Construindo Dolores - fragmento VII

(...)

Dolores sentiu-se subitamente só.

Uma solidão atípica.

Uma solidão da própria "Dolores Nervosa"

Isto não era bom.

Não agora.

Um vazio tomou o lugar da vida de fácil resolução.

Sim. A vida de Dolores não tinha tempo de questões.

Era feita de decisões.

E agora, Dolores?

Dolores olhava o azul desbotado do cobertor da pensão

que Josival conseguira para a noite.

Dolores olhava o quadrinho de paisagem da parede.

Dolores olhava Josival ao seu lado.

Homem forte. Homem de ação.

Homem de olho vazado por sua causa.

Mas Dolores não conseguia fechar seus olhos.

"- Tudo por causa daquela velha que implicou com meu perfume. EU ESTOU NESTA PORCARIA POR CAUSA DE UMA MALDITA VELHA QUE IMPLICOU COM MEU MALDITO PERFUME".

Dolores nem percebeu que seus pensamentos viraram palavras, que viraram gritos, que poderiam vir a virar problemas.

"- Cala a boca e dorme, mulher!" Josival comandou.

Ah Josival! Que erro o seu!

Jamais se manda uma mulher feito Dolores Nervosa calar a boca num momento destes!

Aqueles olhos faiscantes ficaram cegos.

Para onde foi Dolores? Não estava mais ali.

O que se viu foi um corpo forte de mulher em fúria alucinada.

"- Desculpa, mulher!" Josival disse baixinho.

Doloresnervosa
Enviado por Doloresnervosa em 01/08/2014
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