, eu coloria, uma a uma. Ah, isso exigia! O Bonora retocava, naquele tempo, agora eles não retocam. Naquele tempo, ele retocava negativo, ficava sem rugas. O senhor não vê? O senhor não vê? Retoque dele, fica sem rugas, o retoque é dele, tá aqui! Essa fotografia aqui, essa é... era do ... que se matou, e o irmão dele mandou ela pra mim. Estava com ele, lá em Catanduva.

Aí está, o Alonso e a Clélia, pai e mãe da Marília Gabriela (5).

Eu ajudava a tirar as fotografias, arranjava as noivas. Tínhamos um Ateliê muito bonitinho. Tinha as colunas e as cortinas. As noivas chegavam, subiam, porque era um sobrado; ficavam duas ou três noivas na escada, quando era sábado. Daí eu saía, porque nós tínhamos outra sala. Um noivo saía por outra porta, já entrava outro casal! Eu e o Virgínio íamos carregar chapas... carregar chapas, carregava as chapas e eu ficava arrumando... arrumava as noivas. Eu retocava positivo; positivo, porque depois sempre aparecia uma ‘coisinha’ branca, uma ‘coisinha’... Eu aprendi a retocar junto ao Virgínio. Então eu retocava e coloria uma a uma; eu, junto com ele, eu retocava positivo. Retocar positivo é quando a fotografia está pronta; ficam umas manchinhas, alguma coisa que você precisa raspar, qualquer coisa... retoque de positivo. O negativo é a chapa, o retoque do negativo é na chapa. E o positivo retocava assim, como aqui. Aqui, nesse não, nesse já não tem nada pra retocar. Na chapa você retoca quando fica branquinho, um lugar branco, manchinha preta, aí com o retoque da chapa, tira no negativo, no retoque da chapa.

Lápis, lápis, lápis, não; tinha... eram uns lápis próprios pra fotografia. Eram uns lápis amarelos, eram próprios pra fotografias. Tinha a máquina, tinha ampliador, revelador... eram bacias, bacias assim, do tamanho dessas, assim. Põe as chapas lá dentro, assim, até aparecer a fotografia. É difícil, porque se entrasse a luz estragava a chapa. Tinha que ser no escuro. Num quartinho, uma câmera escura. Fiz muito, bastante, durante 30 anos! e coloria. Para os ‘pequeninos’ [fotos] eu coloria e punha na ... Eles vinham tirar meia dúzia, de ‘pequenos’, porque eles eram ‘pequenos’, 3 por 4, 3 por 4, e então eu coloria um e punha numa carteirinha. E vinham cinco, e um colorido, isso ‘chamava gente’, o pessoal vinha tirar retrato que só vendo! Eu coloria com pincel, com pincel, e põe trabalho nisso... Ah! têm ainda... têm aquelas das meninas. Já está muito velha esta fotografia...

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Contemplando e narrando-catalogando fotos:

O Virgínio era filho de fotógrafo, o pai dele morava lá [em Mococa]; ele era filho de fotógrafo. Ele [Virgínio] casou e ficou 20 anos sem ir a Mococa.

Esse não sei se ele combinou com o pai, tudo..., ficou vinte anos sem ir a Mococa.

Depois o pai dele mudou pra São Paulo, na Rua dos Patriotas. Ele tinha um Ateliê também, até 1929, 29... Ele [Virgínio] saiu de lá pra ir pra Presidente, quando ficou noivo, foi pra Presidente Prudente.

Ah! nasceram, ah! Não...

O Virgínio nasceu aqui [Santa Cruz das Palmeiras]... foi lá, ficou lá anos. Aí já estava com 28 anos.

Foi assim: Irmãos Bonora, então era “Irmãos Bonora”. Era o velho (não, tá aqui! o retrato dele com a sanfona). Era Fratele Bonora.

Eles já eram da italiana... Irmãos Bonora.

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Aí, fotógrafos, eles..., acho que moravam em Engenheiro Gomide. Mas depois foram pra Mococa. Irmãos Bonora, Fratele Bonora, os dois. E os dois tocavam harmônica. Este era o meu sogro, ele era cego de um olho. Esse é o Delfino Bonora. Sabe o que aconteceu? Eles, antigamente, acendiam as luzes da rua, de gás, de gás. Quando eles moravam aqui [Santa Cruz das Palmeiras], ele subiu no poste; de certo ele era empregado da Prefeitura, e eles acendiam as luzes da rua. Então o poste não acendeu. Meu sogro foi olhar assim..., subiu na escada e olhar assim, e esse aqui botou fogo por baixo e cegou ele, sem querer, é. Foi um desastre... Então, eles eram de lá, da cidade, eles..., acho que fundaram o cinema de Mococa. Eu acho que fundaram o cinema, não o atual. Eu acho que eles fundaram o cinema de lá, construíram. Ele que morava lá. Eles gostavam de Mococa, é uma cidade boa até hoje, não é?

