Entrevista Com Bernard Gontier

ENTREVISTA CONCEDIDA PELO ESCRITOR BERNARD GONTIER AO APRENDIZ DE ESCRITOR HEBANE LUCÁCIUS

Hebane: Em breves palavras, quem é Bernard Gontier?

Bernard: Em breves palavras, grão de areia, mais um filho de Deus, aprendiz em (tentar) equilibrar Lado A e Lado B.

Hebane: Constata-se, em seus Escritos, um forte apelo espiritual, o que permite aos leitores e aos apreciadores dos seus Textos identificar a espiritualidade como o traço mais marcante da sua Literatura. Você concorda com isso?

Bernard: Nunca pensei nisso. E desde já te agradeço o insight. Precisaria de tempo para trabalhar nessa noção que você colocou.

Hebane: Além da espiritualidade, que outras características você considera marcantes em sua obra?

Bernard: Um pouquinho de humor, dependendo da fase. Outro pouquinho de informações curiosas. Tentativa de dialogar com quem lê. Dependendo da fase, tem uma veia poética (meia boca) que gosta de se expressar. Eu creio que a mente se comporta de várias formas, emoções idem, no dia da indignação vai sair um texto nesse tom, no dia da doçura, outro tom, e assim vamos. Além disso, não consigo ver nada marcante e sim, ocasional.

Hebane: Você se considera seguidor de alguma doutrina espiritual, filosófica e/ou religiosa? Em caso afirmativo, qual?

Bernard: Me considero seguidor de uma religião que ainda não existe, e que poderia ser chamada de doutrina dos Mestres Ascensionados, isso para resumir uma coisa que não tem nome, mas é - também - um local de consciência e obviamente Nosso Senhor Jesus Cristo está lá. ELE e uma vastidão de Seres.

Hebane: O que surgiu primeiro em sua vida, o interesse pela espiritualidade ou o apreço pela Literatura?

Bernard: Pergunta difícil. Vou te responder da seguinte maneira: Fiz minha Primeira Comunhão aos 7 anos, aos 13 lembro de uma professora de Português que reclamava das minhas redações sobre o IRA e me perguntava toda semana se eu ia escrever algo diferente. Ela era bem amiga, chamava-se Vera, sei lá o que é que eu escrevia, mas gostava de. Agora, para ser mais preciso nessa resposta, te digo que a Busca Consciente pela espiritualidade começou muito depois da Dona (ou Tia?) Vera.

Hebane: Quando e de que forma se deu o seu primeiro contato com a espiritualidade?

Bernard: Ando pensando nisso ultimamente sob o seguinte enfoque: a espiritualidade sempre esteve presente, ocorre que o tempo molda a argila, cada fase da vida um percebimento, uma nova informação, uma prática, uma noção sobre determinado ângulo. Não houve um evento divisor de águas e sim uma sequência interminável de ocorrências que continuam ocorrendo.

Hebane: Quando e de que forma se deu o seu primeiro contato com a literatura?

Bernard: Se considerar Uderzo & Goscinny, Hergé , Carl Barks, Mauricio de Souza, então vamos dizer, lá pelos 9 anos. A estrada continua e logo a seguir apareceram uns caras bem legais, Hermann Hesse, Fernando Sabino, Murilo Rubião, e assim, com o tempo, mais nomes…

Hebane: Quando e de que forma você se descobriu Escritor?

Bernard: Acho que, na época do vestibular, quando eu quase zerei em exatas e tirei 10 na redação. Nesse momento apareceu um Ops, será?

Hebane: De todos os livros que você já leu, qual(is) considera ter(em) sido o(s) que mais marcou(aram) sua vida como leitor?

