CRISTAIS DO TEMPO: história da fotografia no interior do Estado de São Paulo, da última década do século XIX à primeira metade do século XX - CAPÍTULO IV

Quando eu era pequeno, como tantos outros, vi tantas cidades, cidades anchietanas: São Paulo; Itu; Pirapora do Bom Jesus de Aparecida... Vi tantas cidades, cidades das bandeiras paulistas: São Carlos, Ribeirão Bonito... brinquedo andradino: “_ Livro de férias escrito no meio de mangas, abacaxis e cigarras de Araraquara.” Eia, Anhanguera! De grão em grão experimento o passado...

“Bem ora a fronte branca e veneranda

Do tremulo ancião

Pousasse, acabrunhada, sobre a mão

Trigueira e descarnada,

Assim como quem anda

A imaginar a morte muito perto,

Elle sorria sempre, — rir incerto!

Dando ao semblante uma expressão, um brilho,

Como luz de relampago em sudário,

Ao infantil espirito do filho,

Ao requebro mavioso do canário!

Tanto que, si o achava na gaiola

Mudo e arrepiado,

Quando voltava do labor diario,

Ia chorar o velho na viola

Um languido estribilho...

E o bom cantor erguia o bico aberto!

Melancholico, então era o concerto!”

(Chromos – B.Lopes)

PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA JUNTO AO SR.HERMÍNIO FARACO*

Meu nome é Hermínio Faraco, com “agá”, é Hermínio com “agá”. Nasci em Três Barras, em Mococa. Três Barras era uma fazenda. Na época que eu nasci, acho que tinha mais movimento que Mococa, mais movimento do que aqui, era melhor que Mococa. Três Barras é próximo, é perto. Mas era o começo da cidade. Eu nasci em 19 de abril de 1913. O movimento deve ser por causa da colônia italiana, porque os italianos não paravam de vir pra São Paulo, é isso, não paravam de vir pro Brasil, vinham pra São Paulo, Mococa; eram os focos deles. Meu pai era tradicional, nascido na Itália. Minha mãe era filha de italianos, meus avós maternos eram italianos, Maria da Graça Garófalo Faraco e Emílio Faraco.

Pouquinho de tempo passei na fazenda. Eu me lembro que no carrinho que a gente fazia amarrava um tijolo no barbante e puxava. Ah, minha mãe! Que atraso: pegava uma caixinha cheia de terra, fazia que nem caminhão. Brincando... o nosso brinquedo era esse. Nós fazíamos rodinhas com o chuchu, colocávamos palito de fósforo no meio... Eu me lembro só dessas coisas, não tinha desses brinquedos que tem hoje, não.

Nós mudamos pra cidade. Lembro daquela casa, que hoje é a sorveteria, do lado do Teatro Municipal de Mococa. Tudo aquilo era do meu avô, tudo aquilo foi vendido, era um patrimônio do Miguel Garófalo, avô materno. O paterno eu não conheci, porque ele morava na Itália. A casa... Eu vou recordar... Eu recordo! Naquele casarão, aquele casarão, lá, que eu atravessei... era um casarão velho, muito grande, aquele, o velho reformou, passou por diversas reformas o casarão, com telhado jogando água pra calçada. Ali tinha água na calçada, porque não tinha cobertura. Naquele tempo era tudo telhado corrido, que nem cobertura de paiol que faziam, me lembro como se fosse hoje... No sábado, parecia festa. Pode ver que ainda hoje têm nas calçadas umas argolas de ferro que amarravam os cavalos. Por curiosidade, passe nesses lugares mais antigos e o senhor vai ver que ali têm umas argolas de ferro.

_ “Meu filho — pergunta papai — Pra que servem essas argolas?” _ “Pra amarrar os cavalos.”

Quem chegava primeiro ali, pegava a argola. Era um casarão comum. Ele ainda existe, mas passou por muitas reformas... ele ainda existe. Era chão de tijolo e cimento. Usavam muito cimento naquele tempo, só que o cimentado era perfeito, porque não tinha cimento nacional, o cimento vinha da Alemanha. Era cimentado, em vermelho, não trincava, ficava bonito! Era cimento especial. Da Alemanha, vinha o cimento, em barricas. Uma ocasião, a gente conheceu esse cimento, ‘só contava’ o cimento, falavam o nome do cimento, não me lembro. Aí misturava com areia e fazia aquele cimentado que as casas tinham. Tudo cimentado...

