ENTREVISTA COM O ADMINISTRADOR PAROQUIAL DE ÁGUAS BELAS PADRE WELINGTON VILAR

Em entrevista realizada no último dia 28/02/2015, padre Welington Vilar falou sobre diversos temas referentes à Paróquia de Águas Belas e o caminhar da Igreja Católica na cidade (Esta entrevista foi publicada em partes no Jornal Cidade Águas Belas – Ano IV/ Nº 55 - No dia 30/03/2015, sendo este o texto de toda a conversa na íntegra, entre o entrevistador (Ildebrando Gutemberg) e o Padre Welington).

Tendo em vista a recém chegada do Pe. Welington Vilar, o trabalho realizado e o caminhar da paróquia nestes primeiros dias, o administrador paroquial de Águas Belas concedeu uma entrevista em primeira mão para este autor, onde são abordados diversos assuntos para toda a sociedade local, desde ações internas da Igreja a relação desta com a sociedade e os mais diversos grupos sociais.

Jornal Cidade: De onde o senhor vem? Quem é o Padre Welington?

Padre Welington: Venho de uma pequena cidade, Panelas – PE, que fica acerca de 180 km daqui, 02 horas de viagem. Meus pais são de um sítio chamado Jundiá, foi lá onde nasci (em 17/09/1978) e me criei, depois, aos 14 anos fui morar na cidade para estudar. Sou filho único, natural desta pequena cidade que tem como padroeiro o Senhor Bom Jesus dos Remédios. Panelas é uma cidade que tem duas realidades: agreste e a zona da Mata, venho de um lugar que tem bastante verde, bastante água.

Jornal Cidade: Como foi seu contato com a religião?

Padre Welington: Venho de uma família bastante católica, é tanto que no sítio que meus pais moram ainda hoje, que fora dos meus avós, próximo da casa, tem uma capela de Nossa Senhora do Carmo, inclusive lá surgiu minha devoção a Nossa Senhora do Carmo. Eu cresci rezando o terço nessa capela: fiz primeira eucaristia, meus avós eram pessoas de muita fé. Foi a parir da experiência com meus avós, pois eu morava com eles, e depois com a comunidade que existe ainda hoje.

Jornal Cidade: Quando o senhor entrou no seminário? Porque?

Padre Welington: Inicialmente não pensava em entrar no Seminário, mas não tenho dúvidas que Deus já havia pensado nisso desde o início, como diz o profeta Jeremias: “Desde o ventre materno tu me concedeste”. Então a vocação ela vem do início de nossa geração, mas só descobrimos em determinados momentos, mas foi depois de minha Crisma que comecei a conhecer uma nova realidade, pois já morava na cidade, e a chegada de um novo padre em Panelas, um jovem que transformou muita coisa na paróquia, foi então a partir daí, deste exemplo principalmente. E quando estava em uma celebração onde quem presidia era o reitor do seminário diocesano, ao final do missa o pároco fez uma entrevista ao reitor e aos seminaristas que estavam presentes, perguntando o que era o Seminário, como fazia para entrar no Seminário? E foi a partir daí que despertei, naquele dia, para a vocação, logo em seguida comuniquei ao pároco o meu desejo.

Jornal Cidade: O senhor falou de um ponto bastante interessante sobre o exemplo do padre, do pároco, que despertou sua vocação. Como o senhor avalia o papel do padre hoje, inserido no contexto social: ele é só para despertar a vocação ou ele também é um ser que vem para somar a sociedade, fora também do âmbito espiritual?

Padre Welington: Há uma relação que a gente não pode separar: que é a relação Igreja Sociedade, por isso estamos tratando na Campanha da Fraternidade que fala exatamente disto. O papel do padre, ele é de fato esta pessoa que tem papel importantíssimo na Igreja, mas também fora dela, até porque a gente não é padre só na Igreja. A função do padre é de fundamental importância, tanto pela palavra quanto pelo testemunho, como aquele que articula as pessoas, a Sociedade. Mesmo hoje apesar dos avanços e de tanta coisa negativa que se fala em elação ao padre e a Igreja. As pessoas ainda esperam muito do padre, por isso que o nosso papel é ainda muito importante, por isso o tamanho da nossa responsabilidade. Esperam de alguém que é um ser humano normal, mas que tem um papel diferente, e é chamado a exercer esse papel de modo diferente mesmo apesar das qualidades e defeitos que cada um tem.

Jornal Cidade: O senhor fala da figura humana do padre, como o padre Welington avalia atualmente no Brasil a “divinização” dos religiosos (padres, pastores)?

Padre Welington: Eu creio que primeiro já se perdeu um pouco isso, digo que antes era até mais, por exemplo, era inconcebível você chegar muito perto, tem uma cena interessante na minha vida, que meu avô, quando eu era seminarista e estudava em Caruaru e como era próximo a Panelas ia para casa sempre. Meu avô com mais de 80 anos, eu sempre o ajudava, como corta as unhas dele, lavava os seus pés, e depois que fui padre ele não queria mais que eu fizesse, a primeira vez que fiquei em casa, depois de padre, quando fui lavar os seus pés houve uma reação dele dizendo que não, que não poderia lavar os seus pés. Perguntei então: “porque não?”, eu insisti e ele acabou deixando, e após terminar ele me disse: “mais a vida da gente tem cada coisa: porque eu nunca pensei na minha vida que um padre iria lavar meus pés!” Então, é para se dizer que se tinha uma ideia ainda de “divinização” maior do padre, se é que podemos usar assim. Veja: porque o padre tinha uma função espiritual muito forte, e o padre é chamado a agir na pessoa de Cristo, ele não é o Cristo, mais ele age, como diz o latim: “in Persona Christi capitis”, ou seja: na pessoa de Cristo cabeça. O padre então mesmo sendo ser humano, e aí passível a erro, e com muitas fragilidades, mas o padre é chamado agir na pessoa de Cristo, ele deve ser um sinal de Cristo. Claro o cristão também deve ser isto, mas o padre uma vez revestido com o sacramento da Ordem, mais ainda ele é chamado a ser sinal de Cristo, não para ocupar o lugar Dele. O padre é aquele que aponta, como dizia João Batista: “que eu diminua, e que Ele cresça!”.