Eu tenho o retrato do Tarquínio, porque foi um amigo dele. O Tarquínio foi pintar em São Paulo. Orlando Tarquínio, pintor renomado; ele pintou a Santa Casa de Mococa. Ele foi pintar toda a casa de lá. Quando fizeram a pintura, foi passado uma pintura. Depois eles subiram numa grade assim! Os pintores e o meu marido tiraram uma fotografia. Eu mandei pra lá, pra... Não sei quem é, no Museu de Mococa. Eu mandei pra lá, pra Prefeitura de Mococa.

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Entrevista junto à sra. Norma Maria Bonora (filha de Virgínio e Ophelia Bonora):

D. Norma:

Meu nome é Norma Maria Bonora. Eu nasci aqui, em Santa Cruz das Palmeiras, no dia 22 de março de 1930.

É, não... São, são os fundadores. É, são, são os fundadores...

Virgínio e um primo. Ele tinha um... Com o primo ele não ‘tava, não... É o Delfino e o Primo Bonora. Meu pai contava que as irmãs também trabalhavam no cinema, na bilheteria, ele sempre contava. É, as minhas tias...

D.Ophelia:

Não sei! A minha sogra se chamava Augusta. Augusta Terci...

D.Norma:

Tinha a tia Alzira, Antonieta e Ernesta, Maria e Elvira. Tudo em Mococa. Uma casada com o Zanchi, Antonieta Zanchi. Eles têm uma família Zanchi também. Eu, eu tenho uma tia que é casada com o Zanchi. É lá de Mococa; uma família de Mococa; então, Antonieta, minha tia, Antonieta tocava órgão, ela também tocava no cinema. E o meu pai, ele tocava de tudo. Ele tocava sanfona, meu pai. O pai tocava, também, tocava sanfona e piano, pr’aquele pessoal rico, de Mococa. Porque tinha muita gente rica em Mococa, tinha aquela sociedade, os fazendeiros... Então, quando tinha festa, eles convidavam:

“_ Olha, o convite é do Bonorinha, mas não esquece de trazer a sanfona!” Meu pai lembrava assim: só interesse, por causa da música: “_ De noite, você tem que trazer a sanfona.” - e o meu pai tocava no baile.

D. Ophelia:

Olha, ele gostava de música. Ele tocava piano e harmônica. As nossas filhas estudaram e se formaram no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, na Avenida São João, em frente ao Correio, lá onde estudou o Mário de Andrade.

D.Norma:

A nossa casa sempre teve música, muito música. O meu pai me ensinou música, antes de eu aprender a ler e a escrever. Então, ele me ensinava música, ensinava a solfejar tudo de música. Ele sempre gostou de música.

D. Ophelia:

Ah! Ele tocava qualquer música.

D. Norma:

Ele gostava daquelas valsas antigas...

D. Ophelia:

Valsas antigas!

D. Norma:

Naquele tempo...

D. Ophelia:

Ele tocava qualquer música.

D. Ophelia:

Ele tocava no cinema, em Presidente Prudente, é, o cinema. Depois tinha a orquestra, e ele ia tocar piano lá. E ele tocava, com certeza, porque... Ah! ele tocava..., ele tocava nos bailes!

D. Norma:

Ele contava que precisava molhar a tela do cinema, não é mamãe?

D. Ophelia:

É, antigamente molhava a tela, esquentava. Eu vi, também, aqui, no cinema. Eles esguichavam água na tela, porque esquentava muito.

Então, naquele tempo tinha orquestra. A orquestra ficava sentada ali, embaixo da tela e, quando antes de começar o cinema, eles molhavam, molhavam a tela com esguichos.

D. Norma:

Pra não pegar fogo!

D. Ophelia:

Eu acho que o foco de luz era forte, eu penso que seja por isso. Ah! eles nasceram dentro do cinema, de cinema eles gostavam de tudo. O cinema daqui [de Santa Cruz das Palmeiras] era do meu irmão. Agora ele parou com o cinema e pôs um Bazar. A Rádio também é do meu irmão...

