REDE E VÉIU É INGRAÇADO,
SÓ SIACABA PELUS FUNDO

Zé do Corda e Zé da Mata


Rimada:
Quarteto: ABBA
Sexteto: CDDCCD


Zé da Mata
Zé do Corda, meu amigo,
U qui ti açucedeu?
Qui coisa ocê cumeu?
Tá peitado cum inimigo?

Zé do Corda
Zé da Mata, amigo meu,
Tô cum ispinhela caída,
Dô nur lombo, di saída,
O istâmbu istremesseu,
O isprito se abateu,
Infesado. É recaída.

Mar ocê, que quiá dinovo
Aí pelus istrangêru?
Vai, respondi ligêru,
U qui é qui faz esse povo?

Zé da Mata
Num tô no istrangêru, não,
Continuo lá na mata
Sô contraro a quem dismata.
Tem que protegê, sinão,
Terra aborta num canão.
Basta! Abaixo essa mamata!

Dur dirmandu qui si apronta,
Zé do Corda, o qui ocê acha?
Inquanto num si rechaça,
É u povo qui paga a conta.

Zé do Corda
É coiza inacreditarve,
Cuma é qui isso pode?
A alma do povo sacode,
Um povo assim, tão estarve,
si torná agora instarve,
trocá burrêgo pur bode!

Chega duê meu ispinhaçu,
Fico cum cara de tacho,
Tô me vazanu pur baxo,
Virando do avêçu o cangaçu.

Zé da Mata
Acho qui agora intindi,
Chegô ao intendimentu,
O que desse vazamentu.
De fininha, cumprendi.

Cumpadi, vô li pedi.
Si trati du mal do ventu.
Andô cumenu bestera?
Tem di cuidá nessa idadi,
Pra num sofrê essa mardadi.
Num brinca c'a sorti, ô Lasquera!

Zé do Corda
Fui cumê uns minduim,
Pru meu moral levantá.
Mar tive qui infrentá
Da istóra u lado ruim.

Da culatra contra mim,
Fui na centrina sentá.
Quar rei, aqui nesse trono,
Num tive pudê, mar dô.
Mim dirfazenu im fendô,
Mim dexanu no abandono.

Zé da Mata
Cum licença da palava,
Ocê vazanu bosera,
Cê queima a tripa gaitera.
Na fedentina estourava,

Dos ventu qui ocê sortava.
Incendêa a paiacera.
Compreta u tanque cum água,
Toda vez qui ocê vazá,
Seu mar vai estravazá.
'Proveita, si livra dar mágoa.

Zé do Corda
E apois tô cum'a mijadêra,
Pela frente e pur ditrais,
Qui tá robanu min'a pais.
Mijanu que nem gotêra
Feito inté mermo cachuêra,
De perna bamba, adimais.

U quié qui u amigo acha?
Né pra ficá preocupado?
Di dô num sinto privado,
Ando assim, tão mei sem graça...

Zé da Mata
Amigo, si cuida a saúde,
Tomi ar meizinha du matu,
São todas de fino tratu,
Segue o dotô amiúde,
Pra num deitá num ataúde.
Si livra já dur martratu.

Bébi água, mata a sede,
Lembra du véiu deitado?
Pelciza muto cuidado
Pra num si acabá cumo rede.

Zé do Corda
Sento no trono avexado,
Sorto unr gemido profundo,
Quar dano adeus pr'esse mundo,
Dô i estrepe dirgraçado,
Pois rede i véiu é ingraçado,
Só se acaba pêlus fundo.
 
Desafio em Tetraectos #002:


Crédito de imagem: Janeiro 2011 | omundocomoelee.blogspot.com


Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 17/05/2014
Reeditado em 28/09/2016
Código do texto: T4810217
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