Jornal Cidade: Quando lhe perguntamos isso (divinização) é baseado naquilo que o Papa Francisco falou a cerca de 03 semanas: “que o assustava a forma como as pessoas imaginavam o Papa, pois ele não era um ser extra-humano, extra físico, então passível de erro como todos os outros eram”, isso causou certa repercussão. Da mesma forma vemos em outras instituições religiosas, pessoas que dão ordem quase que de maneira “divina”. Será que esse tipo de situação não atrapalha na relação dos religiosos com a sociedade?

Padre Welington: As vezes até pra gente dificulta, pois as pessoas tem que entender que o padre tem necessidades, que poderia, por exemplo, uma coisa bem simples: usar uma bermuda, porque qualquer pessoa pode usar, mais se o padre usar parece coisa de outro mundo! Isso afasta um pouquinho as vezes as pessoas do padre, isso acaba atrapalhando em certos momentos, o peso se torna demais como se o padre não fosse humano, como se ele não pudesse errar, que não que descansar, que não precisa de lazer, não precisa de conforto como qualquer ser humano. Isso ainda afasta um pouco, já mudou muito, mas além de afastar pesa mais ainda na vida do padre. É muito comum as pessoas dizerem: “padre eu tenho vontade de lhe chamar para almoçar lá em casa, mas não sei o que o senhor come? Não sei o que faço pra o senhor?”. Tento quebrar muito isso. Fui ontem para Curral Novo, passei o dia lá, confessei de manhã, almocei, o pessoal perguntar: “quer dormir um pouquinho?”, eu falei: “quero”, fui, descansei lá em uma casa, para o povo entender que sou uma pessoa normal, que tem uma função diferente. Vejo também que algumas pessoas tem muito respeito, que não deve deixar de existir, mas sinto que há pessoas que se afastam um pouquinho por conta desta visão que se tem.

Jornal Cidade: Após sua chegada e estabelecimento, como o senhor vê o ambiente águas-belense? Como a Igreja tem caminhado nestes primeiros dias de seu trabalho?

Padre Welington: Hoje em dia a gente tem as tecnologias e dá para conhecer antes muita coisa, então eu já ouvia falar muita coisa de Águas Belas. A visão que eu tinha com relação ao povo, a vida religiosa do município, os padres que passaram por aqui disseram que foi uma experiência muito rica, e coisas muito positivas nesse sentido de Águas Belas. Porque de fato é “povão”, povo de uma fé muito simples, um povo muito devoto, muito religioso... Aquilo que ouvia antes, posso hoje contemplar na prática. Contemplar esta simplicidade do povo, esse desejo de Deus. Por outro lado, vejo nossa Paróquia hoje muito complexa atualmente, porque é uma realidade nova, como essa questão, por exemplo, de ter uma nova área pastoral, um novo direcionamento. Então, hoje vejo a Paróquia muito boa, o povo é bom, eu tenho me identificado, mesmo com o meu jeito de ser que é diferente dos meus antecessores, e tem que ser assim mesmo, não pode ser igual. Tenho visto algo muito positivo, o povo tem me acolhido com muito carinho, o povo tem o desejo muito grande de aprender, de crescer, ser comunidades cada vez melhores. Mais ao mesmo tempo eu sinto uma complexidade, muitos questionamentos de ser estas duas Paróquias, duas áreas, então eu vejo a Paróquia hoje modo bem mais complexo do que a visão que se tinha antes. Hoje a gente está tentando se organizar, se reerguer depois da divisão ter mexido com todo mundo; que era necessária para a prática pastoral, para facilitar, mais eu vejo nesses dois aspectos: uma complexidade por um lado, mas eu vejo algo muito positivo por outro, um povo muito bom, é uma paróquia que sinto que é muito boa.

Jornal Cidade: Sobre a divisão das paróquias que o senhor tocou no caso: Como está se dando esta divisão? Por que se deu? E como ela irá cainhar daqui pra frente?

