Archidy em EQUINÓCIOS.

QUINTA-FEIRA, 21 DE NOVEMBRO DE 2013, 20h00, ARCHIDY em EQUINÓCIOS. Apresentação do cd solo do artista. Músicos convidados: Wellington Regadas (violão e voz), Fábio Cavalcanti (violão e guitarra) & Tomaz Aldano (bongôs). No Clickpizza Restaurante Bar, na Rua Golfo de Wash, 21 – Intermares (próximo ao Onda Mar Shopping). Informações: 3248-1671

ARCHIDY PICADO FILHO em EQUINÓCIOS

Além de realizar trabalhos com as artes visuais e a Literatura, você também compõe músicas e – dizem seus parceiros musicais – é um “excelente instrumentista”. Quando começou seu envolvimento com a Música?

Dizem que um feto pode ser influenciado pela Música ainda no útero materno. Sendo assim, posso dizer que fui influenciado por esta arte desde antes de sair da barriga de minha mãe, já que sempre vivi num ambiente musical. Meu avô, Francisco Picado, era músico, maestro compositor e, na qualidade de fundador Presidente da Sociedade Paraibana de Música, tendo sido primeiro Presidente da Ordem dos Músicos do Brasil na Paraíba, foi co-fundador da Orquestra Sinfônica da Paraíba nos idos fins dos anos de 1945. Dessa forma, a Música me chegava não apenas pelos sons que eu ouvia sempre em casa, vindo da vitrola de meu pai, mas também dos instrumentos que existiam no ambiente; como um violão, um bandolim, um cavaquinho, um banjo, uma flauta transversal (de prata!), um violino, uma sanfona e um piano que meu pai tocava sempre.

Seu avô, então, foi quem mais lhe influenciou a Música.

Não exatamente. Claro que ele e meu pai me influenciaram com todas aquelas maravilhosas compulsórias audições a que me submetiam em casa – tendo as maiores influências de meu pai me levado as artes visuais e à Literatura, como também minha avó paterna, que escrevia crônicas e poemas – mas minha influência maior à Música veio de um primo pernambucano, Lailson, hoje um cartunista internacionalmente conhecido. Havia também influência de meu primo materno, o jornalista Walter Galvão que, quando jovem, era vocalista de alguns grupos de rock e tinha uma boa discografia em casa. Mas, na adolescência, passava as férias escolares na casa de Lailson, em Recife, que, recém-chegado dos Estados Unidos, trouxera uma pilha de discos e uma guitarra pra casa, além de ter um violão e uma craviola (ou “viola de 12 cordas”), meu instrumento de cordas preferido. Lailson é amigo de Paulo Rafael, maestro-guitarrista de Alceu Valença, que eu ouvia tocar com Lailson anos antes dele entrar pro grupo de Alceu Valença. Também apaixonado por Música, especialmente pelo rock norte-americano e inglês dos idos anos 1960/70, nesta época Lailson gravou um disco com os músicos Robertinho do Recife e Lula Cortes, o SATWA, um disco raríssimo e, hoje, muito bem cotado nos Estados Unidos; um disco experimental onde, a partir do título, SATWA, identifica-se a grande influência da cultura POP hippie psicodélica orientalista daquela época. E aí foi basicamente com a influência de Lailson que comecei a tocar violão e a ouvir boa parte das produções POP internacionais, além de muitas músicas experimentais que se produzia então.

Somente agora, aos 52 anos de idade e 35 de produções artísticas, você nos apresenta um disco com músicas suas e interpretações de músicas de outros, como Milton Dornelas e Zé Trovão, além de duas músicas de Chico César que ainda não estão na seleção constante no disco atualmente. Apesar disto, você sempre esteve presente entre artistas que, hoje, são referências musicais entre os talentos contemporâneos da nova música produzida na Paraíba hoje.

É verdade. Desde que me dispus a sair de casa e participar de apresentações e shows de companheiros músicos eu já toquei em companhia de uma porção de gente boa. E não apenas entre compositores intérpretes, mas entre instrumentistas intérpretes; como os baixistas Xisto Medeiros e Sérgio Galo; o grande baterista Glauco Andrezza, tanto quanto junto com Beto Preha, outro grande baterista; ou com Hélio Medeiros, tecladista tão criativo quanto são Clodoaldo Pessoa e Aurélio Bustorf. Enfim, já toquei com um punhado de gente boa, mas sempre me pediram para ouvir algo gravado do que eu tocava durante intervalos de ensaios, ou em tocadas informais. Confesso que não sentia muito a falta de ouvir gravado algo exclusivamente meu porque ouço todas as minhas músicas, toda minha sonhada sinfonia se processando em minha cabeça!

