De volta, ou mais do mesmo.

Eu não tinha nenhuma mulher no momento.

Não tinha ninguém comigo.

Qual era o motivo? Qual a razão da minha solidão quase auto infligida.

Eu não queria ninguém do meu lado

Não queria ninguém me dizendo que fazer.

Ninguém criticando meu estilo de vida. Dizendo para beber menos, para fazer a barba.

Para estudar ou procurar um trabalho.

Não queria ninguém metendo o dedo no meu nariz e dizendo o que era certo ou errado para mim.

Ainda assim era triste. Era incômodo.

As vezes eu sentia vontade de ter alguém para transar ou para conversar até adormecer.

alguém que entendesse minha cabeça. Minha insanidade.

Talvez eu fosse incomum demais para a minha época.

Não sei. Sinceramente eu não sei.

Eu me resumia a beber cerveja e vodka. Ouvir musica até depois das três da madrugada e ocasionalmente escrever.

Escrever era das poucas coisas que me fazia bem. Por mais que eu fosse extremamente auto-critico e boa parte das vezes jogasse tudo que eu escrevia no lixo.

escrever para mim era como vomitar depois de beber meia garrafa de uma vodka de 10 reais.

Era como dar descarga e jogar tudo o que não prestava para fora.

Umas poucas pessoas gostavam de ler o que eu produzia. Eram até lisongeiras nos comentários. Mas eu fazia questão de não levar em consideração o que diziam. Ou simplesmente aquilo não importava para mim.

Eu nunca escrevi pelo reconhecimento.

Eu era um bêbado, um louco, um desajustado.

Desajustado era uma boa palavra para me descrever.

Quem via de fora não podia ver isso, e eu achava graça desse fato.

Para quem via de fora eu era algum tipo de prodígio.

Ia ser doutor com 28 anos. Doutor de verdade, não simplesmente médico ou advogado.

Por que aqui no Brasil, doutor para o povo era quase um título de nobreza.

Eu ia ser Doutor acadêmico. Depois de Graduação , Mestrado e Doutorado. Dez anos de Investimento.

Em geral o povo via isso como algo magnífico. Uma boa coisa. Um grande acontecimento.

para mim era algo qualquer.

Tão natural quanto dar uma cagada.

No meu meio de convivência eu via doutores e doutoras se achando quase deuses. Como se suas opiniões fossem magnânimas e acima de qualquer questionamento.

aquilo me enojava. Dia após dia a academia ia se tornando cada vez mais intolerável para mim.

No inicio eu até gostava. Toda aquele potencial de conhecimento e de ajudar as pessoas. A sociedade e coisa e tal.

No fim era só mais uma forma de masturbação do próprio ego.

as pessoas que se enfiavam naquele meio so estavam ali pelos aplausos ou porque não tinham mais o que fazer. Não tinham opção profissional.

Eu estava ali. A menos de quatro meses de estar desempregado.

Eu bebia como um condenado a morte. Eu procurava entorpecer meus sentidos e desviar minha atenção do que estava a minha frente.

Um retorno a terra que eu fugi, quatro anos atrás. Que eu tanto me arrependi de ter deixado.

E agora seria novamente minha.

Uma terra que eu amava, mas que não iria me absorver.

Eu sabia no meu intimo que meu lugar não era mais em Recife.

Não havia possibilidade de eu arranjar algo para minha vida lá, sem dar dois ou três passos para trás.

Recife abrigava o meu passado. Praticamente todas as mulheres que eu um dia amei estavam lá. Todas elas seguindo sua vida e eu perdido sem saber o que fazer com a minha.

O que eu faria?

O que eu faria, meu Deus.

Acabou a vodka.

Acabou a cerveja.

Vou me deitar. Enfiar a cabeça embaixo do travesseiro.

Blasfemar contra o destino e esperar mais uma volta do mundo.

O que eu vou fazer, meu Deus?

Dane-se.

Vou tentar dormir.

Fechar os olhos é o mínimo que posso fazer agora.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 29/03/2014
Código do texto: T4748053
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