Padre Welington: Vocês aqui sabem muito mais do que eu a extensão desta Paróquia, na Paróquia anterior tinha uma realidade diferente de cerca de 16 comunidades, e a distância maior que tinha entre a sede e a comunidade mais distante era de 16 km, e desses 16km, 12km era de asfalto, chegava nas comunidades em cerca de 20 minutos. Na realidade anterior, eu dizia e me sentia pequeno demais, porque não conseguia dar conta naquela realidade, como você citou na matéria do mês passado, de pouco mais de 17.000 habitantes, imagine dar conta de uma Paróquia como esta. Você mesmo sabe da complexidade, por conta das várias realidades, como foi colocado no Jornal Cidade na última edição, a realidade quilombola, indígena... Não é somente a realidade de um povo, tem várias imagens, “Igrejas” diferentes em uma só Paróquia, é impossível de um padre só atender ou dois conseguir dar conta. Pois a questão não é só celebrar missas, é muito mais que isso: a realidade da Igreja atual é necessário que tenha padre ou padres possam dar assistência melhor às comunidades. Por necessidade pastoral se teve essa divisão, que é uma experiência ainda, quem pode oficializar isso é só o Bispo. Tudo tem que começa, mesmo que doa, mesmo que seja difícil para todos nós, tudo tem que começar, se não como começar não irá acontecer. Para que daqui ao tempo, daqui a um ano possamos avaliar, vamos ter um bispo brevemente, e aí a gente vai poder chegar a uma conclusão, se essa divisão terá que ser levada a frente como estar ou que tem que ser melhorado, e aí vamos fazer a melhoria para o bispo oficializar. É uma experiência ainda, que espero que der certo, que inicialmente é difícil para todo mundo, mas é uma necessidade para tentar está mais próximo, claro que mesmo aqui como na São Sebastião um padre só não dar conta, mas primeiro tem que dividir a área para que no futuro a gente pense. Por exemplo, essa semana inclusive, na reunião do clero já pedi outro padre para me auxiliar, pois já senti que não consigo dar conta sozinho daqui, já conversei com estagiários para que no futuro pensem em ir para Águas Belas.

Jornal Cidade: Com quantas comunidades a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição ficará se ou quando houver a divisão?

Padre Welington: Me foi entregue uma lista, eu não participei do processo de divisão, eu apenas cheguei e estou conhecendo este processo, essa lista era composta por 16 comunidades, além disso tenho outras que foram acrescentadas depois, por exemplo: a comunidade do Caititú, na lista que me entregaram tem esse acréscimo, que pelo território seria de lá (área pastoral de São Sebastião), então são entorno de 16 comunidades mais umas 04 ou 05 que seria deste setor. Eu conheço do Garcia pra trás ainda.

Jornal Cidade: O que sabemos sobre a questão da divisão territorial é que na cidade seria marcada pelo curso d’água da Ribeira, onde tudo que está nós limites da atual Matriz até este ponto é Paróquia Nossa Senhora da Conceição, o que se encontra do outro lado é área pastoral de São Sebastião. E o restante do município como é que se divide?

Padre Welington: O que me foi dito foi exatamente isto, o que está nos arredores do lado de lá é área de São Sebastião, o que está deste outro lado é Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Repito: falo muito por alto, não posso dizer ao certo nem afirmar por que de fato não conheço ainda, estou aqui a menos de 01 mês e é muito difícil de você conhecer.

Jornal Cidade: Perguntamos-lhe isso por que isso deva ter estimulado ainda mais a questão da dúvida, pois por exemplo, se for desta forma a Aldeia do Povo Fulni-ô seria então da área de São Sebastião, assim como Tanquinhos. Então como vocês pensam em fazer para estabelecer os reais limites da Paróquia?

Padre Welington: Na verdade Tanquinhos ficou na área pastoral de São Sebastião (a Aldeia não), você me fala de uma realidade difícil, pois não conheço os lugares imagine se para o pessoal daqui fica difícil e pra mim que cheguei agora? De um espaço que não tenho ideia. Tem sempre aparecido uma novidade, o pessoal chega para marcar uma missa eu pergunto logo onde é, fica para qual lado? Então está tem sido a minha estratégia, pois não conheço, aí olho para esta lista que recebi, e se não estiver por aqui ou próximo de nenhuma destas então não é comigo. Não participei do processo.

Jornal Cidade: O que o senhor acha do papado de Francisco?

Padre Welington: Revolucionário, pois ele tem mostrado um novo jeito de ser Igreja, isso sem desmerecer em nada o anterior que tinha um jeito totalmente diferente. E costumo dizer que essa é a beleza da Igreja, pois se todo Papa fosse igual a Igreja era terrível, se todo Padre fosse igual não teria porque mudar. Reconheço que o Papa Bento XVI deu uma contribuição fundamental para a Igreja com o estilo dele, agora vem o Papa Francisco inspirado pelo Espírito Santo, para mostrar um outro lado da Igreja, digo até de forma mais próxima do povo, então eu diria que é algo extraordinário. É algo que para os dias de hoje é revolucionário, se é que podemos usar este termo, sem perder a essência.

Jornal Cidade: Como o senhor vê essa relação do Papa na igreja do Brasil?

Padre Welington: Eu vejo que é claro a contribuição, a Igreja ela tem o rosto do Papa, assim como a Diocese tem o rosto do Bispo e a Paróquia do seu padre, porque isso tem influenciado bastante. Agora não mudar de uma hora pra outra, o Papa com o jeito dele, até entrar na cabeça de muito padre e bispo de que deveria ser assim, que desse jeito é importante. Mas vejo que isso tem contribuído com a Igreja como um todo, e é muito importante, há pessoas que discordem, mais acredito que o jeito dele tem influenciado muito a Igreja não só do Brasil, mas como um todo.

Jornal Cidade: Seguindo esse ideal “franciscano”, se referindo ao contexto colocado pelo Papa Francisco, como será o caminhar na Igreja em Águas Belas?

