Algo que deixei para trás.

Eu estava me embriagando silenciosamente numa tarde de sexta feira.

Era o dia do aniversario dela, e ela estava nos braços de outro, sabe Deus onde.

Eu preferia até não saber. Preferia que não me procurasse por enquanto, mas lá no fundo, o silêncio dela me doía e me colocava no pior dos humores.

Inesperadamente, um amigo me reconheceu no fundo do bar, onde eu tentava me esconder e se sentou do meu lado, pedindo um copo e uma cerveja ao garçom.

Até tentei disfarçar, mas o rapaz me conhecia o suficiente para saber que eu estava novamente em crise por causa de algum rabo de saia.

Ele costumava dizer que eu amava esse tipo de drama, e estava certo sobre isso.

Contei-lhe, sem muito entusiasmo o que estava acontecendo. Falei do enrosco nada saudável em que eu tinha me metido. Das idas e vindas, das brigas, das mentiras e dos encontros amorosos que eu vinha tendo com a referida moça.

Meu interlocutor parecia incrédulo e espantado.

Tomei mais um gole de cerveja, enquanto ele me indagava, meio descrente, sobre minhas motivações.

- Afinal, você se submete a tudo isso só pelo sexo? Perguntou.

- Sexo? Na verdade, não. Soa meio absurdo simplificar as coisas assim.

Eu chamo aquilo de Dança astral de dois corpos e almas karmicamente entrelaçadas... no caso, Eu e Ela.

Meu amigo riu, quase sem querer rir, talvez por não saber o que falar. Devolvi-lhe o riso com silêncio, e ele entendeu que a situação não tinha jeito. Que eu não tinha jeito.

Encheu meu copo, brindamos e continuamos a beber como se eu não tivesse dito nada.

O inaceitável se torna mais aceitável quando se é inevitável, pensei por fim.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/01/2015
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