Como é isso?

Um amigo de infância ficara impressionado sobre como Chopin, sendo surdo, escrevia suas músicas. Esclareci-lhe que isso é possível porque, para o compositor, a Música não vem de fora, mas de dentro dele! Mas demorei a gravar meu disco – que ainda gravo – não apenas porque, para mim, do ponto de vista financeiro, sempre tenha sido difícil gravar um CD, mas porque sempre senti que a música de fulano ou de sicrano, que ajudei a arranjar e executei em estúdio, é em parte minha também, me satisfazendo participar de momentos e obras musicais que considero emocionantes em minhas convivências com os amigos amantes da harmonia.

Mas aí, finalmente, EQUINÓCIOS!

Resultado das parcerias produtivas entre mim e o também músico Fábio Cavalcanti. Dono da gravadora produtora Photogramma, de forma irmanada, há uns três anos ele vem me ajudando a gravar alguns de meus experimentos sonoros, antigos e recentes, a compor o disco, enfim. E tenho material para uns dez discos, fora aquela sinfonia que ando compondo na cabeça – apesar de, como sempre, andar dividindo dedicações à produção visual e literária, quer como ilustrador, quer escritor ou como Coordenador de Literatura e Memória Cultural da Fundação Espaço Cultural da Paraíba a cumprir deveres governamentais de fomentar e disseminar a produção literária paraibana.

Fale-me sobre o nome do disco, EQUINÓCIOS: por que este nome?

Os artistas têm sempre a necessidade de intitular suas obras e então a palavra EQUINÓCIOS veio a justificar a música que dá nome ao disco, já que a estrutura de seu arranjo de base se fundamenta em duas partes de tempos iguais; como acontece num equinócio solar, quando o tempo de duração do dia do planeta é exatamente igual ao da noite. Daí, também, a marca visual do disco. A música ainda não está pronta, como de resto outras músicas do CD (ainda em desenvolvimento, como sempre digo), e o público interessado em conhecer meu trabalho musical levará para casa o disco-ingresso individual, adquirido por R$ 15,00, ficando ao mesmo tempo com um registro histórico do processo de criação da obra e com um ingresso permanente a novas apresentações de EQUINÓCIOS, aqui ou em outras cidades.

Não soube ainda de um músico que tenha apresentado seu disco “em desenvolvimento” ao público, nem que ele pudesse ser usado como ingresso para qualquer momento de sua apresentação.

Como artista, sei que não é possível não estar sempre ocupado em descobrir, inventar ou mesmo procurar “criar” ideias e coisas novas, e então estendo a atenção aos experimentos e resultados de minha criatividade em todas as dimensões possíveis da dinâmica de meus trabalhos.

Gostaria que você me contasse a história das músicas do disco. Como você disse que sempre haverá surpresas em edições posteriores da obra, uma curiosidade sobre o CD é que a música “Olha lá Alá” não está na primeira edição do disco, estando agora “na segunda”. É verdade que a música foi censurada?

Sim, mas ela não foi oficialmente censurada, mas “autocensurada”, já que concordei com meus parceiros produtores do disco que a música OLHA LÁ ALÁ, se publicada, pode mesmo promover minha “explosão” artística – embora não uma explosão de sucesso e glamour, como se espera que artistas conquistem e como nunca esperei conquistar, mas uma explosão destrutiva, expressão de uma possível retaliação talibã resultante dos que manifestam a “ira de Alá aos que o desrespeitam”; no caso, um ataque a minha pessoa, o autor da música então considerada “maldita”, e a membros de minha família – como a de todos os que auxiliaram na produção da obra, já que, depois de ouvi-la, todos sairão cantarolando a música por aí. Embora OLHA LÁ ALÁ possa mesmo ser submetida a muitas interpretações perversas e, portanto, perigosas, como qualquer outro enunciado, não poder dizer, cantar ou escrever o que quero me é inadmissível, mesmo ciente das consequências. Mas não creio haver na música expressão mais incômoda, mais intransigente e mais “desrespeitosa” que a palavra “peido”. Quando digo que Alá anda “soltando peidos inflamados sobre as terras devastadas pelo Cão”, sendo Seus peidos fogos purificadores sobre a destruição e toda impureza provocada pela crueldade associada à ambição mundana.