Padre Welington: Espero que seja o melhor possível, pois o padre quando chega na paróquia chega com muita esperança, com muita confiança de que tudo der certo, a não ser que tenha perdido o sentido da vocação, ele quer que tudo caminhe da melhor maneira possível. É claro que nem sempre o passo ou outro passa não ter sido o mais acertado, é normal ter isso. Mas pretendo em comunhão com a Igreja, com a minha Diocese com a qual eu amo, com o meu Papa o qual eu amo e obedeço, quero muito que a Paróquia de Águas Belas seja cada vez melhor e que eu consiga fazer esse trabalho de aproximação com as pessoas, com aqueles que querem se aproxima para ajudar de fato, e já tenho dito e usei inclusive essa expressão na posse de “tornar nossa Paróquia um pedacinho do céu”. Um lugar onde a gente evangelize, onde a gente se ama, onde a gente se ajuda, onde nos sentimos bem... Esse é o meu sonho. Não quero medir esforços para fazer o melhor por nossa Paróquia. Venho de uma experiência muito positiva e vi o quanto é bom sentir-se Igreja e quero que aqui seja assim também. Eu vim para dar a minha contribuição, não tenho medido esforço dentro dos meus limites; claro que trata-se, como falamos anteriormente, de um ser humano que precisa de descanso e que tem um estilo diferente. Tenho tentado criar um ritmo diferente na Paróquia para que daqui a pouco eu não esteja cansado, estressado, porque se não tenho limites de horário, por exemplo, que o atendimento seja dentro de um horário comercial, pois o padre também precisa descansar, tenho tentado não me sobrecarregar com missas e mais missas, para que não chegue atrasado nas comunidades e faça as coisas as pressas. Tenho tentado colocar meu estilo, que não é nem melhor, nem pior do que de outros padres, mais é apenas o meu estilo, porque eu sou assim, aprendi assim, respeitado, é claro, o ritmo da comunidade, para dar a minha contribuição para que a Paróquia seja um lugar bom, ou ainda melhor. Eu vim pra isso, com minhas limitações, com minhas fraquezas, minhas deficiências que eu as reconheço e tento melhora-las e superá-las, mas vim para ajudar e isso que quero fazer e tenho me colocado pra isso, não tenho medido esforço para ajudar. Tudo dentro dos meus limites e do meu jeito de ser também, porque não adianta eu ser “A” ou “B”, eu tenho que ser eu mesmo. Claro que tenho tentado me adaptar a realidade da Paróquia, não é o jeito que eu sou, que tem que ser assim, não! Mas eu tenho meu jeito de ser padre, meu jeito de ser pessoa e que eu não quero nunca ser igual a outra pessoa.

Jornal Cidade: O senhor falou de um aspecto interessante, de que tem um estilo próprio, como todos nós. Como é o estilo do Padre Welington Vilar?

Padre Welington: Eu tenho estilo diria assim moderado, não tenho entrado em um carisma específico de um grupo, não! Pra mim todos são grupos iguais, eu respeito todos os carismas, não tenho uma tendência, por exemplo, não mais ele gosta mais de desse ou daquele grupo, não cada grupo tem seu papel. Sou muito “na minha”, não muito sorridente o que alguns acham ser simpático, o que muita gente espera. Tem gente que é mais sorridente do que eu, talvez mais sociável, se é que pode se dizer assim. Costumo dizer assim de um modo moderado, valorizo cada grupo, tento está presente em cada momento, eu não sou carismático no sentido de ser da Renovação, mas no sentido de envolver os diferentes carismas, mas tenho que fazer essa moderação, cumprir meu papel entre todos os grupos. Sou tranquilo quando tem que ser, mas sou firme quando tem que ser, agir quando tem que agir, e dizer não quando tem que dizer não também, procuro fazer isso com cuidado e com respeito. Mas digo isso no sentido de um padre que gosta de moderar os atos na Igreja.

Jornal Cidade: Padre o senhor falou sobre inserir todos na Igreja, que vai acolher a todos. Isso é uma fala sua que já acompanhamos desde o seu primeiro discurso e também na Câmara de Vereadores. O senhor tem algum plano ou planejamento, alguma forma de incluir alguns grupos na participação da Igreja, que hoje o senhor sabe que se sentem excluídos também em partes da sociedade, tais como: casais de segunda união, a histórica periferia, pessoas pobres que às vezes tem vergonha em vim para a Igreja que não tem uma “roupa apropriada” segundo elas, para ir até a Igreja, pois as pessoas ainda tem essa questão de ver a Igreja como status social, até mesmo o Papa tem mostrado certa atenção para com os homossexuais. Como o senhor pensa em inserir e/ou chamar essas pessoas para dentro da Igreja? Pois para muita gente essa ausência de acolhimento é um grande empecilho, até o Papa tem falado que há pessoas dentro da Igreja constroem muros ao invés de pontes. Como o senhor pensa em fazer isso dentro da Igreja de Águas Belas?

