Entrevista com o escritor Nuno Tavares

Breve biografia: Comecei a escrever livros quando alguém me disse, após ter feito um projecto escrito para um jogo de xadrez, que eu tinha algum jeito para criar enredos. Não valorizei muito isso, procurando calmamente escrever as minhas criações e dar tempo ao tempo para descobrir se o sabia fazer ou não.

Amor, Glória e... Muita Areia não foi o primeiro livro. O primeiro foi iniciado em finais de 1996 e marcou aquilo que considero como o inicio deste meu "passatempo".

Ao longo destes anos, escrevi vários livros e tenho em andamento muitos outros. São muitos projectos e ideias que dão para escrever livros até ser velhinho.

Como o faço por gosto e a disponibilidade não abunda, direi que me sentirei satisfeito se completar todos os projectos que tenho. Adoro escrever e é agradável receber as opiniões favoráveis de quem lê.

Em relação ao enquadramento do meu género literário, existem dois em que me incluo. Gosto muito de escrever romances contemporâneos e ficção, seja cientifica, histórica ou cenários de um futuro próximo.

Ana Roman - Nuno, você escreve romances e já tem alguns livros publicados, quando você começou a escrever ficção erótica?

Nuno - Todos os meus livros têm um toque de erotismo. Porém, o primeiro livro escrito com o objectivo de se enquadrar no género erótico foi Dançando no Violino.

Ana Roman – No seu livro “Dançando no Violino” você narra um romance lésbico com erótismo refinado para a composição da cena como no trecho abaixo :

“Quando confirmou que não havia perigo, levou as mãos à camisola e despiu-a. A seguir, pegou na mão de Zahra e pressionou-a contra o seu seio direito, enquanto a mão esquerda a puxou pelo pescoço e a arrebatou para mais um beijo profundo. Zahra tinha tanto prazer quanto Adriana, mas fazia tudo a medo e sempre com a autocondenarão por se deixar cair naquela tentação. Viu Adriana despir-lhe a camisola e apalpar-lhe os seios sem pudor.”

Como foi para você escrever sobre esta temática?

Nuno - Acima de tudo gosto de ser criativo. O mercado literário vive uma fase em que todos os livros eróticos parecem seguir as mesmas linhas. Eu preferi fugir à rotina e pegar num tema que ainda tem muitos tabus. Aliás, uma das personagens procura esconder de si mesma a sua verdadeira orientação sexual.

Ana Roman – Como foi a reação do público homoerótico a respeito do livro?

Nuno – Não tive uma reacção especifica do público homoerótico. Tive algumas críticas de alguns leitores que já me seguem há alguns anos e que gostaram da história.

Ana Roman - Qual a sua opinião sobre leitores de ficção erótica? Qual o fascínio que a literatura erótica tem sobre eles?

Nuno - Na minha opinião, o fascínio do leitor de literatura erótica ainda é muito baseada no desejo pelo fruto proibido. O erotismo está associado a sexo e o sexo é ainda um tabu para muito gente. Sempre que um leitor lê um livro, o texto leva-o a entrar naquele mundo, seja romance, ficção cientifica, etc... O leitor erótico procura nesse texto entrar nesse mundo que, talvez, na maior parte dos casos lhe seja um mundo inatingível.

Ana Roman - O que precisa ter em um texto para que seja considerado ficcão erótica e possa ser diferenciado de um romance?

O romance é a ponta do iceberg. Podemos escrever um romance e mantê-lo num nivel que faça o leitor "navegar" por um amor perfeito para toda a vida ou não. Pode ser um romance de final feliz ou não. Agora se, enquanto escritores, quisermos colocar o leitor a trocar um suspiro apaixonado por um gemido de prazer, então temos cavar o iceberg e levar o leitor para aquilo que pode haver de avassalador entre duas pessoas.

Ana Roman - Nuno, você usa alguma técnica para escrever ? Qual o seu processo de escrita em seus romances?

Nuno - A única técnica que uso é esquematizar a história, fazer apontamentos cronológicos e depois escrever a história. Não tenho nenhuma técnica especial nem nenhuma fórmula ideal para escrever um livro, faço o processo da maneira que me deixa mais confortável.

Ana Roman - Como você vê o cenário da literatura erótica mundial na atualidade?

Nuno – Na minha opinião, a literatura erótica mundial explodiu com “As Cinquenta Sombras de Grey”. Tivemos a moda dos vampiros e, de repente, parece que os vampiros se transformaram em personagens sedentas de sexo, sejam submissos ou controladores. Bom, talvez seja um pouco exagerado, mas com isto quero dizer que a literatura mundial anda em modas. Um dia aparece um sucesso num determinado tema. A partir daí começam a aparecer vários livros com o mesmo tema. Hoje, olhamos para as parateleiras de livros numa livraria e parece que estamos a ver a mesma história com capas e personagens diferentes. É cansativo e redutor da criatividade literária. Talvez por isso eu goste sempre de fugir aos conceitos instalados. Aliás, uma das coisas que mais gosto é surpreender o leitor.