Concordamos que a palavra “peido” não é muito elegante, como não o é o ato de soltá-los.

A objeção ao peido em público, e em alto e bom tom – como é preciso que saia às vezes – não está no som que ele faz ao ser liberado, som que, segundo Salvador Dali escreveu em seu “Diário de um gênio”, pode fazer rirem os mais deprimidos num velório. O peido incomoda pelo regular mau cheiro com que impregna o ambiente. Claro que a explicação para a palavra “peido” na música “Olha lá Alá” não está nela explícita, mas a usei – esclareço aqui – para referendar a naturalidade do acontecimento flatulento, quer na dimensão humana quanto na cósmica, que ganha status de “divina” quando referenda um “Deus” e o primeiro momento expressivo de Sua Criação: o “Big Bang”, ou Seu “big-flato” – como o reconheceu o filósofo francês Edgar Morin, quem mais me inspirou a considerar explosões cósmicas como os “peidos de Alá”, sem que pretenda com isso ridicularizar tal formato de “Deus”. Mas a música “Olha lá Alá” quer mesmo lembrar a ignorância daqueles que crêem ser sua missão aniquilar certas manifestações da Vida com explosões, ao invés de, como faz a própria Vida, a despeito de suas eventuais intempéries naturais, “explodir” ou, melhor dizendo, eclodir quase sempre em harmonia e beleza.

E no meio de toda essa visão cósmica integralista a música “Aleluia” revela sua condição de crente em Deus?

Tive inevitável formação cristã, mas, entre outros estudos filosóficos e espiritualistas, fui fundo no cristianismo de Jesus e me reconheci incapaz de representá-lo. Mas, quando jovem esperançoso, ousando tentar ser cristão (ou mesmo um “’santo’ dos últimos dias”), tive que recuar no tempo séculos antes de Cristo e apreender, com o fértil oriente antigo, o significado de certos ditos iluminantes e as ações de seus emissários correspondentes. Porque, de fato, superficialmente considerando, “Alá” não é representação do mesmo “Deus” que se mostra como Krishna ou Jesus Cristo. E mesmo que, no fundo no fundo, tenha apreendido que “tudo é um”, ou “o Um”, ou “a Vida” então considerada como “Ele, o Pai” – já que foram patriarcas os que forjaram o sexo determinante do Criador que, para os hindus, é naturalmente hermafrodita – um assunto extenso sobre que não dá pra conversar aqui. Mas, com a música ALELUIA penso que talvez possa me redimir com os adoradores de “Deus” sob a forma de “Alá”. Porque, com ALELUIA, em forma de mantra, peço que não apenas vivam Alá, mas – e mesmo que isso pareça impossível aos olhos da sectária cultura muçulmana ou judaica – também Cristo, Rá, Krisna e quem mais vier pretender apresentar a harmonia e a paz que, ao que tudo nos indica, não somente se manifesta no clima de algumas músicas, mas no coração e nas ações de muitas pessoas de boa vontade.

E já que você citou a diversidade com que a Vida se manifesta, certamente é ela sua inspiração para compor a música “Ode à diversidade”.

A música começa “meio sinfônica”, como reconheceu minha amiga Ednamay Cirilo, com o violão expressando toques nordestinos sertanejos, e depois faz incursões por estilo que lembra um tanto o “rock-barroco” do grupo escocês Jethru Tull, descambando para o Samba e, finalmente, terminando numa espécie de experimento minimalista pinkfloydiano.

A terceira música de EQUINÓCIOS é “Tema para Wander”. Alguma pessoa especial?

O músico Wander Farias foi alguém que conheci na Universidade, quando cursávamos o extinto curso de Educação Artística da UFPB. De inteligência rara e extrema sensibilidade, Wander, que morreu do coração (tanto quanto por que viveu), era um exímio jogador de Xadrez, tendo sido várias vezes um campeão paraibano e brasileiro, além de ser excelente violonista. E não apenas do ponto de vista técnico, mas criativo. Nossa relação musical foi bastante intensa em diversos bons momentos; como quando tocamos juntos no VIOLAÇÃO, projeto musical composto por nós dois e pelos músicos compositores e intérpretes Milton Dornellas, Adeildo Vieira, Marcos Fonseca e o percussionista budista Guilherme, ex-integrante do grupo Cabruêra. Vivi com Wander muitos momentos criativos, quando nos vinham temas interessantes, como a música “Tema para Wander” – que ainda não tinha este título – um tema que Wander gostava de tocar comigo, música em tons menores, um tanto densa, e que, para mim, sugere a tristeza, a solidão e o abandono.