Em frente à casa do Garófalo tinha uma casa de luxo, que era de um fazendeiro chamado Zeca Manuel. Até hoje ainda existe aquela casa, só que passou por reformas. Ali morava o seu Zeca Manuel, fazendeiro, um velho, careca. Eu me lembro como se fosse hoje... Ele usava boné. Em volta da Igreja era reduto dos ricos, como é ainda, até hoje, dos ricos. Faziam as casas perto da Igreja.

Eu fiz o Grupo Escolar no Barão de Monte Santo. Eu ia descalço pra escola. Naquele tempo, não usava sapato. O moleque punha um bornal nas costas e, com os livros, ia pro Grupo. Bornal é... não tinha bolsa, só rico que tinha pasta. Um ou outro era chique, quando tinha pasta. Eu pegava o bornal, enfiava os livros lá dentro e ia pra escola. Os mestres eram bons, mas os alunos não eram bons, porque educação... era primitiva. Os alunos não tinham educação. Precisava sempre examinar as unhas, se estava com as unhas cortadas, cortar o cabelo e com roupa limpa. Poucos meninos faziam isso. De um modo geral, não tinha Ginásio, não tinha seleção, era tudo, como diz o caipira, ‘um pau só’, ‘um pau só’..., tudo misturado. Era difícil ver um aluno calçado, tudo descalço, não usava mesmo. Os pais, eu falo os pais, de um modo geral, compravam sapato, na época de festa. O menino usava duas ou três vezes e depois precisava jogar fora; o pé crescia, não servia mais. Sapato não usava naquele tempo, não usava mesmo, só quando era dia de festa. Então, quando o moleque era muito pobre, eu me lembro que eles tinham uma invenção: um usava um pé, um o outro, um punha o direito e outro o esquerdo.

Os livros, os livros são em série, eu me lembro até hoje. Em série: primeira série, segunda, terceira e quarta série. Era “Braga”, é, tinha a primeira série, depois segundo ano, segunda série, terceiro ano, terceira série, quarto ano, quarta série, depois acabava a carreira. Depois é que veio o Ginásio. Aqui em Mococa, não tinha o Ginásio. Depois veio o Ginásio, o Ginásio... Barreto Coelho, ele foi o meu professor. O Ginásio era ali, no Largo do Mercado, um casarão. Derrubaram e fizeram um largo ali, um estacionamento.

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No jornal “A MOCOCA” – edição 973, de 19 de setembro de 1915, lê-se a seguinte chamada:

“... 7 de setembro e discurso proferido pelo orador official José Barreto Coelho (Grupo Escolar de Mococa)...”

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Retomada da narrativa do sr. Hermínio Faraco:

Eu me lembro, tinha muitos bons professores, todos bons professores: João Guimarães, professor Barreto, Barreto Coelho, professor Godoy, que é o pai do João Godoy, você não conhece? O professor Godoy é pai desse atual diretor do Ginásio de Mococa. O pai dele era diretor lá. Seu Godoy..., eles eram bons, sabe. Você precisava ver que esforçados pela educação, pra poder estudar. Hoje mesmo, eles [os alunos] vão limpinhos. Naquele tempo, ‘faziam revista’ pra cortar unha, cabelo..., era muita pobreza. Os mestres cuidavam mesmo, com afinco, com amor, eles eram muito bons mestres, tinham paciência. Era um verdadeiro pai adotivo.

Meu pai era funileiro. Emílio Faraco, funileiro. Tinha funilaria em frente ao Pedro Borges, relojoeiro, na Visconde do Rio Branco. Ali era uma selaria, chamava “Selaria Soares”, uma selaria chique, fazia arreio. O Pedro Soares era um mulatão, casado com uma filha de italiano, uma mulher bonita. Só que ela era muito pobre e ele era um homem abastado. Ela casou, mas isso não vem ao caso. Ele tinha uma selaria, muito ‘bem montada’. Meu pai era funileiro. Funileiro era aquele que todo mundo chamava de folheiro. Meu pai tinha uma oficina, separada, em frente ao Soares. Meu pai fazia canequinha, bule, panela... Naquele tempo, não tinha alumínio, foi antes do alumínio. Depois que veio o alumínio. Todos os filhos ajudavam o meu pai, todos, seis. Três homens e três mulheres.