Ana Roman – Que tipo de Catarse você tem ao término de um livro?

Nuno – Escrever um livro é um processo que exige muita concentração, disponibilidade e tempo. Fico absorvido com a história e sou capaz de estar a pensar naquilo que vou escrever em momentos que nada têm a ver com a escrita. Por isso, faço muitos apontamentos e registo todas as ideias que tenho, mesmo que não se adaptem àquele momento da história ou até mesmo àquele livro. Por vezes sinto o conflito interior de querer dedicar mais tempo à escrita e não o conseguir. Ao terminar um livro, é uma sensação de realização de mais um projecto. Não sei se será bem uma libertação, uma vez que por cada um termino tenho ideias para mais dez.

Ana Roman – Como você trabalha com a revisão de um livro depois de pronto?

Nuno – Infelizmente, a revisão dos livros é feita por mim. O ideal seria recorrer a um serviço de revisão profissional, mas para escritores que têm de custear as suas edições, é necessário reduzir os custos ao máximo.

Ana Roman – Muitos escritores consideram a revisão a pior e mais cansativa parte em escrever. Como você encara este processo? Corta trechos, reescreve?

Nuno – Bom, a parte da revisão é cansativa porque estamos com aquela ansiedade de terminar o trabalho e divulgar o livro aos leitores para começar a ter noção da receptividade. São raros os casos em que reescrevo, uma vez que na minha opinião, se começar a ponderar muito e a alterar, posso perder a essencia daquilo que escrevi inicialmente. Um autor, e falo por mim, nunca está satisfeito com o texto. Mas, se começar a reescrever sucessivamente, o livro nunca sairá da produção. A minha maior preocupação na revisão é a correção de um ou outro erro ou alguma gralha que acontecem naturalmente no processo criativo.

Ana Roman – Qual o melhor conselho que você ouviu de escritores no começo de sua carreira?

Nuno – Ouvi muitos e bons conselhos de leitores. Ouvi opiniões de colegas escritores que escalavam comigo esta montanha que é chegar com os nossos livros aos leitores. Não há um conselho que se destaque, uma vez que todos acabam por ser importantes.

Ana Roman – Que conselhos você daria para quem quer publicar seu primeiro livro e não tem editora? A publicação independente seria uma solução?

Nuno – As editoras voltam facilmente as costas a novos autores. Se não houver garantias de lucro ou, pelo menos, garantia de pagamento da despesa, as editoras fecham a porta ao autor. Por isso, sim, a publicação independente é a solução até porque já há muitas editoras de edição de autor que permitem produzir livros sem número mínimo de exemplares.

Ana Roman – Nuno, da onde surge a inspiração para tantos livros?

Nuno – É algo natural. Posso ter fases de não escrever uma linha e fases de escrever dias inteiros. Tenho muitas ideias para livros, muitas mesmo. Lamento não conseguir dedicar mais tempo à escrita.

Ana Roman – Algum escritor lhe inspirou? O que você anda lendo ultimamente?

Nuno – Tenho dois que me inspiraram na forma de escrever, Eça de Queirós e Michael Crichton. Curioso não terem na a ver um com o outro. O Eça influenciou-me muito na forma descritiva. O Michael na forma construtiva da acção e dos capítulos. Ultimamente, ando a ler Dan Brown, Ken Follet e Daniel Silva.

Ana Roman – Fale me sobre seu último livro.

Nuno – Dançando no Violino. É um livro que foi escrito com o intuito de ser declaradamente um romance erótico. Digo declaradamente, uma vez que todos os meus livros têm uma cena ou outra com maior ou menor erotismo. No caso deste livro, quis que esse tema fosse o ponto central. Na história, Adriana Cavaleri é bailarina na Companhia Nacional de Bailado, onde ocupa um papel secundário na nova temporada do Teatro Camões. Desde cedo se conheceu como mulher e teve certezas sobre a sua orientação sexual, a qual sempre envergou com orgulho a partir do momento em que pôde assumi-lo a quem a rodeava. Na adolescência, conhecera Zahra Yamanova, uma rapariga estudante de violino com quem ganha empatia, forma amizade e se apaixona. As duas viveram um namoro secreto de dois anos, até a segunda afastar a primeira por não ter coragem de assumir aquilo que lhe dava prazer. Passados sete anos, Zahra é violinista numa orquestra de sucesso, onde é solista com futuro brilhante na música. E é aí que Adriana a vai reencontrar. Dançando no Violino é uma história de amor intenso, emoções fortes, sensualidade, paixão e erotismo.

Ana Roman – Existe alguma categoria que gostaria de escrever e ainda não o fez?

