Minha vida secreta

Movimento 42

Considerou cortar a corda e fazer uma reflexão

Isso levaria muito tempo e o vento poderia mudar

Resolveu fazer um plano de vôo

O pouso poderia ser tranquilo

Instabilidade e queda livre

Ele pensou:

Não será desta vez que farei um plano.

Movimento 41

A ambulância, o mundo lá fora e a fuga

A ambulância

(Bônus) 1

Não teve problemas para entrar na ambulância

Sentia cólicas e um estado de embriagues

Ao abrir os olhos a luz forte procurava sinais vitais

O ambiente não era confortável

Faltava travesseiros e as janelas estavam cerradas

O mundo lá fora

(Bônus) 2

Ele tentou, sem sucesso, as janelas não abrem

A cólica, falta de ar e a paisagem mutante da janela

Escuro, claro, rápido, lento e o suor

O mundo lá fora convidava para uma caminhada

Seria lenta e cheia de detalhes

Ele pensou:

Vou caminhar descalço.

A fuga

(Bônus) 3

Encheu os pulmões, segurou e soltou

Sentia se com força suficiente para uma fuga

Ele não planejará a fuga, teria que improvisar

Usaria táticas de guerrilha, mas escaparia

Alguns lençóis, com nós fez uma corda

Mais nós, pára-quedas pronto

Ele saltou e num instante, já estava fora

Puxado pela ambulância

A paisagem do alto era tranquila.

Movimento 40

Ele estava livre do corpo

Podia se mover com velocidade incrível

A ambulância já estava partindo

Ele pensou:

Vou recuperar meu corpo.

Movimento 39

Enquanto seu corpo era removido

A consciência do corpo e da realidade

Dessincronia!

Seu próprio corpo carregado

Ele ficou ali olhando

Movimento 38

Ele pensou:

- Que pé é esse? Direito ou será o esquerdo?

Tudo lhe parecia distante, desconexo

Uma dor leve, aguda e rápida no braço

Seu corpo foi virado de um lado para o outro

Sentiu necessidade de regurgitar.

- Caso de intoxicação clássica.

Movimento 37

Silêncio absoluto, as luzes foram se apagando

Cheiro de mirra, a escuridão era densa e palpável

Quase liquida, ele sentiu o corpo leve

O solo não lhe sustentava, flutuava sem questionar

Algo lhe tocou um dos pés

Quente e com vida, estava em duvida.

Movimento 36

A porta se abriu violentamente

O corredor do teatro igreja foi inundado

Os gritos eram de alguem desesperado

Talvez precisasse se confessar

Somente o som do grito passou por ele

A porta se fechou.

Movimento 35

Achou engraçado o manustérgio

Usou como bandana e resolveu não esperar

Não saberia se comportar ao ouvir uma confissão

Enquanto caminhava para saída, pensou na moça

- Ela deve vir se confessar

Movimento 34

Para atingir a transcendência desejada

Tomou o cálice nas mãos, tomou num só trago

Comeu a grande hóstia

Pessoalmente tocou o grande sino

Olhou a âmbula, servida com batatas fritas

Em silêncio pensou:

- Amanhã teremos mais fiéis

Movimento 33

Ele abriu os olhos

Estava atrás de um enorme altar

Substituiu sorrateiramente as hóstias por batatas fritas

Vestiu a Alva e pensou:

- Estou pronto.

Movimento 32

Com a força da sucção,

todos os pêlos do corpo lhe fora arrancados.

Era uma dor gelada e superficial

Sentia se purificado, limpo.

Sem soltar o pacote de batatas, pensou:

- Devo abrir os olhos.

Movimento 31

Seu corpo não se adequava à dança

Procurou a porta dos fundos, sairia assim.

Identificada, foi em tal direção

Abruptamente,

Ele e um pacote de batatas fritas,

foram sugados.

Movimento 30

A festa estava animada

Ele, completamente nu, foi aplaudido

Todos o imitaram, ele sorriu antes de encobrir a tela

Arrancou a corda da cortina

Fez um colar e foi dançar.

Movimento 29

Ele queimou um pouco as mãos

De fato, muito menor que os bailarinos

Desviando de uma possível pizada

Encontrou o jardim e procurou o jato do sistema de irrigação

Se hidratou o suficiente para ficar na festa.

