Útero e Flor

À minha mãe, ao meu filho

Ventre.

Vaso atemporal de seres.

Vindo e a sendo,

Múltiplos

Potências latentes que pulsam

em cada entranha de ti,

mulher.

Germinar.

Partir ou

surgir.

Sementes que se tornam , em tua acolhida,

humanos demasiado de nós

Mãe,

que já és desde tempos de outrora

refaz, em ti, o encontro de vidas

desde o Início.

Mulher,

que me faz acreditar no segredo

quase inaudível

da trajetória dos ventos.

Fêmea

que me aponta no horizonte

a beleza da dança etérea

dos pássaros em migração.

Senhora,

que me faz crer no desejo silencioso das águas,

enseadas que me percorrem a alma

e revelam-me o soneto obscuro da lua em prata.

Não sei como o fazes

ou que receita é essa

de magia,

de puro devir

Ardor.