Calmaria de Julho

Não tenho nenhuma Lydia Vance na minha vida.

Nunca tive uma mulher que invadisse minha casa para quebrar minhas coisas e rasgar os meus escritos. Nenhuma que traduzisse frustração em violência física.

Nunca fui demitido. Nunca passei fome realmente.

Não atravessei o país com uma mala nas costas, como Kerouac ou Bukowski.

Não sou muito bom com minha prosa.

E com certeza não estou satisfeito com minha poesia.

Então me pergunto às vezes... Porque eu escrevo?

Para que?

Não consigo lembrar de algo realmente trágico em minha vida e agora nada me parece digno de nota. Sinto-me como se estivesse no meio do mar. Preso em uma calmaria. Sem vento para me empurrar, e nem mesmo uma tempestade para me afundar de vez.

Há apenas uma sensação de estranheza e de vazio.

Apesar de que isso não tem me incomodado. Poderia dizer que estou parcialmente feliz. Ou apenas levemente infeliz.

Já estive pior. Com certeza.

Hoje, pensei em me sentar à beira do porto para ver o Capibaribe escorrer para o mar,

e talvez pedir ao rio que carregasse essa angústia e esse marasmo.

Mas nem para isso tive disposição.

Em vez disso, me enterrei um pouco mais em meu casulo, e continuei entorpecendo minha mente no computador... Procurando perder a noção do tempo.

Só assim talvez eu esqueça que mais uma mulher me deixou,

e nem sequer consegui me lamentar por isso.

Talvez seja o primeiro sinal de que estou envelhecendo...

ou que eu tenha que mudar de rumo

ou pelo menos de direção.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 02/07/2014
Reeditado em 02/07/2014
Código do texto: T4866463
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.