Isso daí é em Mococa, é. Ah, isso é a Banda de Mococa! A Filarmônica de Mococa. Esse aqui, ele era o Maestro, o Chico, era maestro... O Chico era maestro. É ele, esse aqui, é esse aqui. Esse aqui!

D. Norma:

O outro Adriano. E esse aqui é o Virgínio, Virgínio... Esse é o Chico Fortunato, Chico Fortunato, maestro. Esse aqui é irmão dele [do Virgínio]. Ah, isso! É o tio Guilherme, Guilherme Bonora! É, são os três irmãos: o Adriano...

Não, é o Hugo! é o Hugo, mamãe! Esse aqui é o tio Hugo, o papai e o tio Guilherme, são os três mais novos. Hugo, Virgínio, o maestro e o Guilherme Bonora.

D. Ophelia

Três Bonora, e esse aqui é o maestro Chico Fortunato, Francisco Fortunato. Esse aqui é o Delfino e esse o Virgínio, e este (“eu estou esquecida!”) é o Primo Bonora, Delfino e o Primo. É o Primo Bonora, é irmão, são irmãos. Essas fotos devem ter sido tiradas aqui, em Palmeiras?! Engenheiro Gomide ?!... Acho que sim. Era o carimbo, o papel vinha da Europa. O papel a gente comprava... Veja, Caixa Postal... Isso vinha de fora.

Isso aqui é Mococa! Não me lembro mais não... Me lembro! Era uma rua lá, em Mococa... Eu não me lembro.

Guilherme, Hugo, Antonieta é irmã, Virgínio, Ernesta..., até que era pequena ..., feia, ‘era feia que nem um diabo’. Como é que se chamava a pequena, Norma?

D. Norma:

Alzira!

D. Ophelia:

Tirado no Ateliê deles, em Mococa. Clélia e Alonso Toledo, pais da Marília Gabriela. Essa aí é a minha irmã. É, eu me lembro quando a Clélia casou-se, mas eu não me lembro a data...

O Virgínio trouxe a máquina, mudaram pra Campinas. Esse aqui é o batizado da Marília Gabriela. Olha aí, eu batizei a Marília aí, na Igreja do Bonfim, em Campinas. Eu, segurando a Marília. É o batizado dela. O senhor se lembra da Igreja do Bonfim? Então, a Igreja. A Mariza, irmã mais velha, era casada com Alfredo Soares.

Esse é o Virgínio no Ateliê, na Rangel Pestana. Eu que ‘tirei’ dele. Ah! Era... É 1939! Aqui, eu! Olha aqui, eu trabalhando... eu ‘tirei’ dele e ele de mim. Tudo na mesma época.

Esse! Ele era menino, 17 anos, Primo Bonora, Primo Bonora. Esse primo, Avelino Bonora pensou que eu não tivesse essa fotografia, mandou pra mim, no Natal. Esse é o Virgínio Bonora, é..., naquela época o Studio já era dele. Olha o chapéu em cima do sofá! Foi, foi, foi..., é, eu tirei essas fotos no nosso Ateliê, na Rangel Pestana,“Launor”; [D. Ophelia aponta para a foto] ela que é a Laura, a outra filha que eu tenho, não estava aí. Norma e Laura..., aqui o Virgínio está ensinando as filhas. Estão estudando, estão estudando. É em São Paulo, na Voluntários da Pátria...

D. Norma:

Eu não lembro, não lembro. Eu tinha uns dezessete anos, deve ser isso, dezesseis, dezessete anos?!

D. Ophelia:

É na Voluntários da Pátria. Ah! bom essa foto aqui é da minha irmã, quando ela se casou, a Íride. Ela se casou, e foi lá em São Paulo. E eu vesti o vestido dela e tiramos o retrato.

Essa foi um empregadinho que bateu a chapa. As meninas como damas de companhia. As filhas, as próprias filhas como dama de companhia! Elas são as nossas filhas, a Laura e a Norma.

É essa foto aqui! Esse Studio aí era na Rangel Pestana. Então, tinha um empregadinho que ele falava: “ _ Mas D.Ophelia, como é que suas filhas foram no seu casamento?! Que brincadeira! Mas como é que suas filhas foram no seu casamento?!”.

Esse era nosso Ateliê.

Lilico, meu neto, meu neto, eu tenho um neto! É a cara do Virgínio. É a cara dele. Eu tenho um neto... meu neto é a cara dele!

