Entrevista com a autora Maria Cristina Pinheiro Moita

Entrevista

ICE- O que é para si a poesia? E o que é para si um poeta?

Maria Cristina Pinheiro Moita- A poesia é a arte de exprimir os sentimentos, e os sentires por palavras. O poeta é alguém que escreve poesia, que a sente, transmite e canta através das palavras.

ICE-Como foi o seu primeiro contacto com a poesia?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Na música, desde pequena que gosto muito de música, a minha mãe era uma inspiração para mim enquanto cantava fado (bem ou mal), mais tarde na escola com a minha rebeldia e juventude.

ICE-Escreve apenas poesia ou também tem interesse por outro género literário?

Maria Cristina Pinheiro Moita- É como na culinária, embora possa fazer comer, gosto mais de doces, os doces são os poemas onde me sinto mais à vontade, e o que realmente me inspira a fazer.

ICE-Prefere escrever quando está sozinho ou a vida que o/a rodeia é também a sua

inspiração?

Maria Cristina Pinheiro Moita -(Ig) nota

Preciso de silêncio para escrever

De energias boas à minha volta,

Preciso de sentir o que eu quiser

Amor, dor ou até revolta…

Escrever não é fácil

Muitas vezes dói…

Muitas vezes até chora…

De contentamento é uma vitória.

Escrever não é apenas um passatempo

É um modo de deixar fluir o sentimento,

Uma onda de música...uma gaivota...

Não sou perfeccionista, só um pouco autista,

Se “herrar” uma vírgula - dêem-me má nota!

Não sou escultora de letras

Apenas (Ig) nota

ICE-A que autor(es) escreveria um poema em agradecimento ou homenagem pela

inspiração que lhe transmitiu?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Mia Couto, Ary dos Santos, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Florbela Espanca, Natália Correia, António Aleixo, Sebastião Alba e tantos, tantos outros. Deixo aqui alguns dos tributos que já fiz:

Se eu pensar como Pessoa

Se eu pensar como Pessoa

Que pessoa nasce em mim,

Que chapéu levo na proa

Que chorar de benjamim.

Sinto-me tão idiota

Como quem lê um jornal,

Olhando para uma gaivota

Tentando ser magistral.

Em pensamentos do mundo

Fumegando pela calçada

Como se fosse um defunto

D´uma casa branca caiada.

Guardo um legado de histórias

Sem perder a filosofia,

Contemplando tantas memórias

Em semblantes de poesia.

Sigo o elétrico e a carris

Esbatidos em aguarelas,

Tenho amor até aos afins,

Sinto morder as cadelas.

Sou a procissão do espanto

Sou o amor e a agonia,

Sei escrever com muito encanto

Sou o mar de quem escrevia.

Cristina Pinheiro Moita do meu Livro “Estrelas de Afeto”

Ao poeta “Mário de Sá-Carneiro”

Ao poeta no seu eu escrevo:

O mais semblante querer,

Âmago no mundo turvo

Fulminante a efervescer.

Pujante na ansiedade

Vivia sem poder ser

Na mesa de uma cidade

Frenético no seu prazer.

Peças de teatro ergueu,

Poemas, criou a doer

Artes futuristas no “eu”

Dele muito a entender!...

“A um suicida” escreveu,

Não sei porque se matou?

Se o tanto ele escreveu

Nas noites que cá deixou.

Tragam o burro que queria

Os palhaços e os acrobatas

Pois ele só morreria

Com o nosso bater de latas.

Cristina Pinheiro Moita “Do Livro – Tributo a Mário de Sá-Carneiro “

À míngua -Tributo a Sebastião Alba

Amorfanhaste

num espírito de liberdade

O corpo,

Fumegaste as noites

Prisioneiro de papéis soltos

Com as mesmas vontades

Com que se desnudam as mentes.

Oferecendo os sapatos

À míngua. À língua

Retiraste as paredes da sala

Com um enorme e aparente

reportório mendigo

Só, de gente.

Ao sol ofereceste

A poesia

Que soltaste

Das mãos

Pelos caminhos vendados.

Cristina Pinheiro Moita “Do Livro – Tributo a Sebastião Alba“

Amigo Aleixo

Volta aqui amigo Aleixo,

“Olha bem para este mundo”

Nesse puro sem desleixo

Acorda o que está imundo!...

Andam tantos a roubar

Outros matam sem razão,

Como se faz para parar

Do assassino ao ladrão?

A carrinha mal apita

Com o padeiro a passar,

O fato perdeu a chita

Sem pedal para costurar.

Anda tudo remendado

Com as costuras para fora,

É preciso um debruado

Bem arrematado agora.

Volta cá meu caro Aleixo,

Não quero ficar sozinha!

O que será deste trecho,

O mundo perdeu a linha.

livro “O Voo da Flor”

ICE-Alguma vez quis ou sentiu a necessidade de frequentar um curso de escrita criativa?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Não.

ICE- Gosta mais de livros físicos ou os livros digitais (e-books)?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Tanto me faz, qualquer sítio é bom para ler, quando nos apetece.

ICE-Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar o seu poema? Ou vai

criando à medida que escreve?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Vai fluindo, são momentos! Não se constrói uma casa pelo telhado.

ICE-Quais são os seus autores preferidos (nacionais ou estrangeiros)?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Mia Couto, Ary dos Santos, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Florbela Espanca, Natália Correia, José Régio, António Aleixo, Sebastião Alba e tantos, tantos outros.

ICE- Tem alguma obra publicada ou que gostasse de vir a publicar? Quer falar-nos desses projetos?

Maria Cristina Pinheiro Moita- Sim. Tenho quatro livros de poesia publicados “Corpo de Corcel”, “Falua da Saudade”, ”O voo da Flor” e “Estrelas de Afeto”, e entrei em muitas outras antologias e revistas. Estou a trabalhar em mais dois livros, um deles mais para o publico infantil.

Se me quiserem conhecer um pouco melhor, consultem as minhas páginas nos links a baixo:

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