Conto Nublar #034: TESTE DRIVE - NA DÚVIDA, NÃO ULTRAPASSE! (*)

Juninho era um garoto saudável e muito esperto.

Na escola, era um aluno muito aplicado e bem desenvolvido para a sua idade. Era hiperativo e estava sempre envolvido em alguma atividade. Ele tinha sede de conhecimento e estava sempre antenado, a fim de captar novos conhecimentos e ter respostas para os seus questionamento que não eram poucos.

Naquela época passava por momentos de turbulência emocional. Não conseguia entender porque tão de repente tudo mudara, assim, bruscamente. Quando fora pedir a bênção dos pais para dormir, seu tamanho era na altura do umbigo de Seo Juca. E agora, ao abraçar o pai e sair para a escola, o seu tope era no peito, quase no queixo paterno, sentindo dores nas pernas e nas costas, devido o estirão noturno do crescimento. Não ligou para aquele detalhe, mas algumas coisas em seu corpo lhe pareceram muito estranhas. Pelos nas axilas e no púbis apareceram do nada. Lábios superiores entumecidos pelo buçar precoce de tenros pelos no bigode.

- “Bênção, Pai! Bênção, Mãe!”, falou costumeiro ao se despedir, rumo à escola. Notou que sua voz soara bem estranha, como um som de taquara rachada, num misto de grave e agudo. “Lá vai! Acho que estou ficando rouco”, pensou.

- “Presente, Professora!”, respondeu à chamada, mas arrancou uma tremenda gargalhada dos colegas, pois falara grosso em “Presente, profes...” e afinou de vez em “... sora”. Não gostou nem um pingo da brincadeira e ficou vermelho de vergonha. Mas aquilo foi passando e dificilmente se repetia. Também, tinha receio de falar e soar daquele jeito outra vez. Acabara de completar catorze anos e sentia-se muito estranho. Odores fortes exalava de suas axilas. Um incômodo estranho, mas agradável, em suas genitálias aos poucos lhe chamava a atenção.

Naquela noite fora dormir mais cedo. Próximo ao despertar, teve um sonho muito estranho que não soube contar. Só sabia que foi muito gostoso e que envolvia a sua colega Belinha. Levantou, como de costume, e foi urinar. Percebeu que sua cueca estava molhada com algo pegajoso, de odor muito forte, lembrando água sanitária. Todas essas recentes descobertas o preocupavam e, por mais que tentasse entendê-las, não conseguia. Sentiu uma coceira agradável na extremidade de seu membro. Não resistiu ao apelo do prurido e, quanto mais coçava, mais vontade sentia. Prosseguiu naquela novidade até que sentiu quase que um desmaio momentâneo, uma síncope, mas recobrou os sentidos instantaneamente. Notou que sangrava um pouco, uma leve dor pelo freio rompido e o mesmo líquido que encontrara na cueca agora jorrava a jatos intermitentes. Ao sair do banheiro, uma das doméstica arregalou os olhos e num quiquiqui com cacacá, comentou zombeteira com a outra: "Ué! Não sabia que meninos ficavam de bode!"

- “Meu Deus! O que é isso que está-me acontecendo?”. Meditava em um misto de medo e curiosidade. Foi tomar o café da manhã com os pais. Era um sábado e não havia aulas. Depois do desjejum, foi ao alpendre, tentando entender o que estava a acontecer. Quanto mais pensava menos entendia.

- “Filho! Tudo bem com você?”, pergunta-lhe o pai, solícito.

- “Sei não, Pai! Está tudo muito estranho.”, responde-lhe o Juninho. “Ontem fui dormir, e minha testa batia em seu umbigo. Hoje, estou acima de seu peito, quase no queixo. Mas não é só isso, não. Tive um sonho esquisito, mas gostoooso! Não saberia contar, mas acordei com essa coisa se comportando diferente e, quando fui mijar, minha cueca estava toda melecada.”

- “Mas, e esse pingo de sangue em sua braguilha? Sabe dizer o que foi?”

Sentindo-se descoberto, ficou vermelho, gaguejou e não soube explicar. Então o seu pai, aproveitando o evento, disse-lhe que já passara por tudo aquilo e começou a contar sua história de amor pela Ritinha, sua esposa e até, de forma clara, mas sutil, contou-lhe como ela ficara grávida e como ele nascera. O Juninho tinha muitas perguntas que Seo Juca prontamente lhe esclarecia. Depois de tudo bem explicado, seu pai lhe disse que, se tivesse outras perguntas, sobre qualquer assunto, que ele não se envergonhasse e perguntasse o que quisesse que teria uma resposta, se não de imediato, logo, logo, teria, após pesquisar e saber o que dizer. Não procurasse ajuda de ninguém sem o seu conhecimento.

- “Está bem, Pai. Só peço que nunca me mande pedir conselhos ou me confessar com o Padre Cezinaldo.”

- “Tudo bem, filho! Mas porque essa agora?”