D. Norma:

Ah! Esta é antes de casar, se não me engano foi em 1928, né, mamãe?! De Mococa, vem de Mococa. Mococa, de Mococa. Não, ele morava lá! Ele morava lá e mandou pra ela. Essa é... ele que mandou. Ah! Deve ser do Ateliê dele, lá em Mococa.

D.Ophelia:

É o Virgínio aí. Ele estava noivo aí. Ele era muito mocinho, você tá vendo? Aí ele era bem novo, não é?

Essa é lá na Rangel Pestana. A Norma é essa aí. Eu fiquei desenganada por tuberculose e sarei; sarei. Era falta ‘de bóia’; ‘falta de bóia’, porque nos passamos ‘aperto’. Nós éramos fotógrafos; naquele tempo ele era empregado, pagava aluguel. Então, quando ele voltou, nós abrimos o Ateliê. De empregado, no “Santiago”. Deve ter, deve estar lá ainda! “Foto Santiago”, na Avenida São João. Em frente à fotografia...

D.Norma:

Esta é daquele quarto que, antigamente... em...

D. Ophelia:

Olha, eu coloria... Pra conseguir independência, pra montar, é! Nossa, não foi difícil, porque têm amigos. Então, eu vim passear aqui, em Santa Cruz das Palmeiras, e ele recebia aquele ‘ordenadinho’; então eu vim passear aqui. Meus pais tinham uma padaria aí na esquina, onde hoje é a farmácia. Aí, um amigo do Virgínio, o Samuel Denardi, falou assim pra mim: “ _ Dona Ophelia, o que a senhora precisa? Eu tenho um irmão influente lá em São Paulo. Se a senhora precisar de alguma coisa procura ele, diga que eu mandei”.

Então eu fui ao prédio do Partido Constitucionalista, lá em São Paulo. Estava abandonado... Era um sobrado que tinha na Rangel Pestana, 1822. E eu falei assim: “_ Virgínio, você abre um Ateliê pra você, você tem competência, então, abre um Ateliê!”. Ele disse: “_ Mas aonde? Espera um pouco. Vamos, vamos lá ver!”

Aí eu escrevi pro irmão do Samuel. O irmão dele me ofereceu seus préstimos, e eu estava precisando. “_ Será que o senhor poderia nos ceder uma sala na Rangel Pestana, no Partido Constitucionalista, o sobrado está abandonado?”. Então ele falou assim: “_ Se meu irmão ofereceu, seu marido pode escolher a sala.”

Então, escolhemos a sala e montamos o Ateliê. Carregamos tudo nos braços, tudo! Montamos o Ateliê lá, primeiro só a sala, depois... Mas ele era bom fotógrafo! Ele levou as fotografias que ele tirava lá no “Santiago” e fez uma vitrine, de noite, fez uma vitrine em casa. Tinham seis ou sete fotógrafos no quarteirão. Em frente, tinha a “Foto X”. O senhor sabe que foi saindo todos e só nós ali ficamos. Ficamos nós e a “Foto X”. Depois, ‘tomamos todo o movimento’ [a freguesia], porque o Virgínio trabalhava bem. As fotografias eram bonitas... E bem em frente era outro fotógrafo.

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POR OCASIÃO DA GRAVAÇÃO DESTA ENTREVISTA, ATENDENDO SOLICITAÇÃO TANTO DA SRA. OPHELIA BONORA QUANTO DA SUA FILHA, SRA. NORMA BONORA, SUPRIMI ESTE TRECHO DO RELATO.

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D. Norma:

Moravam em Santana, moravam em Santana...

D. Ophelia:

Os nossos amigos falaram assim: “_ Por que vocês não vêm aqui pra Santana?” Aí, nós resolvemos montar, mudar pra lá, em Santana, abrimos o Ateliê. Aí foi bem, ficamos lá 30 anos.

D. Norma:

Ainda falta um, saímos da Rangel Pestana. Aí, meu pai resolveu montar um Ateliê na Rua São Bento.

D. Ophelia:

Ah,é verdade! O Virgínio montou um Ateliê na Rua São Bento. Mas aqueles sobradões, os mais antigos...

D. Norma:

Era um clube de jogo, não é, mamãe?

D. Ophelia:

Aí não deu certo, de jeito nenhum. Nós fomos morar na Água Branca, ele montou lá também, não deu certo. Aí que falaram: “_ Vem pessoal, vem pra Santana, vem aqui!” Então foi que nós mudamos, ele fechou o Ateliê na Rua São Bento e fomos morar lá em Santana...

