PORQUE ACREDITAR QUE PSIQUIATRA É MÉDICO DE LOUCOS?

Dr. Marcio: Trabalho, sou casado, tenho dois filhos adolescentes, meus funcionários são pessoas honestas, colaboradoras, mas vivo uma vida ruim, com sorrisos falsos, atos de amizades exagerados, pois tenho dois ou três amigos, sendo que no meu começo de casado vivíamos visitando amigos e eles a nós.

Tenho uma casa razoavelmente adequada, meu trabalho me trás lucros, mas nunca recompensas alegres.

Aos poucos minha esposa e eu ficamos distantes, nossa conversa é formal, sinto em minha esposa a mesma vivência vazia, como a minha. Poucas fazes fazemos sexo, cada vez mais longe, e posso resumir: temos orgasmos que nos cansam e nos apagam para dormir.

Para resumir, eu creio que precisaria de uma orientação psiquiátrica, mas tenho medo de que isto interfira nos meus negócios, ao sentirem que vou a médico de louco. O senhor me aconselha procurar um colega seu em que cidade? Abraços. M.D. (telefone anexo).

Caro M.D.: Este seu preconceito é o mais comum em pleno século 21, época de descobertas fantásticas em diagnósticos, orientações psicológicas e no abandono de calmantes que só dopavam os clientes, tornando-os mortos-vivos, verdadeiros pastéis.

O mal do século é exatamente o que você está vivendo: “Vida de faz de conta, doenças resultantes desta apatia, falta de alegria, distração? Noticiários desgraçadores, onde o “põe na tela” faz as pessoas verem como “são felizes”, por não terem sofrido “ainda” uma das desgraças que até as novelas têm ibope, se mostrarem as desgraças.

Nosso trabalho é intenso com pessoas que vivem a sua vida. Procuro mostrar a elas que só receberão antidepressivos que não viciam, não incapacitam, elevam suas disposições, mas só terão melhoras definitivas, se aprenderem olhar para dentro de si e acharem um meio de serem criadores de amor, compreensão e felicidade com a vida.

Para isto é preciso que o profissional que cuida destas pessoas entenda que os medicamentos (muitas vezes calmantes de uma vida parada) de nada servirão, se ele, psiquiatra não entender que o seu papel é o melhor remédio, se estiver preparado para tal. Lhe explico melhor: creio que a medicação, quando necessária, em casos como o seu, tem que ser em doses pequenas, com conversas longas, onde o psiquiatra não critique nada e nem trate modos de convívio baseadas em tratamentos de escolas psicanalíticas, como confesso, já fui idiota, no começo de minha carreira, usando estas psicoindicações, como queriam os antigos terapeutas traçar caminhos “viáveis” demarcados, pelas lendas gregas,e outras imbecis.

Olhar para dentro e ver como vive, porque vive esta falsidade insatisfatória, porque o faz de contas é importante, qual a crença que admite ser boa, tudo sem um pingo de críticas do profissional, que só faz perguntas para entender e permitir que o indivíduo crie percepção de sua vida e conhecendo-se, modifique-se sem se sentir um vigiado por um professor, que pode dar-lhe notas baixas, se não tomar seus calmantes, ou contentar-se com consultas de minutos.

O “Ser Cognitivo-Comportamental” é aquele que responde a suas perguntas, de preferência depois de acordado, cria consciência para mudar os comportamentos que ele não gosta, se lhe fazem mal, como o fazem sofrer, sem que o psiquiatra diga se é bom ou mal ser desta forma arguindo apenas se ele achou a felicidade.

Há algum tempo, para você ver um exemplo, uma pessoa me relatou uma conversa ocorrida com o seu pastor e veio conversar comigo sobre o que significava aquilo. Respondi-lhe que parecia ser uma tentativa de elevação do seu caráter e que ela deveria tirar a dúvida, conversando novamente com ele pedindo-lhe delicadamente maior clareza.

Três dias depois ela me ligou, mostrando o que eu já percebera, de que ele queria fazer um “programa” com ela e ela abandonara aquela prática religiosa, indo para a Igreja de sua amiga, prometendo-me, sem que eu lhe pedisse coisa alguma, tomar cuidado com as conversas fiadas.

Quem somos nós psiquiatras para acabarmos com a vivência das pessoas sejam intoxicando-as de medicamentos, ou indicando-lhes a ponte salvadora. Qual ponte? A minha ou a do Dr. Freud?

Claro está que existem doenças graves, algumas controláveis medicamentosamente, outras já capazes de estragos imensos, irrecuperáveis, pois os familiares deixaram de buscar ajuda para aqueles pacientes, vivendo aos gritos com ele, achando que aquilo era mal comportamento.

Já fiz muita psicoterapia ”analítica”, fiz psicoterapia breve, fiz muita terapia cognitivo-comportamental. Hoje fico feliz por ter consciência de que tenho que fazer uma abordagem cognitivo-comportamental, sem medir tempo para a realização das consultas e conseguir que o paciente ache seus parâmetros de vida tendo comportamentos, amizades, trabalho, religião (se o quiserem), família e pensamentos que o tornem feliz.

Por incrível que pareça isto faz o psiquiatra ser amigo e não um juiz ou patrão da clientela. Medicamentos? Só quando necessários pelo tempo que for preciso, sem causar males.

Portanto meu caro M.D., você precisa orientação para se achar, prometendo-lhe que não tem o tipo dos Muito Doidos, pois está lúcido e corajoso. OK?

Além disto, a população na prática necessita buscar se entender se quiser sair deste mundo vazio, em que vive a maioria absoluta.

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Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa

drmarcioconsigo@uol.com.br