Movimento 28

Procurando a saída.

Ele estava no ponto mais alto da popa

Na moldura uma fenda.

Ele pode ver a moça se pendurando na corda da cortina

Ele correu para alcançá-la

Ela já deslizava pela corda quando gritou

- Quando sair procure uma torneira.

Movimento 27

Os convidados se movimentavam freneticamente na grande sala.

Alguns admiravam a pintura em óleo sobre tela.

De um lado a tela, do outro, a sala

Ele ouvia o buxixo da sala e o quebrar das ondas

O leme estava travado.

A navegação só era possível entre os dois mundos.

Movimento 26

(Três leis são suficientes)

1 - Passageiros ou a tripulação não podem ser perturbados.

2 - Só existe uma saída.

3 - O destino do barco depende das correntes.

A companhia de navegação e transporte funerário agradece sua presença.

Movimento 25

Caído junto ao mastro central, o convés visto de tal ponto, parece maior.

Ficou imóvel por algum tempo. Pôs se de pé!

Se dirigiu para a cabine, supostamente, do comandante.

Numa placa, escrito com letras góticas.

REGIMENTO DE BORDO

Antes do regimento um aviso.

‘Se você consegue ler, esta no barco errado.

Movimento 24

Achou melhor não pensar em culpa.

Sentia um pouco de frio, mas não se ateve a tal sensação

Procurou sentir outras coisas e abruptamente, a sua frente um veleiro

O choque foi inevitável e a enorme vela se curvou.

No instante seguinte, deslizava rumo ao convés.

Ele pensou:

Tenho que cair em pé.

Movimento 23

O coro de balões se manteve no limite da cerca.

Os Tenores temiam uma tragédia, mas foram repreendido pelos otimistas Sopranos.

Os balões salva balões, nada podiam fazer por ele.

Parado diante do rio, precisava rapidamente decidir entre o mergulho insano e o regressar para o suave mundo dos balões.

A corredeira parou, pois, a velocidade de mergulho era a mesma da corredeira.

Ele fechou os olhos e decidiu ficar assim, até o momento do possível impacto.

Enquanto isso pensou:

Serei culpado pelo que penso?

Movimento 22

Enquanto se aproximava da cachoeira, analisava cuidadosamente o ambiente.

Concluiu que não se tratava de uma cachoeira, sim de um rio vertical e,

com a velocidade da corredeira muitos fios de água se congelam em forma de agulhas.

Grande risco para os balões e inofensivo para a moça que se preparava para saltar.

Ele correu para impedir o salto.

Ela não o percebeu, saltou com graciosa acrobacia.

Movimento 21

O despertar, o campo de balões e a cachoeira de agulhas congeladas.

(Bônus 01)

O despertar.

Ele ignorou toda a lógica que conhecia ou imaginava conhecer.

Haviam balões cantantes no ambiente, formavam um coro, em semicírculo e identificados como Baixos, Tenores, Contraltos e sopranos.

Ele pôs se de pé, encantado com os Tenores foi em tal direção

Ao se aproximar, o coro se elevou.

Tal movimento revelou uma paisagem rica em cores e detalhes.

O campo de balões

(Bônus 02)

Estava agora em um imenso campo de balões.

O coro de balões o acompanhava de perto

Tudo ali era formado por balões a grama, montes, árvores e flores

Ele identificou um cão balão, uma abelha balão e uma girafa balão

Pensou na moça:

- Se ela não tivesse caído tão rápido poderia apreciar a bela paisagem.

Logo esqueceu e tomou a estrada de balões

Após a curva, podê ler num balão de sinalização:

Cachoeira de agulhas congeladas.

(Bônus 03)

O balão de sinalização indicava que a Cachoeira de agulhas congeladas estava próxima.

O barulho, já podia ser ouvido.

Ele se apressou, pois estava de certa forma, curioso

Pouco tempo depois estava diante de uma cerca de balões e de um balão de advertência

‘Área proibida para balões’.

A partir da cerca nenhum balão se aventurava, exceto os balões salva balões ou os balões suicidas.

Parado diante da cachoeira de agulhas congeladas, ele pensou:

Preciso entender isso.