D. Ophelia:

Voluntários da Pátria, 1958... Esse daqui é de Mococa, é o Zanque, Zanque, e eu, a Laura, e eu e o meu primo. Não em casa, não em casa. Agora eu não sei o que está escrito aí. Tá uma casa aí. Não, não aqui, lá em São Paulo, na Voluntários da Pátria... Ele é sobrinho, é sobrinho do Zanque. É uma família muito conhecida minha, meu primo..., eu pensei que fosse um trote do meu primo, que ele mora em São Paulo...

D. Norma:

Antigamente o que tinha, como é que chamam aquilo?! Os refletores não é que nem hoje, tem de ferro não, faziam pé de madeira, tá vendo mamãe!

D.Ophelia:

Um pé de madeira pesado, ele mesmo fazia tudo, pra por aqueles refletores, pra fazer a luz, o ampliador dele, ele mesmo que fez..., habilidoso. Ele era habilidoso, sabia fazer tudo, tudo que o senhor pensasse o Virgínio sabia fazer. A profissão dele, é... Tudo, as vitrines era ele que fazia, eu também ajudava; de noite fazia essas vitrines que ficavam voltadas para a rua, e depois acho que subia o corredor, era sobrado; quando nós tínhamos... subia assim. Tinha vitrines todos no sobrado, e ele que fazia. Nossa vida foi... a nossa vida foi... eu tô cansada; foi emocionante. Essa aqui, esse aqui é o padre que me casou. Isso aqui é de uma família rica que tem aqui; de repente, deu uma febre e ele ficou aleijado, sabe

Esse aqui é o padre Vigeli, este eu até pensava que o padre de Tambaú era este, mas não é. Este me casou, imagine quantos anos! 1929, 70 anos, não é? Foi esse padre que me casou, esse trabalhava na Escola, esse rapaz de repente ele ficou... deu uma febre e ele entortou tudo, é de família rica daqui, Marguti, em frente ao Boqueirão, esse eu acho que foi ele que tirou, o Virgínio que tirou. Este é Baston de Toledo, da Marília Gabriela, é! Esta não, não, a Clélia... Esse aqui é um irmão que ela tem, é ela e a Marília Gabriela, é! a mãe tá com um irmãozinho nosso que é dentista aí. É o casamento deles, o casamento antes da viagem, ela também taí, olha aí. Esse é o meu marido, o Virgínio e eu o Virgínio. É a mãe da Marília Gabriela, é; Clélia Variane, Clélia Antonia Baston, Clélia Baston de Toledo, na minha casa, nos fundos da casa onde moravámos, onde nós tínhamos uma padaria, onde era a farmácia agora. Nossa esse, não, esse é o meu irmão, também morreu, Arsênio Baston; Tem não... Duílio, a minha mãe e meu pai! É Gabriela Baston Pichionato, Richionato, não, minha mãe é brasileira e meu pai é italiano. É, ele italiano, veio com 16 anos, ele! esse aqui! Arsênio, também já morreu... Arsênio. Esse aqui! Ali! o dono da Rádio, é esse aqui, é meu irmão também, Duílio. Somos doze, nós somos em doze, doze irmãos. Essa aqui também morreu...

D. Norma:

Tia Ilde na esquina... A Ilde, né?! essa aqui. Olha, dos doze a minha mãe é a mais velha, e esse aqui o caçula, o Renan, mais novo que eu, esse aqui é o dentista, dentista aí, ele é o caçula.

NOTAS

1. Trata-se da primeira visita e entrevista junto à mãe e filha, isto é, no lar de D.Ophelia e D.Norma, na cidade de Santa Cruz das Palmeiras/SP, em 18 de março de 2000.

2. Quanto ao ambiente: uma sala de estar, relativamente ampla, com centenas de fotos espalhadas pela mesa.

3. A entrevista ocorreu no ambiente acima descrito; nesse caso, durante a entrevista, ambas narrativas, isto é da D.Ophelia e da filha, D. Norma, entrecuzam-se com descrições das fotos que se encontravam sobre a mesa.

4. Devido a problemas técnicos, as fotos do sr. Virgínio Bonora atinentes à presente entrevista estarão disponibilizadas nas próximas semanas. Por enquanto, apresento uma foto do acervo do fotógrafo e jornalista Lauro D’Angelo.

5. Trata-se de uma foto de Marília Gabriela, da famosa apresentadora, atriz e cantora.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2007.