Sem nada.

Lençóis negros

Meia noite.

Nenhuma câmera para retratar aquele último suspiro.

Nenhum escrivão para registrar as últimas palavras

daquela mulher.

Cabelos escorrem ao pé da cama,

despenteados.

Cigarros espalhados por todo o quarto.

Uma taça de gim, marcada de batom,

vermelho vulgar.

Morreu,

Sem que ninguém lhe ouvisse

chamar por Deus,

naquele último momento,

em que todo ateu passa a ser crente.

Morreu,

Não tão bela, quanto fora

antes do poço e antes da queda

da sarjeta

e do escarro.

Sem dinheiro

sem cartas no correio

sem diploma.

esquecida, muda.

Exausta da vida.

Sem som de violino

Sem extrema unção

sem sangue nas veias.

sem dor.

sem nada.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 03/02/2014
Reeditado em 03/02/2014
Código do texto: T4677147
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