Bernard: Um monte. Destacar um é difícil. As leituras foram acontecendo praticamente em bloco. Vamos dizer, da adolescência até uns 25 anos, de Camus a Guimarães Rosa, de Agatha Christie a Érico Veríssimo, Huxley, o Bhagavad Gita me marcou muito, Antoine de Saint-Exupéry idem, Orwell, Pessoa, nunca gostei do Sartre, do Machado mais ou menos, depois descobri o Eça e foi uma festança, daí o Simenon, entre um e outro o Noah Gordon, a coisa não pára, ainda bem. Agora, pensando um pouco, aproveito o ensejo para mencionar dois trabalhos que na minha opinião deram novo sentido ao termo excepcional. Autobiografia de um Iogue, do Paramahansa Yogananda e A arte de amar, do Erich Fromm.

Hebane: Ainda sobre as obras que já leu, de qual(is) delas você gostaria de ter sido o Autor?

Bernard: Vou ficar te devendo essa resposta.

Hebane: Você tem ídolos no âmbito literário? E em outras Artes, você tem ídolos? Se os tem, quem são?

Bernard: A percepção vai mudando, e desse modo o paladar. Acho ídolo uma palavra muito forte para aquilo que por um lado pode ser interpretado como “questão de gosto”. Alguns autores que eu aplaudia aos 20 anos hoje ganharam outro formato. Entretanto, no campo da música digo que o Joe Pass continua sendo o maior guitarrista de todos os tempos. Isso permanece. Curioso, não? A admiração pelas outras artes é imensa, elas se completam e me completam.

Hebane: De todos os Autores com quem você já teve contato através da leitura, qual(is) pensa ter(em) sido o(s) que exerceu(RAM) maior influência sobre a sua maneira de escrever?

Bernard: Creio ser um tanto vasto o leque de influências, chega uma hora em que isso se dilui, vai para o piloto automático e então surge o momento de apertar o “pause" e descobrir o que está dentro, querendo sair de modo mais afinado com a própria essência.

Hebane: Existe algum Autor que você lamenta não ter lido? Em caso afirmativo, qual?

Bernard: Acho que não. E se for pra ler, vai aparecer, sempre aparece.

Hebane: Você crê em inspiração? Se crê, como a define?

Bernard: 100%. Indefinível. O problema é que não fica só nisso. Depois que a Deusa da Inspiração se apresenta graciosamente, ela em seguida brande o chicote e grita: trabalha, peão!

Hebane: Dos Textos que compõem a sua Lavra, muitos são os que discorrem acerca do processo de transformação pelo qual o planeta Terra tem passado e vem passando. Sendo assim, segundo sua percepção, qual deve ser o papel das Artes e dos Artistas nesse processo?

Bernard: Tenho colocado algumas informações por achar relevante compartilhar com o maior número de pessoas, mesmo ciente de que meu alcance é mínimo. Quanto ao papel das Artes e dos Artistas, basta serem autênticos.

Hebane: Analisando a sua própria Escrita, quais pensa ser(em) sua(s) intenção(ões) e seu(s) objetivo(s) ao escrever?

Bernard: Traduzir alguma coisa que até então ainda não estava clara para mim. Escrever, às vezes, clareia. No mais, o objetivo da escrita em si. Noutras palavras, faço porque gosto e sei fazer.

Hebane: Qual(is) é(são) o(s) tema(s) que te inspira(m), ou, que mais te inspira(m) a escrever?

Bernard: Acho que a resposta mais honesta seria próxima de: Muito amplo, muito sazonal. Uma vez fiquei hipnotizado pelo gesto de uma garçonete em Brasília, que achou e devolveu um dinheirão. Isso foi em janeiro de 2008. Não sosseguei enquanto o texto não saiu. Ou quando descobri sobre a existência de um cara chamado Walter Russell.

Hebane: Dos diversos gêneros textuais e literários que já lhe foram apresentados por meio da leitura, qual(is) é(são) o(s) que mais lhe agrada(m) ler?

Bernard: Desconheço a fórmula. Seria mentira se eu dissesse crônica ou prosa poética, por exemplo. Um bom romance me agrada tanto quanto um trabalho de enfoque histórico. O segredo está em quem empunha a pena. Uns 15 anos atrás conheci a obra da Wisława Szymborska. Caí pra trás. Em 2014 descobri o Gonçalo M. Tavares. Pelo que li, achei o cara um craque.