Padre Welington: Veja na verdade a Igreja no mundo todo tem documentos sobre isso, a Pastoral Familiar é um grupo que visa trabalhar com as várias dimensões de família, por exemplo, trabalhar com os noivos que estão para se preparando para o matrimônio, trabalhar com aqueles que já são casados, pós matrimônio, e uma das dimensões da Pastoral Familiar e que tem documentos sobre isso, é trabalhar a questão dos casais de segunda união, então a Igreja ela pensa em relação a isso, e eu trabalhado até lá em Correntes com a Pastoral, tentando implantar a dimensão dos casais de segunda união, porque nem sempre tem gente para fazer isso toda hora disponível, mas lembro que lá se diz no documento da Pastoral Familiar, por exemplo, que deve ser muito dito aos casais de segunda união que eles são amados por Deus, que eles podem e devem fazer sua experiência com Deus, assim como qualquer outra pessoa. Reconhecendo determinados limites, a Igreja diz isso. Os casais de segunda união deve ser amado, deve ser querido e acolhido como outro casal qualquer, agora diante da situação matrimonial em que vivem que não quer dizer que é melhor ou pior do que outros, o próprio casal tem que saber que há um certo limite, que a própria situação gera. O documento diz, por exemplo: “eu não posso comungar, por isso não vou a Igreja”, não! Existem outras formas de comunhão com Deus, eu não só estou em comunhão com Deus se for pela Eucaristia, lógico que está é fundamental é claro, mas posso está na Igreja e está em comunhão com Deus pela palavra, então a gente precisa saber dizer isso as pessoas. Claro você pode sim participar da Igreja, agora sem perder de vista que há um limite por causa daquela situação nem sempre procurou, que você nem quis que o casamento não deu certo, mas aí Deus sabe muito bem. Então a gente pretende aos pouquinhos pedir e ir amadurecendo, e conseguindo envolver nesse sentido, dizer isso que a Igreja ama cada pessoa, e que a pessoa deve participar independente daquela situação, porque Deus ama a todos indistintamente. Agora isso na prática não depende só do Padre, a gente sabe que isso depende de todos, porque o Padre não trabalha sozinho, ás vezes o preconceito não vem nem tanto do Padre, mas vem de quem está ali e já olha atravessado, de quem se senti melhor, é muito complexo, e é um trabalho a ser feito que dura um tempo.

Jornal Cidade: O senhor fala em documentos e nota-se que o católico em geral não estuda os próprios documentos da Igreja, e o senhor fala sobre os grupos e os documentos, e sabemos que existe também um status quo que infelizmente ainda persiste. Então o que fazer quando o grupo que deveria acolher não acolhe? Por pessoas dentro da Igreja, que como diz o próprio Papa “ao invés de construir pontes constroem muros”, como tentar resolver essa situação?

Padre Welington: Isso é um trabalho de conscientização que precisa ser feito, e a Igreja já faz isso há algum tempo, mas precisa melhorar sempre mais. Tentar mostrar aquilo que o Papa tem mostrado, ele fala muito que “a Igreja é mãe e acolhe cada um em seus braços”, cada um deve sentir-se de fato acolhido ou abraçado na Igreja. Então ele usa muito essa imagem da Igreja como mãe que acalenta. Então é um trabalho que eu vejo de conscientização, que não é fácil mais precisa ser feito aos pouquinhos. A Campanha da Fraternidade, por exemplo, um dos objetivos é que a Igreja apresente, sem perder sua essência a doutrina social Dela. Acolher não quer dizer que está tudo certo, como um pai, não pode dizer que para ser “bonzinho” tem que o filho está sempre correto, não! Tem que dizer: “olha meu filho eu sou seu pai, estou aqui para lhe ajudar, mas você está errado”. Precisa melhorar nesse caminho, pois acolher não quer dizer passar a mão na cabeça e dizer que está tudo certo. Tem coisas que estão erradas e que tem que ser ditas, e que a pessoa deve ser ajudada a corrigir o erro. Infelizmente, a gente sabe que há pessoas má intencionadas, às vezes até estão nos grupos, na Igreja e que precisam ir sendo corrigidas no sentido de melhorarem, pois é a própria imagem da Igreja que fica vista de forma negativa. Vejo que esse trabalho deve ser de conscientização, aos poucos, no dia a dia, no cotidiano, a gente percebe muito como fazer para aproximar mais, é o desafio da Igreja, portanto a Campanha da Fraternidade, essa dificuldade que há. Eu não tenho um projeto, mas isso é uma coisa que precisa ser vista aos pouquinhos, precisa ir sendo refletida, conversada, conscientizado; começando por mim, começando por quem está aqui dentro, para que a gente possa ir sendo essa comunidade mais acolhedora como tem que ser. Vai ser de uma hora pra outra? Eu vou conseguir realizar isso para deixar? Não! Mas cada um vai dando sua contribuição.

Jornal Cidade: Cristianizar ou Humanizar? Depois: Como utilizar dos meios de comunicação para fazer estas coisas?

