A TRISTE HISTÓRIA DE ADAMO

Na farmácia, uma senhora de média idade olha para um lado e para o outro. Aproxima-se do balcão.

Uma faixa de segurança impõe distância para prevenir a doença da vez. Ela compra duas caixas de barbitúricos popularmente conhecidos como Boa-noite Cinderela (RPL e BNC). Esses medicamentos são utilizados em hospitais para apagar a memória cirúrgica concomitantemente com o desmame da anestesia.

Uma casinha de taipa bem rebocada parecendo ser de alvenaria e cuidadosamente pintada em amarelo-ocre com rodapé em óxido de ferro no topo de um barranco com vista para o canavial todo empendoado. Um frondoso juazeiro produz uma deliciosa sombra em frente à casa. Pendurada em seus galhos, uma gostosa rede larga qual um convite.

Adamo, um adolescente de 12 anos conversa com sua prima Laila numa janela, pelo lado de fora. O papo trivial girava em torno do filme Alice no País das Maravilhas que assistira na Cidade de Nytt Uppdrag, Estado de Crawfish.

Seu tio Joe Dascal conversa com sua esposa Aliana cerca de oito metros de onde Adamo se encontra. O vento a favor traz ao seu ouvido a conversa deles, apesar de sussurrem. Seu filho Kim Benrus estava envolvido em estupro e baderna. Pelo que o menino percebe, Joe Dascal sugere, de modo sorrateiro, mas cirúrgico, que Aliana crie um álibi jogando a culpa sobre o sobrinho, livrando assim a pele do seu filho.

Sua tia em atitude agressiva pega, de assalto, o pescoço do sobrinho sem tempo de reagir e passa de modo acintoso a outra mão sobre as genitálias de Adamo que se esforça ao máximo para não ter uma explosão íntima. Isamar, sua prima a tudo assiste e ainda intimida o primo a confessar ter bolinado Lisiana, sua irmãzinha sem que ele o tenha feito. Um pavor invade o coração do menino que, imobilizado pela tia, não consegue se soltar nem reagir.

O medicamento BNC tem uma reação poderosa na sedação do indivíduo deixando-o em estado de confusão mental sem lembrar de nada que tenha feito, o que favoreceria o acusador que poderia até plantar confissões na vítima desse golpe maliciosamente planejado.

Enquanto passa a mão nas genitálias do sobrinho, Aliana tenta forçar Adamo a tomar dois comprimidos de BNC dizendo que lhe fará bem. Àquela altura, uma multidão de curiosos se ajunta ali para ver o que ocorre e começam a bradar palavras de ordem geral: _ “Morte ao estuprador!” _ “Tem que ser preso!” _ “Todos precisam saber quem ele é!”

Adamo esperneia tentando se livrar daquela armadilha em que caíra enquanto grita: _ “Me solta! Sou inocente!” _ Sua tia insiste em que ele tome o BNC que lhe fará muito bem. Ele o repele dizendo que prefere morrer a confessar um crime que não cometera. Num esforço sobre-humano, Adamo, com o joelho, golpeia o entrepernas da tia, consegue escapar de suas garras e grita a todo pulmão:

_ “Prefiro morrer a confessar o que não fiz! E mande o Tio Joe dar um tiro em mim e me matar, porque por este aqui eu vou (aponta um caminho)! Vamos! Me matem!” _ E corre com toda força e pressa que tem a bater com os pés nos fundilhos até desaparecer da vista de todos por entre o canavial.

Até os dias de hoje, não se tem mais notícia dele. Infelizmente, prevalece a versão daquela senhora que jogou a culpa de seu filho no inocente Adamo, destruindo sua reputação para sempre.

Seu filho continua a cometer crimes dos mais diversos a estampar as páginas policiais de sua região enquanto sua ficha corrida de crimes dos mais absurdos só cresce. Dizem até que encontraram seu corpo crivado de balas numa vala próximo a Cabaçal, porém, de Adamo não se sabe onde está nem por onde anda.

* * *

_ “Pai! Mas nós sabemos que você tá aqui c'a gente.” _ fala Uriel abraçando carinhosamente o pescoço do pai.

_ “Sim, Filho! Mas ninguém precisa saber disso além de nós. Para segurança de todos, melhor ninguém fora nossa família saber quem somos e onde estamos.

_ “Todos para a cama inclusive você, Adamo!”

_ “Sim, Susie! Hora de dormir! Sonhem com os anjos!”.

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Este conto é baseado no quotidiano trazido à baila através de um sonho. Os nomes das personagens são fictícios como também a fantasia que faz a liga entre elas e lugar.

Os nomes dos medicamentos não são informados para não inspirar o seu uso e aquisição por possíveis aventureiros.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 09/06/2021
Reeditado em 14/06/2021
Código do texto: T7274631
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