Coração-árvore

Eu acordei hoje, tarde como de costume. Notei que as férias nos dão uma liberdade que se aproveitada faz total diferença, mas isso foi um devaneio que tive. Enfim, me revirando na cama eu cheguei ao meu limite. Acho que devo contar essa história do começo. Como tudo nesse mundo, que não fala de dinheiro, esse conto fala de amor. Óbvio que não será contado com palavras felizes. Caso fosse, esse texto nem seria colocado em forma de sentimento humano expresso como arte. Entendam, não espero que sintam a dor que senti, nem que notem o amor que tive e quem sabe o sofrimento que me aflige agora. Mas espero que apreciem essa história que vos conto nessa hora, com alguns neologismos, metáforas, pleonasmos, hipérbatos, hipérboles, elipses e anáforas. E talvez outras inúmeras figuras de linguagem que me ajudem a contar este idílio que vivi.

Era uma vez, num mundo magico. Não! Nada de magico no mundo que eu vou falar para vocês, na verdade esse lugar é bem sujo e cheio de complexidades difíceis de lidar. Digamos que esse mundo tenha pessoas que não sabem viver fora de um padrão estabelecido para o amor, digamos também que esse padrão – para alguns – seja visto como uma gaiola. É aqui que eu me encontro, eu sou o narrador e a pessoa que viveu esse triste ou talvez feliz acontecimento. Eu me considero um “ultrassentimentalista”, quase comparado a um romântico da segunda geração brasileira. Sim, eu amo! Mas não sei dividir a pessoa amada, eu sou um jovem que não sabe lidar com os avanços que a sociedade que vivo alcançou. Eu não sei deixar meu amor livre ao ponto de se relacionar com outras pessoas. Não sei, eu acho, viver nesse amor juvenil que tanto vejo nos meus amigos e até nas pessoas que amo. Melhor, na pessoa que amo no momento. Acredito num amor que seja dual e não multi-pessoas. Acredito no amor. Não espero que o amor que criei para acreditar seja o certo, nem que todos aceitem essa forma de amar que busco em alguém. Me sinto como o sol acordando uma pessoa de manhã, mas logo se fecha a janela e não me enxergam mais. Bom, mais considerações que dei que não acrescentam muito ao que tenho para contar.

Eu não uso aplicativos de relacionamentos, vocês não estão me enxergando agora; mas não sou um jovem lindo como a sociedade, que eu não busco entender, espera. As vezes encontro alguém que não ligam para isso e é aí que eu volto a encontrar o amor que criei. Enfim, aplicativos de relacionamentos não são feitos para pessoas que possuem características faciais desfavoráveis, então nunca me prendi neles. Mas por um período curto eu tentei, isso não foi só uma vez..., mas dessa última algo aconteceu, algo que eu chamo de: “teoria do tem tudo para dar certo, menos o momento”. Ali, nesse mundo virtual eu dei a famosa “combinação” com uma garota. Como de costume fui e tentei ser o mais gentil possível e começamos a conversar. Eu não sabia que ali começaria a breve história de amor que acabaria, mais uma vez, com minha vontade de ver a luz do sol – que as vezes transpassa a cortina do meu quarto – e me dá uma inspiração gigante para o sofrimento. De qualquer forma, essas palavras são um relato desesperado de uma coração-árvore que aos poucos vai se deixando levar pelos corações-pássaros que achamos em nossas vidas. Não espero, repito, que entendam o que eu digo. Nem mesmo espero entendimento das formas que uso para explicar essa viagem emocional que vivenciei, foi um período em que o relógio quebrou para mim.

Mais uma vez me desvio da história para devaneios sem sentido. Entendam, sou um pouco confuso quando se fala de histórias, ainda mais de amor. Enfim, aplicativos, corações e uma paixão. A questão é que fui, aos poucos, me conectando com essa garota. Me sentia como um homem jogado ao mar e rodeado de água, e assim não sabendo para onde ir. Ela era uma vastidão como o mar e eu estava me afogando. Mesmo assim segui, quando se fala de amor não podemos desistir tão fácil, ainda mais um coração-árvore como o meu. Os dias foram passando numa velocidade irreal e quando dei conta lá estava eu: totalmente submerso em uma pessoa que estava num espaço-tempo diferente do meu. Eu tentei esconder essa descoberta de mim mesmo, acho que meu coração-árvore havia criado raízes, grandes e fortes. Mas como? Não se tenta entender as escolhas de um amor, ele apenas faz o que acha certo e tanto faz as consequências dos seus atos. Novamente me entendam, eu não queria ir embora de forma alguma. Mas acho que pela primeira vez tomei uma decisão correta. Na verdade, eu nem sei em que momento me encontro dessa história, acho que é a parte que eu acordo na minha cama e percebo que não consigo mais. Não consigo dividi-la com outros corações-pássaros e então eu, coração-árvore, corto as raízes. Corto as linhas que me ligavam a ela. Corto! Mas não, não viro pássaro, sou árvore ainda. Sou forte! Vocês não a conhecem, perdão por ter ciúmes das minhas lembranças. Mas saibam, os olhos... os olhos são como uma galáxia, ali tem vida. Acho que no fim, bem no fim, sortudos são os que podem ser astronautas.

Kevin Machado
Enviado por Kevin Machado em 23/01/2018
Reeditado em 23/01/2018
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