Conto Nublar #045: AS DEZ VENTURAS DE ZECA SPLIT KADÍNIO

Conto Nublar #045: AS DEZ VENTURAS DE ZECA SPLIT KADÍNIO 

Uma ficção social

 

Minha casa está situada num dos bairros nobres de minha Cidade.

Frente voltada pro nascente, fato que nos favorece. Sobre o segundo piso, a caixa d'água se faz um privilegiado mirante de onde desfruto magnífico panorama. Contornando a linha do horizonte, o olhar poético se nos faz sentir um caloroso e forte abraço desse vislumbrante Chapadão do Araripe, onde repousa docemente a Flona. Nossa Urbe surge incrustada qual precioso diamante no verde Vale do Cariri, com o topônimo de Crato.

É carinhosamente cognominada A Princesa do Cariri, Capital da Cultura, devido abrigar a longas eras a URCA - Universidade do Cariri e também por seu histórico empenho e pioneirismo em promoção da cultura.

 

Gosto muito de sentar-me no banquinho do meu jardim, cuidadosamente mantido pelo muito cheio de si, o jardineiro Zeca Split Kadínio, ou simplesmente, Zecas. Ao estilo suíço não há cerca ao redor da casa e jardim.

- "Bom dia, Sr. Od! Tudo na Santa Paz?"

- "Tudo! Na Santa e Gloriosa Paz do Senhor!". Era assim que eu teria que responder, se não quisesse pascer um sermão interminável! Ele gostava de exibir a sua vocação para prédica, com profundos conhecimentos de Homilética, Hermenêutica e História  e Geografia Bíblicas. Ainda bem que fiz direitinho o meu dever de casa, senão, já viu como é que é. Seria assunto pra mais de horas. Nem sei porque aquele pobre homem ainda não era um Pastor ou um Rabino, porque respaldo ele tinha, uma enorme bagagem. Ele era uma enciclopédia ambulante, além de uma grande gama de conhecimentos gerais.

- "Seo OD! O senhor sabia porque assim é o meu nome? Foi até profético, embora meu saudoso Pai (que Deus o tenha!) disso não desse conta.

- "Não sabia!", respondi-lhe, mas no íntimo queria dizer-lhe que não me interessaria nem um pouco, o que seria inútil, pois ele diria o queria mesmo assim.

- "Já que o Senhor tanto insiste (eita que mentira mais deslavada!)...

- "Psiu! Olha pra mim enquanto falo! Eia pois! Zeca vem de José, meu Pai, que Deus o tenha! O Split, vem do inglês, pois tenho a mania de quebrar as palavras e fazer jogo delas esmiuçando toda sua etimologia, adoro fazer trocadilhos, explorar as entrelinhas e detectar o dito não dito, mas que está ali, latente, à espera de um perscrutador como eu para o garimpar. O Senhor, certamente me entende. Sim?

- "Claro! Claro!". Não seria néscio, a ponto de ouvir outro interminável discurso sobre. "Conclua!", disse aflito.

- "Sr. Od está com pressa? Quer se livrar de mim? Se for, diga que eu me calo e vou cuidar dos meus afazeres." E eu, forçosa e gentilmente, dissimulei:

- "Que isso, Sr. Split! Prossiga!"

- "Então! Kadínio é de minha família, da qual tenho muito orgulho de descender. Antes da famigerada (nada) Santa Inquisição, o Patriaca de nosso clã na Europa, um exímio ferreiro, pra não ver sua descendência ameaçada de extermínio, mudou seu nome de Yakov Berzel para Jobsenn Kadínio. Não era judeu, mas herdou este nome do patrão de seu pai que o era. Para não ser confundido com um deles foi que mudou de nome. 

Poderia ser Ferreira, mas ele preferiu Kadínio, porque cadinho é uma espécie de tacho resistente a altas temperaturas e, por isso, utilizado na forja do ferro, aço, bronze (liga metálica feita da mistura do cobre e estanho) etc. Ferreira até que nos caberia bem, mas já era utilizado por outras famílias próxima a nós.

- "Muito interessante e esclarecedor, Sr. Split. Agora entendo o significado do seu augusto nome. Para os menos entendido soa-lhes como 'Zeca Explicadinho', ironizei dissimuladmente.

- "Sabe, Sr. Od! Eu nunca o tinha ouvido dessa forma, mas faz muito sentido. Eu poderia falar mais dos feitos dos meus ancestrais quer ouvir?"

- "Não, obrigado! Estou meio atrasado par uma reunião em meu escritório e lamento muito (mentiroso!) não poder ficar para te ouvir. Quem sabe, noutra ocasião? O Senhor tem muito o que jardinar e eu não posso dar-me ao luxo de me atrasar. Tenho que ser o espelho de todos na empresa. Mas, noutra ocasião quero entrar nesse assunto, acho que também essa história pode ter muito a ver com minha ascendência. Fica com Deus!

- "E com o Senhor também! 

- "Amém! Vou postar essa nossa conversa no meu blog, no RL. Vais ficar famoso!", ironizei!

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Flona - Floresta Nacional do Araripe, primeira floresta nacional protegida por lei.

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Tirando a descrição de minha casa que não passa de um sonho que ainda hei de conquistar e a história do Zeca, a descrição sobre o Crato é poeticamente pertinente e real. Tudo mais é ficção. 

           DEUS ABENÇOE A TODOS

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 25/04/2012
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T3632216
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