Fachada fechada para balanço

Tem gente que não sabe o mal que me faz. Se soubesse não chegaria perto de mim. Mas chega, com a fúria do inferno escondida por entre as camadas que isolam sua essência. Se abre a boca é pra alfinetar, se meter onde não cabe, falar o que não deve e criticar o quanto o tempo corrido deixar. Mas tudo com muito cuidado, nada pode ser o que é, nada pode escapar às claras, afinal, o outro não pode perceber.

Tem gente que quando quer xingar, diz outra coisa. Uma coisa contrária, disfarçada com uma palavrinha bonita, uma vozinha ridícula, meio mansa, uns gestos incompatíveis, um olhar perdido...e a intenção lá, gritando de ódio e horror.

Tem gente que não fica em silêncio.

Tem gente que é insuportável, até em silêncio, só por estar respirando.

Tem gente que não se aguenta de curiosidade.

Tem gente que não se conforma com uma porta trancada e uma alma fechada pra balanço.

Tem gente que quer ser melhor, e ser melhor significa ridicularizar o outro. Mas daquele jeito, com cautela e tal...pro outro não perceber.

Tem gente que quer saber de você mas pergunta pro outro. Tentando, numa apelação legítima, encontrar nesse outro o amparo da sabotagem, porque há um veneno que precisa sair e ele sai, de um jeito ou de outro, ao encontro de aliados.

Tem gente que se resguarda demais. E cresce para os lados.

Sim, tem gente que me faz um mal danado, um mal medonho e além do suportável, mas que, infelizmente, não posso lamentar, porque lá atrás, no auge dos meu enganos, eu permiti que esse tipo de gente tivesse contato apenas com a minha espontaneidade. Na época, era só o que eu tinha pra dar. O que eu não tinha era ideia do perigo que me esperava mais tarde.

Até que um dia eu entendi quanta munição eu deixei espalhada pela casa...

(que vivia de janelas e portas abertas pra sorte entrar)

...e foi usada para me ferir.

Tem gente que...

triste da hora que eu conheci!!!!

Seiscentosgramas
Enviado por Seiscentosgramas em 01/01/2013
Código do texto: T4062656
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