Eu me recordo de tudo... lamparina, caneca, bule. Quando punha um empregado, um aprendiz, vinha sempre do interior. Só o filho dos donos da oficina tinham liberdade de estragar material. Tinham medo, então a gente aparecia mais, se engrandecia, mas não era isso, não... Eu me recordo da injustiça. Funileiro, antigamente, era folheiro, hoje funileiro chama quem trabalha com carro. Naquele tempo não tinha isso; folheiro... canequinha, bule, lamparina, faziam muita lamparina, porque no trabalho não tinha luz elétrica, era tudo iluminado com querosene. Nossa Senhora, eu me lembro! Começava a escurecer. Tinha um português que se chamava... ?! A iluminação da rua era acesa com um bambu, um fogo, punha fogo lá e acendia, com gás. César! César Português, nós chamávamos. Ele se chamava César Português, ele era o candeeiro.

Fiz o Grupo Escolar, aí meu pai me levou pra Santos. Tinha um tio lá, em Santos, que era ourives. Fui aprender o ofício com ele. Uns dois anos, mais ou menos, eu ‘tava lá, em Santos, quando caiu o Monte Serrat, em mil novecentos e... Não me recordo. É, aqueles bondinhos. Mas não foi bonde, caiu um pedaço do morro, despencou, matou gente soterrada. Eu ‘tava lá, na Rua Dom Pedro II, que faz divisa com a Praça Mauá, até hoje. Eu trabalhava ali, com o meu tio. Eu era moleque, vi aquilo desmoronando..., chovia, enchia a rua de terra, matou gente, foi um desastre. Fiquei dois anos em Santos. Eu era moleque. Eu trabalhava de ourives, com meu tio que nunca tinha vindo pra Mococa, eu é que tinha ido pra lá. Nunca vim visitar meus pais, meus pais é que iam pra lá. Um dia, ‘deu na cabeça’ de meu pai, de me chamar. Chegou, veio junto com um cachorro policial, muito bonito. Meu pai de chapéu novinho; o cachorro brincava com o chapéu dele, o sapato jogava pra cá... Então falei:

_ “Não volto mais pra casa, não! Aqui é que eu vou ficar, aqui tá bom.”

Aquilo estragou a minha carreira de ourives, porque eu não queria voltar mais. Aí fiquei com meus outros irmãos. Eu ia ser ourives, uma profissão melhor do que funileiro. Então, ficaram três funileiros, eu e mais esses dois irmãos, ficamos os três, até morrer meu pai, no mesmo endereço, Caetano e Mário.

Quando caiu o Monte Serrat? Deixa ver se eu lembro... 1931... 29! Em 1929, eu ‘tava em Santos, na derrocada do café. Queimava café em Santos, queimava carneiro na Argentina, porque tinha produção e não tinha consumo. Foi a derrocada, foi uma crise medonha, ‘quebrou’ todos os fazendeiros. Foi por isso, ‘tava em crise, coisa igual eu nunca vi. A crise de 29 foi uma coisa triste de recordar; fazendeiros sem cigarro, uma coisa medonha, miséria...

A viagem... Um dia inteiro, o dia inteirinho, o dia inteirinho, o dia inteirinho... Vinha de trem, fazia baldeação: Santos, São Paulo, depois parava em Campinas, fazia baldeação, ficava umas quatro, cinco horas sentado lá no banco da Estação da Mogiana.

Eu morei em Gália, na Alta Paulista, Bauru. Tinha quatro estradas de ferro: Paulista, Sorocabana, Mogiana e Noroeste. Bauru, foi...

De Santos pra Mococa, de trem, a gente subia a serra. Em Campinas era a Mogiana, tinha a Mogiana também muito ruim, péssimo. Nossa Senhora! quase o dia inteiro pra vir de São Paulo até aqui, era o dia inteiro, um dia inteirinho. Saía cedo, chegava de noite.

Tinha quatro automóveis aqui em Mococa, naquela época. Eu me lembro, que era terra, tudo terra. Estrada quando era asfaltada, eles falavam: estrada do governo. Não falava estrada asfaltada. Tudo, como daqui a Campinas era estrada do governo. É, pode falar sem medo, que era isso aí. Teve uma estrada do governo que era boa...

Aí fiquei em Mococa. A Carmem Lúcia nasceu em Gália. Porque deu aquela crise aqui, que então ‘pegamo o rumo’. Em 29, a crise do café, ainda. Porque eu não tinha dinheiro, o café não tinha valor, café jogava tudo. Isso porque tinha campo pra mais gente. Agora, se todo mundo viesse pra Mococa, fazer o quê? São Paulo, bem ou mal, se acomodava. Quem ‘tava lá na fábrica... O jornal noticiava... não é que facilitavam, tinha mão de obra. Tinha serviço, e aqui não tinha. Gália, em mil novecentos e vinte e nove, em vinte e nove... Eu fiquei menos [em Mococa], porque eu fui pra Santos. Minha família ficou mais tempo. Em Gália, eu fiquei de 29 até 1940... Pouco me lembro. Tinha oficina de radiador [oleiro], fazia lamparina, bule... Fiquei, fiquei muito tempo em Gália. A Carmem Lúcia nasceu lá, o Casemiro, meu filho, também. De Gália eu fui, eu vim pra cá, pra Mococa, voltei pra cá. Voltei porque tinha meu irmão que morava aqui.