Movimento 20

O longo tempo de queda já o entediava, ele já considerava uma bizarrice ter que cair lentamente.

Foi então que observou alguns balões e não demorou pra que se chocasse contra outros, que insistentemente bloqueavam a trajetória.

Foram vários choques, mas eram choques suaves e os balões se aglomeravam.

Um tipo de proteção construídas com balões aveludados e vermelhos.

Estava agora sobre um conjunto desses, já não mais caia. Era conduzido .

Não se preocupou e adormeceu.

Movimento 19

Depois de algum tempo em queda, já não poderia reconhecer a ponte, mas desejou que a moça também caísse.

Ele insistiu em manter o olhar na direção da ponte.

Não queria perder a referência do ponto e sentia uma espécie de vontade de voltar.

Já estava se acostumando em com a queda interminável, quando notou que algo se aproximava rapidamente.

Se manteve firme na posição em que caia e viu a moça passar com uma velocidade incrível.

Apenas a fita azul a acompanhava.

Ele pensou:

- Ela parece conhecer o ambiente.

Movimento 18

Ele estava agora no meio da ponte e ela inda estava sólida, mas, tinha a sensação que toda estrutura se retorcia lentamente.

Sem tempo para pensar numa saída, percebeu que a torção já estava em 90º.

A queda era suave e a velocidade não aumentava.

Passou pela moça acreditando que poderia pensar na moça durante a queda.

Nada lhe veio e continuou a queda.

Via apenas a ponte retomar sua posição original.

Movimento 17

A ponte suspensa começou a se mover ao seu encontro.

Com ela, o rio e toda a paisagem se adequavam ao movimento improvável.

Ao se aproximar, pode perceber que sob a ponte, os enormes arcos de sustentação davam também, suporte à moça que em fitas de tecido realizava acrobacias circenses

Na medida em que avançava sobre a ponte, notou que ela (a ponte) retornava ao ponto de origem e concomitante, o cânion se aprofundava e a moça se distanciava.

Ele pensou:

- Seguirei até o meio da ponte, provavelmente o ponto de equilíbrio.

Movimento 16

Ele ficou parado por alguns instantes e logo, resolveu seguir andando.

Já não conseguia ver a moça, poderia tomar qualquer direção.

As estalagmites já não brilhavam e o canto do feiticeiro ainda podia ser ouvido

Uma ponte, longa e suspensa lhe chamou a atenção.

Ele pensou:

Atravessá-la ei.

Movimento 15

Não demorou até que a neblina se dispersasse e a sua frente, num ritual frenético, um feiticeiro.

Como oferendas havia flores, mel, amendoim, uma lança e um chapéu

Ele pensou:

Na verdade, ele não pensou em nada.

Quando já se afastava ouviu o quebrar da casca de um amendoim

Ele parou de repente.

Agora pensou:

- Gosto muito de amendoim e não fui convidado para o banquete.

Movimento 14

Ele pensou:

A quanto tempo uso óculos!

Uma neblina densa, escura e triste inundou a paisagem.

Movimento 13

A noite chegou e ele pode ver as estalagmite brilharem.

Levantou se e iniciou uma caminhada e só depois de algum tempo percebeu que a moça com o sorriso caminhava logo a sua frente.

Ela parecia bailar enquanto desviava dos exemplares mais brilhantes.

Ele a seguiu, sem ser visto.

Então pensou:

- Ela conhece o caminho para a calçada do outro lado da rua.

Movimento 12

Todo o turbilhão de coisas passou diante de seus olhos, e tudo mais ali se desfez.

Ele sentiu uma brisa fria em todo o corpo.

Estava agora sobre uma espécie de estalagmite

Toda a paisagem tinha tal aspecto, embora não fosse difícil perceber a semelhança com um jardim de estátuas.

Ele não estava perdido, sentia se confortável, porém, sentia um frio leve

Sentou se para esperar anoitecer.

Movimento 11

Ao entrar na ótica, se deparou com um ambiente temático para colecionadores de óculos.

Todos os exemplares disponíveis eram exatamente iguais.

Ele escolheu o terceiro da prateleira mais baixa. A vendedora disse que era uma cortesia e lhe mostrou a saída.

Para sair, seguiu a seta e o longo corredor estava regurgitando os escritórios e lojas.