Padre Welington: Eu acho que cristianizar e humanizar estão muito ligados, pois uma vez que vou sendo mais cristão, eu vou sendo mais humano, pelo menos teoricamente, deveria ser assim. A medida que faço o bem por Cristo, eu vou sendo mais cristão vou também, consequentemente, ser mais humano, e vice-versa. Eu sou muito a favor de aproveitar os meios que temos hoje para o bem, para evangelizar, minha visão é com relação à Igreja, pois Ela e principalmente a nossa Diocese é muito atrasada com relação aos meios de comunicação. Por exemplo cheguei em Curral Novo, uma igreja antiga, um lugar de quantos mil habitantes? 05 ou 06 mil, mesmo assim fiquei ‘aperreado’ porque estava no presbitério e não conseguia me ouvir, e tenho dificuldade de dicção, minha voz é muito média e precisa de um som melhor; percebi que uma das coisas que necessitamos é um som, para que comecemos a rezar melhor. Corri atrás, fiz um orçamento e falei com eles, sugeri e a gente colocou o som, ainda está em fase de teste, mas já está bem melhor do que antes. Porque vejo que as você vai para outras igrejas de denominações religiosas e percebe-se o quanto esse povo investe, por nova que seja, uma igreja de 15 anos, você vê tem algo de primeiro mundo. São coisas simples que poderiam ser feitas e que a gente não faz. Eu vi uma reflexão de um colega padre questionando o uso do facebook: “para quê usar isso? Isso vai fazer mal pra muita gente ainda!”. Ou seja: eu acho que tem que saber usar, aqui na Paróquia criamos ultimamente uma página no facebook, pois eu me pergunto: que mal tem usar desse meio para colocar fotos de uma festa religiosa que está ocorrendo em Curral Novo, por exemplo, para que milhares de pessoas vejam que aquela Paróquia está em evangelização? Depois que descobri esse “facebook”, comecei a passar muita coisa da Paróquia, com pessoas que diziam que já me acompanhavam há muito tempo, e que: “eu já via as coisas de sua Paróquia até sonhávamos que um dia teríamos coisas assim!”. Outras que dizia que tinham visto alguma coisa na Paróquia e tinham copiado, vejo que temos que aproveitar o que a gente tem hoje. Tem até um documento do Papa Bento XVI que fala sobre o uso das comunicações, trabalhei até nisso na PASCOM de Correntes. Vejo então que um som de qualidade na Matriz é indispensável, precisamos futuramente pensar nisso, tanto aqui quanto nas comunidades. Na paróquia de Correntes consegui montar um carro de som próprio, o que foi muito bom, para os mais diferentes serviços não necessitávamos está esperando por ninguém, deixei a Paróquia muito organizada neste sentido. Estou tentando usar a rádio, temos muito a fazer nesse campo: melhorar os programas, capacitar às pessoas... Repito: isso não acontece de hoje pra manhã, até porque é um processo e não depende só de mim, depende de pessoas que estão comigo.

Jornal Cidade: Voltando a primeira questão: o que fazer quando o cristianismo não humaniza?

Padre Welington: Continuar trabalhando, encontrando caminhos, não podemos desistir. Acredito que esse foi o objetivo de Jesus Cristo: trazer as pessoas para o meio e assim humaniza-las. Nem sempre a gente consegue, nem sempre a Igreja consegui ser aquilo que Cristo pensou. Eu conversava com alguém faz uma semana que me apresentou um material que dizia: ‘a Igreja é santa e pecadora’, eu disse: a Igreja é santa na sua origem, agora como membros da Igreja nós pecamos e terminamos manchando um pouco essa imagem de santidade da Igreja, mas Ela vem de Deus, e nada que vem de Deus que não seja santo. O objetivo de Cristo foi fazer com que a humanidade fosse mais humana, ele é o primeiro a fazer isso. Agora nem sempre a gente consegue, e por várias circunstâncias nem sempre a Igreja consegui ser aquilo que Cristo quer que Ela seja. Por mais que a gente exponha um projeto vamos consegui uma Paróquia ideal, mas não podemos desistir. Se há a dificuldade, se a gente não está conseguindo é continuar caminhando, como tenho sempre dito, com esperança vai encontrar os meios de tornar essa humanização mais ativa, mais presente. Encontrando caminhos e não desistir.

Jornal Cidade: O senhor falou sobre os meios de comunicação: a Paróquia terá PASCOM?

Padre Welington: Terá, já há um trabalho, pretendo e quero muito que tenha. Na nossa Diocese é uma deficiência enorme com relação a isso, aí volto a questão daquilo que disse antes: tudo depende muito de quem está a frente, a Diocese tem muito o rosto do seu pastor, como a Paróquia também. Dom Fernando por mais aberto que ele fosse em algumas áreas, mas nessa parte ele não trabalhou muito e até as vezes bloqueou algumas situações, não estou aqui questionando, mas a Diocese em si tem 23 Paróquias e não tem uma rádio diocesana! Tem nos dificultado de fazer um programa semanal que é doado por uma rádio, a Marano, e a dificuldade do padre Rivaldo que “se vira nos 30”, faz um programa de meia hora ás 06 da manhã, um horário que quase ninguém sabe. Então é um desafio, a Diocese ficou muito atrás nesse sentido, por mais que se tenha pensado em ideias, mas aqui na Paróquia pretendo. O trabalho da rádio já é um trabalho pastoral, a página no facebook também é sem dúvida já um sinal de que já existe pelo menos um sonho de uma PASCOM mais organizada, e se Deus quiser estaremos formando a PASCOM. Envolvendo pessoas que possam nos ajudar, e você que já trabalha na área, quem sabe ir ajudando, a gente vai se reunir e vai trabalhar isso.

Jornal Cidade: Na condução pastoral e na condição teológica: existem missas mais importantes que outras?

Padre Welington: Não, há missas que é missas, quem criou isso na Igreja, esses títulos em determinadas missas, que tem em todo quanto: missa da graça, missa inclusive de finados, missa da Renovação, missa do Apostolado, na verdade a missa é uma só, tem a mesma importância, por mais que apareçam elementos diferentes, mas a essência não pode deixar de existir, a essência da Eucaristia, vem do próprio Cristo o rito essencial, não mudou até hoje. É claro que algumas coisas foram sendo acrescentadas para puder falar mais na realidade de cada tempo. A missa em si é a mesma, agora a criação dos títulos e às vezes da forma de celebrar, tem gente que gosta mais de tal missa ou daquele padre, então volto à questão de estilo, não sei se é melhor ou pior, mas é estilo. Há até Bispos que concordam e outros que discordam.

