devaneio

O que a gente não sabe, invisível ao olhar humano, é o que nos, de verdade, enlouquece. A escuridão. A claridade em demasia. O silêncio absoluto. A falta de um culpado. O ar. O mar. O além da mente, impossível de resolução, impossível de compreensão, é o que nos paralisa. A falta de vida - no olhar humano. Falo tanto em olhar humano, pois, ele, é o que nos proporciona a infindável - será? - jornada no emaranhado de ideias e ilusões, cores, sons, cheiros, imagens, registros e toda e qualquer forma de cognição devaneada. Deveras que sentimos medo do visível e finito. Porém, é o medo palpável e crédulo. Para nós é necessário ter medo, pois o medo, em certa medida, é o controle natural da vida. Entretanto, o medo invisível é o medo do nada, e como, conscientemente, ter medo do nada, sem ser tratado como louco? Milhões de bilhões de universos possíveis (na verdade muito mais, números impensáveis para um cérebro humano). Mundos, sóis, luas, seres, absurdamente, maiores que nós. Tudo o que não podemos discernir é o que nos mais amedronta. Temos a visão tão turva. Por isso, creio, que o medo invisível é o medo verdadeiro e, assim, o único medo possível. Ele não nos serve de nada. É apenas medo. Bruto, concreto, vivo dentro das mentes incapazes de decifrar muitos e muitos sentimentos. Somos bem pouco. Quase nada. Nossos deuses são frutos de nossos maiores medos interiores. São filhos da nossa insignificância e fragilidade mundana. Somos só um rastro quase apagado no éon que percorre as vidas.

HSF
Enviado por HSF em 19/01/2018
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