Azedo

Não tem nenhuma luz, dentro de mim. E essa escuridão já não faz mais qualquer sentido. Quase como se eu fosse cego, estando à beira de uma sinestesia. Nem mesmo o que eu ouço me causa alguma emoção. Procuro gostos nos lábios dos outros, por que minha boca já perdeu a habilidade de sentir por si mesma, seja o amargo da cerveja que eu entorno, dia após dia, seja a comida que eu engulo e que me sustenta. E me pergunto por qual motivo ainda insisto em me manter de pé, diante de tanta violência. Diante de dias tão pesados, que insistem me jogar ao chão, com seus golpes de realidade e suas questões sem resposta. Eu não sou um bêbado, digo para o dono do bar. Eu estou apenas abatido. Por toda essa merda que a vida me enfia goela abaixo. E pela cerveja barata que meu salario consegue pagar.

E o bar é só mais um cumplice da minha tragédia.

Quando todos os que eu achei que podia confiar fizeram questão de me provar que eu estava errado.

talvez eu seja incapaz de discernir realidade de ilusões.

Talvez de fato eu seja um cego

Talvez eu seja um surdo sinestésico,

com meus sentidos misturados ao vazio que tem dentro de mim.

Louco demais para fazer sentido de qualquer coisa

Sem saber se piso no chão sólido

ou nos meus castelos de sonhos sem razão.

Hei de morrer das minhas próprias loucuras

engasgado ou esfaqueado,

bem no peito,

sem mesmo saber que estou morrendo.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/05/2018
Código do texto: T6326534
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.