Jornal Cidade: E o Padre Welington: concorda ou discorda?

Padre Welington: Eu concordo da seguinte forma: se você gosta de fazer que o faça, eu não faço, pois celebro a missa como está no Missal Romano, prezo muito pela Liturgia, gosto da Liturgia, eu acredito no que estou celebrando, não sou rubricista, ou seja, de não me virar porque o Missal diz que tenho que ficar de frente, que segue a risca uma rubrica. Pois se estou lá na periferia não vou agora querer fazer a missa como se fosse uma solenidade aqui na Matriz, a gente tem que se adaptar, mas procuro ter muito cuidado com a Liturgia. Eu tenho dito assim: as coisas deve ser simples, mas devemos fazer as coisas com dignidade, pois uma coisa é ser simples, outra coisa é ser relaxado. Então sou do tipo simples quando tem que ser, mas também gosto das roupas, gosto das músicas, gosto dos ritos, porque se a Igreja diz que é bom quem sou eu para dizer que não é? Claro: tudo com moderação, respeito quem pensa e tem o estilo diferente do meu, e gosto também de ser respeitado no meu estilo. Não sou contra quem quer rezar missa, sei lá: se pode dizer, diferentes? É uma questão de estilo e eu respeito, deixei muito claro quando vinha pra cá e disse que uma das coisas que eu não farei, e que não é meu estilo nem tenho carisma para isso é a missa (de cura) que ainda existe. Eu respeito com carinho, quem sabe ainda não irei em alguma?

Jornal Cidade: O senhor acha que essas diferentes missas para um contexto de pessoas com pouca formação, elas somam ou contribui para um entendimento difuso da própria fé?

Padre Welington: Às vezes determinadas coisas criam dúvidas, por exemplo, a Igreja tem o seu tempo e deve ser respeitado e tem seu significado, as pessoas falam: “padre tem coisas tão interessantes que eu não sabia”, e são coisas simples. Se eu digo de um jeito e você faz do outro, aí é que fica a dúvida, como: durante a Quaresma a Igreja diz que deve se evitar o uso de instrumentos e evitar palmas, a Igreja diz isso para a gente entrar no clima e depois mostrar isso de maneira solene na Aleluia Pascal; mas ligo a TV e vejo lá um padre batendo palma e cantando Aleluia, fica complicado e cria dúvidas. Os meios de comunicação tem uma influência muito grande nesse sentido isso começou recentemente com o padre Marcelo Rossi, e lembro que isso é um debate muito forte na Igreja, porque você aprende uma coisa na Paróquia e você liga uma televisão e está lá um Bispo ao lado de um padre, o que pressupõe que ele esteja de acordo com tudo o que está acontecendo e faz o contrário. Surge uma dúvida: quem está com a razão? O Padre daqui, coitado, que não estudou muita coisa ou será que um Bispo que está apoiando é quem tem razão?

Jornal Cidade: Neste contexto temos uma pergunta que as pessoas sempre fazem: Músicas protestantes dentro de cerimônias católicas, pode? Como será a questão das músicas nas missas em Águas Belas?

Padre Welington: Como prezo muito pela Liturgia, eu acho que isso é uma característica minha, não tenho medo de dizer, pois o que o padre tem que amar? Se eu não amo minha Liturgia, eu vou amar o que mais? A questão da música pra mim é essencial na Igreja, eu tenho tentado diminuir aos pouquinhos, hoje mesmo após a missa fui até os músicos, perguntei o nome de cada um deles, e fui até lá, disse que estava ali para ajudar, mais como pastor eu estou aqui para ajudar corrigindo. Aquele bate papo no coro na hora da missa, não condiz com o trabalho, o serviço de vocês. “Estou falando porque quero ajudar vocês, não levem como uma reclamação”, falei assim para não ser mal entendido. Então pretendo trabalhar, unificar as músicas na paróquia, quero fazer reuniões para escolher os cânticos que serão cantados em toda paróquia, respeitando cada tempo litúrgico. Entregarei Cd para cada comunidade, folhas de canto, pretendo que tenha folhas para o povo também, eu pretendo dar uma formação nesse sentido porque eu gosto e sei que é importante, e isso vai ajudar as pessoas a perceberem que determinadas músicas, por exemplo, uma música protestante, ela não se adequa ao rito católico. Por exemplo, eu duvido muito que em uma igreja protestante tenha um casamento, digam que escolheram como entrada a ‘Ave Maria’, e que estes aceitem, então eu não irei aceitar porque há algumas coisas nas músicas, com as letras que a gente não concorda. Isso é norma da Igreja, pretendo tratar disso com carinho, também não é só porque é protestante que não deve tocar, mas, por exemplo, eu gosto de MPB que irei colocar na missa, isso não é norma de padre Welington e sim da Igreja. Pretendo trabalhar isso com formação, principalmente com quem canta em casamento, na Paróquia trabalho deste jeito por ser correto de acordo com a Igreja, se em outras paróquias não agem assim, deixa de ser um problema meu e passa a ser do padre, pois quem pagará diante de Deus ou do Bispo será cada um.

Jornal Cidade: Como desenvolver o trabalho pastoral em um ambiente crescente de igrejas protestantes evangélicas, pessoas com crenças próprias, mas sem religião e o ateísmo?