E quanto a “Sociedade dos poetas mortos”? Há um filme com este título. A música é sobre o filme?

A música surgiu há alguns anos, inspirada na música do jornalista compositor Carlos Aranha. Conheço Aranha há muito tempo. Ele é muito amigo de meu primo, o aqui já citado hoje jornalista e escritor Walter Galvão, e desde adolescente tive momentos de convivências com Carlos Aranha que, como jornalista, então Presidente da Academia Paraibana de Imprensa, reconheceu meus trabalhos de freqüente colaborador articulista dos jornais de João Pessoa, onde publiquei pela primeira vez em 1983, e me concedeu o direito de ser membro da A. P. I. Foi então para ele que compus SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS – também nome do filme a que você fez referência, sendo uma espécie de hino religioso. O compus influenciado pelos que tocam e cantam em templos budistas e nas igrejas protestantes, tanto quanto os executados entre cantadores do soul e do blues norte-americano e inglês, como em temas apresentados nos discos do músico inglês Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, influência também determinante de minha formação musical.

Entre as músicas de outros compositores, há uma de uma compositora chamada Geo Ventania. Quem é ela?

Conheci Geo na adolescência. Filha da musicista Ysa Ipla, que foi amiga de meu pai, Geo é dona de muito talento musical e uma força interpretativa quase indomável. ILUMINANDO é título do disco de Geo, que ela produziu junto com seu então companheiro, o guitarrista Júnior Natureza, também título da música que resolvi rearranjar a constar entre as de EQUINÓCIOS. Ela está entre as músicas que ainda não estão completamente prontas, já que ainda pretendo incluir a participação de Geo, entre outras coisas.

Quem é a estrela para quem você compôs “Tema para uma estrela”?

Uma francesa que foi minha namorada há mais de vinte anos. Na verdade, a música não foi composta por causa dela, mas para ela – já que, como no “Tema para Wander”, conheci a garota depois que a música foi composta. Mas ela era tocada apenas com o violão, não como está no CD, como apresento ao vivo ou como será em sua versão final.

“Vietnovo” é um nome interessante para uma música, não?

VIETNOVO é uma música composta pelo poeta compositor Zé Trovão e seu então parceiro Cacá Ribeiro. Conheci Cacá quando ainda era adolescente, mas somente conheci Zé Trovão décadas depois, quando participávamos de um FENART. Um dia, durante um final de semana na praia de Camboinha, conheci algumas composições de Zé Trovão e pensei que ele não poderia deixar de registrar todas as suas melhores canções em discos. Dessa forma, entre muitas de suas composições, conheci a música VIETNOVO. Fizemos um arranjo e uma gravação preliminar da música e, depois, refizemo-la, sob influência do produtor Jeová de Carvalho, a compor as músicas do primeiro cd de Trovão, ANTES QUE O DISCO VOE. Mas eu gostei mais do arranjo que havia concebido inicialmente, tendo resolvido regravá-lo para EQUINÓCIOS.

Entre tantos estilos, você ainda pôs uma música gospel, “Fiat Lux”, cuja letra é um poema do Prof. Valdo Lima do Vale inspirado no Sermão da Montanha. Não acha que a música está um pouco fora do contexto?

Se você considerar a presença das músicas ALELUIA e SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS verá que não havia razão para que eu não fizesse uma referência e uma homenagem direta à pessoa de Jesus, ou mesmo ao personagem que a literatura sagrada inventou e que, por mais de dois mil e treze anos, quer creiam uns tantos ou não, tem ajudado a melhorar a qualidade das almas de muitas pessoas sobre este mundo. Sei que, infelizmente, a marca “Jesus” se tornou meio piegas, coisa de gente “cafona”, sem instrução ou cultura superior, como dizem alguns – embora eu não tenha certeza de que “piegas” seja expressão ideal a dizer o que quero sobre o lugar-comum onde foi colocado o personagem Jesus Cristo e seu conseqüente relativo enfraquecimento. Assim, entre os equinócios e toda a diversidade da Vida, nada melhor do que reviver a importância de tão sagrada persona entre as infinitas manifestações de sua potência eterna; quer na forma dos amantes da Música ou na forma de seus harmônicos fundamentos.

Obrigada.