...desmanchou a casa. Meu irmão mais velho, Caetano, em frente ao Pedro Borges, no mesmo lugar, meu pai ‘tava vivo. Ih! Mas foi feio, viu, a crise de 29. Nossa Senhora, só dava notícia ruim! Queimava carneiro, já pensou! Colocava fogo nos pastos, queimava tudo na Argentina.

A Borbora foi vizinha nossa, em frente à nossa oficina. Ela morava em frente, morava em frente à oficina.

Meu pai era um homem que ‘teve pouca escola’, mas que, modéstia à parte, ele era inteligente, ele lia muito, ele assinava “O Pícoli”, “O Fanfulha”, jornais italianos, dois jornais!por dia; não era qualquer um que assinava...

Meu pai, quando foi operário, ele assinava e lia. Então, ele trabalhava à noite, também. Juntava aquela italianada na oficina, e eu lia, eu lia pra eles, mas eu não entendia ‘patavina’. Ai, quanta besteira eu falava! Hoje eu leio correntemente o italiano. Me dá qualquer jornal aí que eu leio, porque entendo também a língua italiana. É, de moleque, eu ficava lendo. A italianada... tudo em volta. Coitados; tristeza, saudade da terra. Aí, o meu pai ‘fazia a escrita’ da Borbora*, fazia pra padaria, que tinha lá na esquina da Borbora. Tomás Fusquilo. Fusquilo, Fusquilo é italiano. Meu pai ‘fazia escrita’; não sei como é que ele aprendeu, ele ‘fazia escrita’ pra eles, pro Tomás, e fazia pra outros que eu não me lembro mais. Com aquelas mãos, tudo calejadas de trabalhar. Mesmo assim, ele ‘fazia escrita’, porque tinha fiscais, mais de rua, não é? Então, às vezes, eu não podia sair do estabelecimento, de jeito nenhum. E meu pai fazia... foi um herói. Ficou viúvo em 1918, com a gripe espanhola. Minha mãe morreu. Ele criou seis filhos. Foi em 1918, em Mococa mesmo. Foi uma epidemia que arrasou com o país. Aí, ele não casou outra vez, não. Criou os filhos todos aqui. Madrasta judiava dos filhos... Foi um herói, trabalhava ‘que nem um louco’...

Eu não sei como é que ele aprendeu. Acho que é porque ele teve casa de comércio. É que os primeiros fundadores de Mococa foram Faraco e Garófalo. Garófalo era o sogro dele e Faraco era ele. Foi um dos primeiros de Mococa, aqui é terra de capitalista; porque têm esses ‘fazendeiros grandes’. Eles não gostam que a gente fale isso, querem ser ‘o dono da bola’. Mas pra mim, eu pouco incomodo. Quem descobriu, quem desenterrou, não refresca nada, não? Não vê que eles não comentam? Mas os primeiros fundadores daqui foram Faraco e Garófalo.

Eu nasci em Três Barras. Eu nasci lá. Lá tinha fazenda, movimento. Não sei porque, mas quem era o ‘chefão’, na época, lá, era o Ítalo Mazieiro. Tinha café, o café sempre foi o forte... Não lembro, não. Há pouco tempo, ainda, eu contava a história das Três Barras, mas agora ‘tá começando a apagar.

Nossa Senhora, aqui nesta esquina! Ele era fotógrafo, parece que ele tinha só uma vista, era cego, de um olho. Eu sei que ele tinha um problema na vista. Ele morou nesta esquina, aqui. Nossa Senhora, eu era moleque! Olha, ele veio da Itália, o velho. Não me lembro, eu sei que nós chamava de Bonora, os filhos dele. Ele era fotógrafo. Aí na esquina, essa casa foi dele ... Aí, na Visconde do Rio Branco. Desce da minha calçada, a primeira casa da esquina era a dele. De lado, porque a minha casa faz frente com a rua Visconde do Rio Branco. Aí em frente, de lado, é do lado... Nossa Senhora! Mococa era uma família só.

