Conto nublar #074: A ÚLTIMA LARANJA DO MUNDO - (PROSOPOPEIA)

A ÚLTIMA LARANJA DO MUNDO

Conto nublar #074

(PROSOPOPEIA)

Ontem cheguei bastante exausto do Centro.

Após percorrer feiras livres, supermercados, sacolões, atacadões e atacarejos cheguei ao limite do desespero. _ Como é que pode? Nem sequer uma laranja pra remédio! _ como se diria no Sertão do Ceará. Liguei então pro meu mano Zé para saber se havia laranja por lá ou se era apenas uma escassez localizada. Para minha tristeza, o que suspeitava se confirmou. Era geral o sumiço da laranja. O mundo inteiro comentava a sua iminente extinção. Era o assunto geral em todas as mídias.

Logo bem cedo, mal acordei, Nor-noroeste (NNE) fez minha assunção ao mundo dos Cúmulos-nimbos. Quatro vincos recentes indicavam que um jato tetra turbinado havia deixado seu rastro no azul imenso. Enquanto ruminava sobre minhas frustrações ante ao insucesso de adquirir laranjas, imaginava uma bela sinfonia percussiva escrita naquela pauta de quatro linhas: “O SUMIÇO DAS LARANJAS”.

Falando nisso, nunca liguei muito por laranja, mas só porque me via na iminência de nunca mais ver sequer um exemplar dessa espécia, a cada segundo, crescia em meu paladar um desejo insaciável de chupar aquela raridade. Pedi a NNE que me ajudasse na descida pois precisava urgentemente fazer algo inadiável.

Conçando minha cabeça dirigi-me ao pomar, lembrei-me que havia duas laranjeiras ali plantadas. _ Ufa! Salvei o Planeta! Vou cultivar suas sementes e, aos poucos fornecer as mudas para o replantio. O ruim é que ninguém quer se dar ao trabalho de cultivar. Comprar tudo pronto é muito mais prático. “Se tem alguém que faça, pra que eu fazer?” Assim pensam muitos. Colhi as últimas dez laranjas que ainda havia no pé.

_ Mas espere aí! Aonde estão as sementes? Que azar!! _ Eram de uma laranjeira transgênica. Laranjas sem semente, portanto, impossível se fazer uma sementeira para o replantio. _ Ah! Mas tenho uma outra lá na beira-brejo. _ Corri apressuradamente até o quadrante esquerdo externo do pomar. A laranjeira está ali, meio desfolhada e com apenas uma laranja.

_ Que desperdício! _ pensei. _ Uma planta tão frondosa dar apenas uma única laranja. Deveria se envergonhar de agora estar quase sem folhas e com apenas um exemplar de...

_ Por que eu? Fiz meu dever de casa perfeitamente bem. Produzo laranjas quatro vezes no ano. A cada produção, dou em média 500 laranjas. Cada laranja dá cerca de vinte e cinco sementes. Cada semente tem a capacidade de gerar uma nova laranjeira semelhante a mim. Somente este ano produzi quatro safras. Foram 500.000 chances desperdiçadas de uma nova muda e nenhuma semente foi plantada. Quem deveria se envergonhar era você e sua turma. Fiz minha parte, sim. Mas e você? Porque não replantou, não me deu descendência? Jogar a culpa nos outros é muito mais fácil.

_ É, foi mal! E como posso me redimir?

_ Pega essa última laranja e faça o seu dever de casa. Faça uma sementeira e, quando estiverem do tamanho de um palmo, faça as mudas. Depois, que aqueloutra laranjinha crescer mais um pouco, faça o mesmo com as sementes e presentei seus amigos e vizinhos com mudas. Assim poderemos repovoar o mundo com minha espécie.

_ Valeu, Meu Deus! Ainda bem que me deste esta chance e tempo de revertermos a caótica situação que nosso descaso nos trouxe.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 17/09/2013
Reeditado em 17/09/2013
Código do texto: T4485396
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