Hebane: Dos vários gêneros textuais e literários a que se tem dedicado a sua Escrita, qual(is) é(são) o(s) que lhe proporciona(m) maior prazer ao escrever?

Bernard: Desculpe a franqueza, e nem acho que eu seja tão versátil assim, mas no fim é a mesma canção sob outras formas, e, cá entre nós, o prazer de escrever não raro tem um quê de dolorido.

Hebane: Você tem algum sonho literário? Se o tem, que sonho é esse?

Bernard: Já tive. Ficou lá, lá atrás, o RL está de bom tamanho para mim. Que mais eu posso querer?

Hebane: Já lhe passou pela cabeça a idéia de publicar um livro? Caso tenha passado, o que foi que faltou para que tal idéia pudesse ter sido concretizada?

Bernard: Escrevi e publiquei 11 livros, o primeiro em março de 1988, o último no início de 2016, edição de autor. Por hora não tem nenhum na gaveta e a cabeça anda mais vazia que boteco em quarta feira de cinzas. Não sei o que o futuro me reserva nessa área.

Hebane: Para você, o que é ser Escritor?

Bernard: Um observador em tempo integral que ao longo da caminhada desenvolve certa habilidade em moldar truques, elegantes, se der sorte, de comunicar o que observou.

Hebane: A paixão pelo Cinema é outra marca bastante presente em seus Escritos. Com base nisso, lhe pergunto: Quando e como foi que começou essa paixão?

Bernard: Desde sempre, e o mais interessante é que só aumenta.

Hebane: Dos filmes a que você já assistiu, qual(is) foi(RAM) o(s) que mais marcou(aram) a sua vida até hoje?

Bernard: A lista é muito grande.

Hebane: Se a sua vida fosse transformada num filme e coubesse a você intitulá-lo e definir-lhe o gênero, que nome ele teria, e em que gênero cinematográfico ele se enquadraria?

Bernard: Uma comédia agridoce, e o título seria As Aventuras do Tiozinho.

Hebane: Se você pudesse assumir a identidade de uma das personagens dos muitos filmes a que você já assistiu, que personagem seria essa? Por quê?

Bernard: Passa tanta coisa pela cabeça, tantos personagens, com características tão diferentes. Vou resumir, senão vira uma novela. Gosto dos estóicos, os que falam pouco e mostram serviço, vide o Steven McQueen, em “Bullit”. Por que? Porque com certeza eu falo demais e não sou tão prático.

Hebane: Se lhe fosse autorizado transformar em filme algum episódio da história recente do Brasil, que acontecimento seria esse? Como se chamaria o filme?

Bernard: Sergio Moro estaria no filme. Não sei como se chamaria, mas sem dúvida alguma a história recente do Brasil merece uma penca de filmes desses peso pesado, tipo “JFK”, do Oliver Stone e um "All the President's Men” do Alan J. Pakula, filmes à altura da história que contam.

Hebane: Segundo sua visão, como pode ser definida a Literatura de Bernard Gontier?

Bernard: Esforçada, bem intencionada e na melhor das hipóteses oscilando entre sofrível e mediana.

Hebane: Que mensagem você gostaria de deixar para os admiradores do seu trabalho?

Bernard: Aquele abraço.

Hebane: Que recado você gostaria de transmitir aos seus detratores? Se é que você os tem?

Isso não me soa uma ideia agradável.

Hebane: Que conselho você daria àqueles que desejam ingressar nas lides literárias na condição de Escritores?

Bernard: Amor e fé, ambos pela escrita.

Hebane: Muito obrigado pela entrevista! Foi, para mim, uma imensa honra tê-lo em meu Recanto como meu quinto entrevistado! Espero ter a oportunidade de recebê-lo mais vezes neste modesto espaço!

Bernard: Eu que agradeço. A honra foi toda minha.