Dezembro

Raposa acordou cansada como se sequer houvesse dormido e logo que se sentou na cama, sentiu-se enjoada e correu para o banheiro.

Ficou quase 10 minutos encarando o vaso sanitário sem conseguir vomitar, e se conformou em tomar um banho gelado para tentar espantar a ressaca.

Esperou que a água levasse também os pensamentos que não queria ter, e que ainda assim lhe povoavam a cabeça e que podiam ser tão insuportáveis quanto suas enxaquecas.

Fechou o chuveiro quando seus dedos já estavam engilhados. Enxugou-se displicentemente e foi até o espelho para tentar retirar o resto da maquiagem dos olhos.

Foi quando deu de cara om seu reflexo e não conseguiu evitar de se perguntar por que estava fazendo aquilo tudo consigo mesma.

Olhou para os seus olhos refletidos no espelho e sussurou.

- Eu vou morrer daqui para dezembro...

Mas ainda era Março,

E ela sentia que poderia nem sequer chegar lá, em sua fuga de si mesma,

acelerada... sem freio.

Perdendo-se nas bocas e nos corpos de pessoas

que as vezes sequer sabia o nome.

E o pior é que a cada gole de cachaça ou de cerveja,

ela se sentia escorrendo por um ralo existencial, onde seus sentidos se confundiam

e os dias se tornavam noites, e as noites madrugadas,

e as manhãs eram sempre de pura ressaca e de vez em quando, de arrependimento e lágrimas.

Mas estava cansada de chorar e ainda mais cansada de não ter respostas para as perguntas que se fazia.

Queria uma embriaguez perpétua,

ou que Dezembro chegasse logo.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 08/12/2018
Reeditado em 08/12/2018
Código do texto: T6522050
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