Sombras

Faz tempo que eu não olho pra dentro e vejo algum entusiasmo. Desde que você me deixou... de novo.

Tentei em vão, deixar todo o peso dessa história pra trás, mas eu nunca poderei ser ar, enquanto você escorrer dos meus olhos como água. Eu nunca poderei ser os sonhos, ou qualquer coisa abstrata, que eu ainda insisto em guardar dentro de mim. O que eu posso fazer então, além de desatar a escrever cartas que você nunca vai ler? E o que eu posso fazer, se perdi o norte, perdi o chão e a vontade de seguir andando. Vejo a vida escorrendo pelos meus dedos, e me pergunto se eu mereço todo o tempo que insisto em desperdiçar.

Frequentemente me perco na lembrança dos primeiros segundos do nosso primeiro beijo, e termino morrendo um pouco com a memória das tuas últimas mentiras, misturadas ao sabor do suor da tua pele. Puta merda. Como eu vou esquecer isso tudo? Um dia... talvez, eu enlouqueça de vez, e passe a viver uma realidade alternativa. No meio da dor, do desejo, da saudade, da raiva e do silêncio que você deixou.

Talvez um dia eu rasgue minhas roupas e o meu dinheiro, e as minhas cartas. Talvez eu escreva sobre todos os planos e sonhos que você avacalhou e desprezou. Ou talvez um dia eu mande tudo pra o espaço. E fodam-se as consequências.

Eu sigo olhando pra dentro sem ver nada. Sigo procurando vida onde não tem. Onde não restou nada pra crescer...

Sigo procurando nas minhas sombras um pouco...

apenas um pouco,

do que eu costumava ser.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 19/06/2021
Código do texto: T7282640
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