Padre Welington: É o desafio da Igreja no mundo de hoje, mas acredito que é possível fazer isso através do respeito e do diálogo, e da convicção. Eu tenho que ter primeiro convicção de minha religião, de minha fé. Convicção que me diz que eu não posso colocar tudo em um liquificador e dizer que tudo é a mesma coisa, pois tenho que ter convicção de minha doutrina, dos ensinamentos da minha Igreja, e não é ninguém que vai me influenciar. Uma vez que se tem convicção, eu devo ter respeito pelo outro, pois se eu tenho convicção de minha fé e outro tem da dele, deve haver um respeito, e partir disso o diálogo. Sei que é difícil, mas é possível. É muito complexo porque há um fechamento muito grande. Lá em Correntes, eu sempre uso porque foi minha última experiência, houve um evento chamado “Corrieta”, há dois anos. É um carnaval fora de época, tem uma programação grande, e surgiu a ideia dentro do contexto da Corrieta de fazer um palco gospel, envolvendo as várias igrejas de lá; no primeiro ano me convidaram, não convidaram a Igreja para participar tocando músicas, e eu fui, isso causou uma repercussão, porque ninguém acreditava que eu iria: ia entrar ficar sentado e assistindo? É tanto que só um ou dois veio me cumprimentar me acolheu, mas a maioria me olhou de modo atravessado, como se eu fosse um ser estranho ali, porque a ideia era fazer um palco que envolvesse as igrejas, não somente algumas igrejas evangélicas. Segundo ano (o ano passado), me chamaram e foram mais além, pois os organizadores era a Secretaria de Cultura e disseram: “a Igreja Católica deve está presente, e se é para que todas as igrejas estejam presentes a Igreja Católica não pode ficar de fora”; ligaram pra mim e pediram que mandassem um grupo, para uma apresentação simples de uma música, providenciei um grupo, mas foi muito difícil, pois foram lá em casa e pediram para que eu mostrasse a letra da música. Eu disse: “tudo bem, não é uma regra de vocês?”, mandei então com antecedência pra eles, a letra a música, porque era um critério dos organizadores. Se fosse no meu caso, em um casamento, também iria pedir para ver as músicas. É um desafio, pois os grupos evangélicos vários conseguem se entender, mas entre eles mesmos, nesta festividade, alguns não participaram nos dois anos seguidos, o que inicialmente era um momento deles. Eu tinha um amigo pastor (em Correntes) que eu fui jantar na casa dele, ele também foi jantar lá em casa, tinha esses sinais. De vez em quando alguns arranhões, como disse antes: tem que se ter convicção, e convicção e respeito não é abrir mão daquilo que é meu. Por exemplo: fiz um grande evento lá (Correntes) para acolher a imagem da padroeira que ficou 09 meses sendo restaurada, na entrada da cidade. Sempre que passávamos de frente as igrejas evangélicas eu dizia: vamos fazer silêncio em respeito aqueles irmãos que estão orando, eles precisavam assim como eu preciso de silêncio. A gente passou silêncio, só que era uma grande multidão e no outro dia, esse pastor era amigo, foi para a rádio e ridicularizou com Nossa Senhora, com a Igreja. Aí nós travamos uma certa “briga” que depois a gente conversou e ele reconheceu que tinha errado, e disse: “me desculpe padre, pois eu feri vocês”. Tem os arranhões assim, é inevitável porque não só depende da gente, tentamos fazer, mas os leigos e aqueles que estão mais ligados a gente são um pouco mais difícil, às vezes parte da cabeça da gente também. Acredito que é possível , estou aberto sem perder minhas convicções, é claro, sem perder aquilo que é nosso. Não vou deixar de soltar uns fogos, dá um viva a Nosso Senhor Jesus Cristo, um viva a Nossa Senhora porque alguém se sente incomodado, pois isso não é convicção, é falta dela. Então acredito que é possível um diálogo e fazer um bom trabalho, não sei como é aqui, mas tentarei.

Considerações finais Padre Welington:

O que tenho a dizer é desse meu desejo, dessa minha alegria de está aqui. Estou muito tranquilo, porque estou procurando fazer aquilo que é de meu alcance, dando tempo ao tempo, tem gente que gostaria que já mudasse hoje, não é assim eu tenho que chegar, tenho que conhecer, tenho que ouvir a comunidade, tenho que sentir, colocar os pés no chão para puder ir dando minha contribuição. Mas estou tranquilo, estou muito feliz e continuo acreditando que tem tudo para dar certo o nosso trabalho, e conto com a ajuda das pessoas, porque esse trabalho não é só meu, é um trabalho de toda a Paróquia de todo o povo, então como sempre tenho dito: aqueles que querem ajudar de verdade, ajudar para o bem mesmo sejam muito bem vindos. E espero está contribuído para ter uma Paróquia cada vez melhor, é isso que eu espero inclusive de quem faz a imprensa, inclusive das autoridades, de todos que compõem a sociedade, eu vim para somar, para ajudar a Igreja, para ajudar a sociedade a ser uma sociedade melhor. Mais humanizada, mais cristianizada, uma sociedade melhor para cuidar do próprio ser. É isso que eu espero, estou muito feliz e confiante, já sinto o peso, sinto o cansaço, o calor das estradas, de dirigir, dos animais, mas me sinto confiante.

Ildebrand Gutemberg
Enviado por Ildebrand Gutemberg em 19/03/2015
Reeditado em 01/04/2015
Código do texto: T5176046
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