Nuno – Sim. Pretendo escrever um romance histórico baseado na História da época medieval, bem como tenho em mente escrever um livro numa vertente mais para o fantástico.

Ana Roman – Pelo que percebi, você gosta muito de escrever, qual a melhor e a pior coisa no ato de escrever?

Nuno – A pior é, por vezes, não conseguir escrever tão depressa quanto o pensamento, a acção avança na minha cabeça como um filme e nem sempre consigo digitar tudo a esse ritmo. A melhor é ler o que escrevi e sentir que consegui passar para o papel tudo conforme imaginara e sentir aquilo que quero que o leitor sinta.

Ana Roman – Em seu site você disponibiliza alguns livros para leitores. Quais são eles ?

Nuno – A ideia de partilhar livros de forma gratuita na Internet nasceu em 2005. Desiludido com as editoras, decidi dar a conhecer as minhas histórias aos cibernautas. Estamos a falar numa época em que o Facebook dava os primeiros passos e os blogs eram uma semi-novidade. A ideia actual de postar na net e aparecer logo a centenas de “amigos” era ainda básica. Como sou webdesigner, decidi criar o meu próprio site. O primeiro livro que publiquei foi “Amor, Glória e… Muita Areia”. Neste livro, Marco é um jovem lisboeta nascido e criado no bairro de Alvalade. Por entre aventuras e desventuras, a sua vida envolve-se num amor que parece ser tudo menos possível. Rafaela surge como um patinho feio, uma atleta em busca da realização de um objectivo. Alguém cuja vida não é fácil e que encontra em Marco um parceiro no desporto, um amigo e um problema quando a sua ligação parece entrar noutros campos.

Publicava dois capítulos por semana e ganhei muitos fãs que acompanhavam as publicações religiosamente.

No site tenho mais quatro livros publicados e de leitura grátis online:

“O que o Dinheiro não Compra”, uma história passada na época de Natal, onde conhecemos Joana, uma jovem minhota que veio para a capital estudar e trabalhar para ser médica. Uma alma pura e gentil que vê o seu caminho cruzado com o de Mário, o implacável homem de negócios que odeia tudo, excepto dinheiro.

“Deixa que o Amor seja a tua Energia”, a história de um jogador de futebol que, após uma grave lesão, se vê afastado dos grandes palcos do desporto rei. Com um fim de carreira prematuro anunciado, ele tem de tomar uma das decisões mais difíceis da sua vida, ao optar por relançar a sua carreira num clube amador, colocando em causa o grande amor da sua vida. Assim, parte para o interior do país, onde vai conhecer o lado mais pobre e menos mediático do futebol, onde a prática da modalidade é feita por amor. Vai conhecer uma aldeia humilde e a hospitalidade das suas gentes, onde os sonhos poderão não ser só para quando se está a dormir...

“Ivan Pedro”, o segundo livro da série com o mesmo nome. No primeiro livro, DEIXA QUE O AMOR SEJA A TUA ENERGIA, o amor ao futebol levou Ivan Pedro a abdicar do seu grande amor, Camila, para relançar a sua carreira de futebolista. Com sucesso no jogo e sem nenhum no amor, ele parte neste segundo livro para o seu grande sonho, ser jogador do Benfica. E nessa viagem conhece a nova paixão do seu coração, a bela Susana. A sua vida parece lançada para a felicidade, até aparecer o maldito empresário de futebol chamado Ambrósio. Num instante, a sua carreira de futebolista no Benfica fica em risco, Susana talvez não seja quem ele pensava e... Camila reentra na sua vida voltando a desequilibrar a sua frágil balança emocional.

“Nunca Neva no meu Aniversário”, onde Ricardo e Sónia partilham uma amizade de vinte e cinco anos, mas com os últimos quinze afastados por rumos de vida diferentes. Amigos desde a infância, sempre foram muito próximos até ao momento em que a Universidade os obrigou a distanciarem-se. Ele foi estudar para o Algarve, ela regressou à sua terra natal, os Açores. Nunca Neva no Meu Aniversário é uma história passada no Faial, quando após quinze anos afastados fisicamente, Ricardo corresponde ao chamado da amiga que atravessa uma situação pessoal muito complicada. Sónia vê o seu casamento acabar e procura o apoio do amigo de sempre. Ricardo nunca esquecera a paixão da adolescência, mas quinze anos longe da amiga tinham transformado todo esse sentimento numa recordação arquivada na memória. No entanto, voltar a estar na sua presença vai reavivar aquilo que parecia estar esquecido. Numa viagem pelo Faial, memórias e sentimentos misturam-se entre duas almas que sempre se entenderam tanto quanto se estranharam. Uma relação próxima que nem a distância conseguiu separar, mas que uma tragédia poderá pôr fim.

Meus agradecimentos ao escritor Nuno Tavares por ter me cedido esta entrevista.

Lorie
Enviado por Lorie em 01/09/2014
Código do texto: T4944982
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.