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1) No jornal “A MOCOCA” – edição 700, de 05 de dezembro de 1909, lê-se o seguinte editorial:

“CINEMA BIJOU – Com duas excellentes casas...

Srs. Maglioca, Bonora e Magalhães...

... exibido o film d’arte...”

2) No jornal “A MOCOCA” – edição 849, de 24 de novembro de 1912, lê-se a seguinte propaganda:

“Irmãos Bonora (photógraphos)” – página 4

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Retomada da narrativa do sr. Hermínio:

Não, o Bonora não era o dono do “Hotel dos Viajantes”, era Lucindo Gozo. Lucindo Gozo... portão... eu não me lembro, não. Não! Eu lembro dele..., do Bonora, era fotógrafo, tirava fotografia..., falava ‘tirar retrato’. Eles punham aquela máquina, aquele pano preto, ficava quase uma hora pra acertar. O moleque ali... ‘olha o passarinho’. Mas levava um tempão, Nossa Senhora! Era o velho [Bonora], o pai. O filho era um colega da gente. Era um ‘molequote’; o velho é que era o ‘fotógrafo bonzão’.

Lembro da banda de música, tinha duas bandas: uma do Pascoal Galhardi, que o fundador do [Teatro de] Variedades, e outra... a outra eu não me lembro mais. Esse que tinha duas bandas, ele era alfaiate, dedicado. Eu vou lembrar o nome dele... Franscisco Fortunato! Tinha uma banda e tinha a do Pascoal Gagliardi. A Filarmônica Mocoquense era outra.

Jamil Mateus era mais pra cá. O Jamil é meu colega. Honório Ferreira... Bonora, com ele, eram da mesma época, pouquinho mais novo...

Tirava com qualquer um. Naquele tempo não usava quase fotografia. Tenho a caixa, ‘tá lá, na [casa da] Carmem, no corredor, mostra as fotografias. Na casa da Carmem têm muitas fotografias na parede. O filho do Bonora também tirava fotografia. Ele era músico, músico, boêmio, lembro o apelido: Tim, Tim Bonora. O Tim casou... Ah! agora eu não lembro mais. Sabe, porque eu passei uma fase fora de Mococa, então tudo ficou misturado. 1929, 28?! Eu ajudava... eu não posso falar, porque depois eu mudei pra Gália, e desmantelou aquelas famílias antigas, desmantelaram, desmantelou a família, separou. E o mocoquense separou, cada um foi pra um lado, não tinha serviço, passava miséria. Foi uma derrocada feia.

Conheci o Lauro D’Angelo. Quando ele veio pra cá, eu não estava aqui. Depois eu voltei, peguei um período dele, ele era muito atuante. Ele era repórter, fotógrafo, na rua Barão de Monte Santo. Foi, é ali, mas antes era na rua de cá, depois do muro... Barão de Monte Santo, Ateliê Fotográfico... Eu não lembro, porque eu não morava aqui. Eu vim aqui, eu passei muito tempo fora, muitos anos. Quando eu vim pra cá, ele já estava lá, ele gostava muito de esporte. Nossa Senhora, futebol era com ele! Agora, quando o “Radium” foi pra Primeira Divisão, eu não ‘tava em Mococa, eu morava em Garça, perdi a festa.

Todo dia ele vinha pedir dinheiro pra uma coisa, pra outra. Conheci o Lauro. Ele era muito inteligente, ativo, aquele tipo de paulistano, sabe, afobado... lembro perfeitamente dele. Ele usava gravata borboleta, preta. Só que ele usava gravata borboleta, aqui, em Mococa, sempre bem vestido. Eu achava engraçado aquilo, parecia uniforme, tô vendo ele na minha frente, agora, Lauro D´Angelo, afobado, sempre, em esporte, é, atuante. Parecia, sempre, que estava com pressa.

Eu não lembro, não, a família do Lauro, não é? Essas duas fases que eu não tive em Mococa atrapalhou tudo, tudo, no meu calendário. Morei em Gália, morei em Garça, morei em Santos; pra Santos, eu fui na adolescência. Gália, eu casei lá. Depois, eu mudei pra Garça, fiquei cinco anos em Garça. Depois de Garça, eu vim pra cá. Garça é o lugar que eu fiquei menos tempo. A minha filha caçula nasceu lá, Arlete, você não conhece ela? Ela é dentista, mora em São José do Campos.

*Parte I da entrevista concedida, no lar, pelo sr. Hermínio Faraco na data de 10 de fevereiro de 2000, em Mococa/SP.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2007.