As sete da manhã

Sentindo...

E pensando em quanto de tudo isto é real e quanto é apenas coisa da minha cabeça.

Pensando num retrato em três dimensões. Numa cena criada apenas com palavras e um pouco de imaginação.

Paro e pulo da cama e dou uma volta pela casa, procurando meu sono perdido.

Tem ocasiões que minha mente não quer parar de pensar,

de conjecturar e de construir cenas irreais.

Eu me faço passear nesses cenários fantasiosos até cair no sono, o que nem sempre dá certo.

Desta vez cansei. Fui passear de olhos abertos.

Mesmo assim a cena que criei não sai da minha cabeça. E toda aquela curiosidade, toda aquela ansiedade de tempos passados voltam a me acompanhar.

Subo as escada em espiral, indo para a laje onde mais cedo estendi minhas roupas.

A cidade está lá, ainda acesa, como um vaga-lume embriagado demais para se mover.

Piscando.

Procuro o leste, mesmo sem ter muita certeza de como encontrá-lo.

A mulher do meu retrato está lá. Quatrocentos e tantos quilômetros naquela direção.

Fazendo ‘sei lá o que’. Com certeza ainda acordada.

Nunca me interesso por mulheres que dormem cedo. É uma constante.

E de uma hora pra outra, me pergunto o que estou fazendo ali. Como se tivesse acordado de um devaneio ou de um sonho lúcido.

Não gosto deste lugar.

Desço as escadas e me jogo embaixo do chuveiro. Deixo propositalmente a água mais quente do que seria confortável.

A dor sempre me trás de volta a razão.

Me enxugo displicentemente e me deito no chão, esperando o ventilador de teto evaporar o resto da água no meu corpo, ou talvez esperando adormecer ali mesmo.

Às vezes acontece.

Mas não... O sono não veio. Nunca vem quando eu quero.

Volto ao retrato tridimensional.

E lá está a mulher que nunca vi, numa praia em que nunca andei,

me dizendo coisas que nunca esperei ouvir.

Me escrevendo versos de amor, contos e histórias.

Queria fazer daquele devaneio algo real,

não simplesmente palavras espalhadas num papel,

para serem degustadas pelos seus olhos cheios de sono

as sete da manhã.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 07/04/2014
Reeditado em 07/04/2014
Código do texto: T4759279
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