- “Ah, Pai! Sabe o Ozélio, filho de Seo Celênio? Perguntou tudo isso ao seu pai e este mandou que se confessasse. Então o confessor mandou se aconselhar com o aspirante a seminarista GM. Este, levou a conversa para os fatos e agora vivem brincado de trenzinho, e virou o prato do dia, nas brincadeiras dos colegas. Ganhou até o apelido de mulherzinha. Tô fora, Pai!”.

- “Calma, filho! Você não precisará de mais ninguém além de mim ou sua mãe. Vamos ser confidentes e amigos. Pode sempre contar conosco.”

- “Tá certo, Pai! Mas por que, de manhã, aquilo aconteceu comigo no banheiro? Será que estou doente?”

- “Não, meu filho! Isso é normal. Vou-te contar um fato que me ocorreu nesta semana. Lembra de quando eu fui comprar aquela camioneta ali?” Juninho assentiu com a cabeça. “Então! Você foi comigo e quando chegamos à concessionária, eles me ofereceram primeiro um “teste drive”. Está lembrado?”

- “Hum! Hum!”, murmurou o garoto."

- “Pois é! Costumamos fazer um teste desses quando vamos realizar um grande investimento, para não adquirirmos algo com defeito. Entende?” “Hum! Hum!” respondeu o filho.

- “Então é isso o que lhe ocorreu. Você agora está-se tornando um rapaz. Mais mudanças ocorrerão até você se tornar um homem maduro. E não precisa ficar envergonhado por causa dessa mancha de sangue na bermuda. O que ocorreu foi o rompimento do freio ou cabresto do seu prepúcio, essa pelinha que encobre a glande, ou seja, a cabeça do seu pênis.”

- “E eu vou pro inferno porque fiz aquilo?”

- “Claro que não, filho! Aquilo foi somente o seu 'teste drive”. Só não deve ficar viciado nisso. Já sabe que funciona. E não deve ficar testando nas meninas, senão vai ser pai antes do tempo. Deus não lhe deu isso como portal para ir ao inferno, mas para ser um instrumento de prazer a desfrutar com sua esposa e juntos poderem também gerar filhos. Tudo tem que ter controle. Comer e beber é salutar, mas se comermos ou bebermos feitos glutões e beberrões, poderemos entrar em condenação, a partir da perda de nossa própria saúde. Deixe-me contar uma parábola.”

E falou-lhe sobre as frutas que havia no pomar. Tomou uma banana e uma manga verdes e perguntou-lhe se elas eram mais gostosas verdes ou maduras. Juninho prontamente respondeu que maduras são muito mais saborosas, embora conheça pessoas que as prefiram verdes.

- “Certo, mas creio que usam de artifício para assim comê-las. Correto?”

- “Isso mesmo, Pai! Agora me lembro que minha mãe cozinha as bananas verdes no feijão ou carne, como se fossem macaxeira. E a Belinha come manga e seriguela verdes, mas põe sal e vinagre para poder mascarar o azedume delas. E ainda ficam com os dentes embotados. Ela disse que só gosta dessa forma. Que as maduras não têm a menor graça para ela.”

- “Isso mesmo, Júnior! E é o que ocorrerá com o seu membro se continuar a brincar dessa forma com ele. Depois do seu 'teste drive”, deverá mantê-lo sempre limpo, assim como eu faço com a minha camioneta e deixo-a sempre limpa por fora, mas, de vez em quando, levanto o seu capô e lavo-a bem por dentro. Do mesmo modo, ao tomar banho, você deve puxar para trás o seu “capozinho”, remover aquele sebo gosmento e mau cheiroso, parecendo peixe podre que se acumula no pescocinho. E, se depender de você, mantenha-se virgem até o seu casamento para que, ofereça isto, como penhor à sua futura esposa, mesmo com o risco de ela não ter o mesmo para te oferecer, mas você tem a opção de buscar uma virgem igual a você, tarefa meio difícil nos dias de hoje, mas não custa tentar.”

- “Mas Pai! E o que eu digo para os meninos que vivem me peitando, querendo que eu prove que sou homem e essas coisas?“

- “Meu filho! De uma vez por todas quero que aprenda que você é homem desde que foi gerado. Nasceu homem e nunca vai precisar ter que provar aquilo que você já é e sempre foi. Disso você já tem consciência, pois a própria natureza já se encarregou de fazer o seu “teste drive”. Entendido?”

- “Entendi muito bem, meu pai! E quando eu tiver qualquer dúvida ou estiver em conflito, se prepare, pois vou sempre zoar em seus ouvidos. Você é meu amigão e o melhor pai do mundo. Valeu, Pai! ”

- “Com certeza, Filho! Mas haverá momento em eu que não estarei por perto, mas terá que aprender sozinho e fazer valer o seu bom senso, se baseando no que já aprendeu. Nesse caso, faça como a Lei de Trânsito: Na dúvida, não ultrapasse!”.

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(*) Baseado em fatos reais.

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Glossário:

Antenado – Atento.

Buçar – de buço, primeiros pelos do bigode. Criar bigode na adolescência.

Ficar de bode - menstruar.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 09/10/2011
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T3265988
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