Ele viu a moça ser levada no turbilhão de coisas e moveis.

Não ficou preocupado e esperou sua vez.

Movimento 10

Confuso com uma seta pintada no piso que indicava a saída, pensou:

- Comprarei óculos e agora que sei onde fica a saída posso escolher meu destino.

Ele ignorou a porta da esquerda.

Movimento 9

Havia portas ao longo de todo o corredor, ele pode ver a garota com a máscara de sorriso na nuca entrar em uma das portas.

Ele, não titubeou em acompanhá-la

Se esforçou para chegar rápido, parado diante da porta pode ler – Entre sem bater

Ao abri-la percebeu que estava diante de outras duas portas

Direita estava escrito – Ótica

Esquerda – Conheça seu destino

Movimento 8

Começou a chover, era uma chuva densa e indecisa

Suas as roupas, o bastão, apito, cadeira e tudo mais daquele lado da calçada começou a se desfazer como pintura fresca, que se lava com a água em abundância.

Ele fechou os olhos e tentou não pensar em nada.

Impossível, pensou analisando todas as conseqüências de abrir os olhos.

Ele abriu os olhos e estava agora nu, parado no centro de um longo corredor e tudo a sua

volta estava em preto e branco envelhecido.

Ele pensou:

- Preciso de óculos.

Movimento 7

Vestido de palhaço, ele caminhava com elegância, tinha também um bastão em uma das

mãos e um apito na outra.

Pensou em se divertir, adotaria uma nova identidade e arrancaria sorrisos da multidão, mas essa identidade seria inútil.

Parou e olhou a sua volta, identificou uma cadeira de balanço esquecida por um palhaço

idoso.

Sentou se, escolheu a posição mais confortável, usou o bastão para se balançar e ficou

olhando o outro lado da rua.

Movimento 6

Seu campo de visão foi preenchido por uma multidão que usava roupas multicoloridas

Decidiu seguir o sorriso, mas tinha dificuldade em acreditar que seria possível

Seus bolsos estavam vazios e ele via o outro lado da rua, como o lado certo

Suas convicções sempre lhe impeliram a fazer a coisa certa

Convencido da boa intenção, um palhaço lhe emprestou suas roupas e nu se infiltrou na multidão.

Ele sentiu as roupas apertadas e parou a respiração para se adequar.

Movimento 5

Ele não se permitira fugir e deixar a moça com o sorriso

Então invisível gritou:

- CORTOU

Ele esperou o descongelamento total e com tantos palhaços,

Seria necessária uma máscara

Ela usava duas e tinha agora um enorme sorriso na nuca

Ele ficou indeciso e preferiu não acreditar

Movimento 4

O tempo não fluía, seu corpo estava pesado e a moça que lhe sorrirá estava a alguns

metros.

Ele não se movia, mas pensava como deixaria o local sem ser percebido.

Sentiu que seus pés estavam se integrando ao solo.

Ele pensou:

Preciso rapidamente me mover, assim evitarei o congelamento.

Fechou os olhos e ficou invisível.

Movimento 3

Ele resolveu acompanhar a moça.

Se virou e a cidade estava congelada, estática e a moça não estava ali.

Ele sentiu frio, mas já tinha se esquecido de como era sentir calor.

AÇÃO!

Ele ouviu de um alto-falante, então seria melhor não se destacar.

Ficou imóvel, com um largo sorriso congelado.

Movimento 2

A moça passou por ele e retribuiu o sorriso. Talvez fosse só educação.

Ele pensou:

- É melhor não acreditar em nada, o sol ainda não se pôs.

Conferiu os bolsos, sem encontrar nada, se sentiu livre para tomar qualquer caminho.

Movimento 1

Ele pensou:

- Se eu atravessar a rua logo estarei na calçada oposta.

Então ele atravessou e a cidade não era a mesma.

Ele se sentiu livre.

E enquanto sorria para a moça que caminhava, pensou:

- Moving cross the borders of my secret life…

Nobody cares if the people live or die.

Minha vida secreta

http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=dcZY6TzzU0I&NR=1

Sidi Leite
Enviado por Sidi Leite em 03/06/2013
Reeditado em 03/06/2013
Código do texto: T4323238
Classificação de conteúdo: seguro
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