_____Na flor do destino (uma tragédia medieval)

França, início do século XII. A capital espera ansiosamente o nascimento do filho do rei D. Felipe II. O mais novo herdeiro da família real nasceu em meio ao rigoroso inverno francês, deixando sua mãe, à beira da morte. O nascimento forçado deixou a rainha em necro-espasmos, até o seu fenecer.

O rei, um grão-mestre templário, mandou queimar o corpo de sua bela rainha em um magnânimo ritual, ordenando que jogassem suas cinzas pelo oceano.

Os intensos e eternos anos se passaram e a dor pela perda de sua mulher caiu no conforto, mas não no esquecimento. O garoto cresceu, hoje com seus 15 anos, ao lado do pai, aprendia a reinar o país e as províncias francesas espalhadas pelo mundo.

D. Felipe II não culpava Elliot, seu filho, pela morte da mãe, mas sempre que o fitava, lembrava da doce e angelical fisionomia a qual fora a rainha Elizabeth II.

Elliot foi ensinado pelo pai os mais altos rigores impostos pela sociedade real. Aprendeu ainda a liderar tropas, com o general templário Hugh e a brandir sua espada, com o intuito de proteger o reino e os peregrinos que buscavam a Terra Santa.

Naquela época, um cavaleiro Templário possuía três restrições: a castidade, a pobreza e a obediência. Sendo que a segunda fora atribuída no início da ordem, mas que aos poucos, através de doações e ao ingresso de mais afiliados, o aspecto foi se transformando.

Somente quem fosse filho de nobre poderia tornar-se um cavaleiro templário. Os casados também eram aceitos, desde que destinassem metade de seus bens à Ordem.

Os anos se passaram e Elliot, hoje com 23 anos, corpo esguio, um metro e oitenta, cabelos longos e negros além dos ombros, olhos caramelados profundos e expressivos; cavanhaque pontiagudo, mãos compridas e dedos rígidos; seguia liderando uma de suas tropas cristãs em busca das relíquias antigas usadas por Cristo. Os templários eram protetores das relíquias sagradas, tais quais: a coroa de espinho usada por Cristo; a cabeça de São João Batista após ser enfeitiçado pela dança de Salomé; o Santo Sudário e agora buscavam a mais bela e sagrada das relíquias: o Santo Graal.

Cavalgando por entre as majestosas paisagens, colinas verdejantes, árvores frondosas, ventos favônios e belíssimos castelos da nobre Idade-Média, Elliot e seu exército deram-se de encontro com os imortais inimigos mulçumanos.

Os mulçumanos, êmulos eternos da Igreja, aos poucos destruíam os peregrinos que seguiam em busca da Terra Santa.

Elliot ordenou o ataque. Seus mantos brancos, desenhados com a cruz rubra no peito, indicavam seu lema: não temer a inimigo algum.

As lâminas afiadas dos guerreiros templários penetravam calidamente nos corpos dos inimigos, fazendo da doce paisagem, um rio escarlate de sangue e dor.

Cabeças voavam, corpos decapitados pediam por ajuda; e Elliot, o mais bravo e temido guerreiro, seguia com sede e volúpia pelo sangue de suas vítimas.

Sua espada lívida e afiada, adentrava profundamente à carne dos pobres mulçumanos. Após dias seguidos de mortes e sofreguidão, os médicos dos templários, ajudavam no trabalho de curativos aos feridos e no enterro dos mortos.

O inimigo prometera vingança, diziam que formariam um exército tão grande quanto o dos templários e que poucos sobreviveriam para contar sua história.

Passados alguns dias, retomaram as escavações ao Templo de Salomão, à procura das relíquias sagradas.

*

Nas redondezas do reino de D. Felipe II, em um vilarejo camponês, uma moça inglesa chamada Samantha, com seus 19 anos, cultuava, através das gerações de seus familiares, a arte pagã. Arte tão disputada entre o povo Celta e os Cavaleiros da Távola Redonda, num passado não muito remoto.

Samantha, adoradora da Senhora do Lago e cultuadora dos deuses antigos, usufruía de sua magia na prática de proteção, prosperidade e evolução espiritual. Chegava a jejuar por dias, sentada em um suntuoso penhasco sobre as violentas águas do Oceano. A Lua, sua eterna Mãe, guiava-a e a protegia de todo o mal. Mas sabia, que seu destino forte e cruel, a aguardava e que não muito distante, viveria por completo um grande, eterno e incondicional amor.

Dotada de uma beleza imensurável, a jovem Samantha despertava a volúpia e o desejo entre os homens, assim como a inveja perante as mulheres. Possuía olhos esverdeados e rasgados, pele pálida, alva e rosada tal qual ao de um bebê e seus cabelos encaracolados, lembravam um manto negro escorrido por suas espáduas, além de perfeitos e tentadores seios fartos e lábios rubros tal qual uma suntuosa rosa. O povo judeu, quando a via, se benzia, pois diziam que ela era uma Lilith disfarçada. Sendo assim, produziam amuletos benzidos para tal proteção contra a “Filha do Mal”, como a chamavam.

A lenda Lilith era pavorosa, acreditavam que, por ela ser expulsa do paraíso por Deus, depois de ter se queixado em fazer amor com Adão por baixo deste, rebelou-se e, junto de Samael (um poderoso demônio), dominaram as almas perdidas. Ela vinha atormentar grávidas, crianças e levar homens casados a cometer adultério.

Samantha mau ligava para tais boatos ou superstições, vivia da mais cândida e singela magia. Gozava ao máximo da vida, sempre zelando e monitorando-se. Encontrava-se na eterna busca de um amor, amor que estava reservado a ela, e que, por ironia do destino, mudaria sua vida por completo.

*

Após as escavações e nada do Santo Graal, Elliot ordenou a retirada e para não dizer que nada fora encontrado, alguns de seus homens descobriram certos tipos de arquitetura que mais tarde originariam a arquitetura gótica, das grandes catedrais e obras europeias.

Hugh, o general, agora braço direito de Elliot, seguiu o líder até a França, chegando ao vilarejo de Chenaux.

Resolveram parar por momentos, descansar e tomar bons goles bacantes. Sabiam o momento exato de encessar as escavações, não ultrapassando seus limites da honra de um guerreiro templário.

Elliot estremeceu absorto, quando, não muito distante de seus olhos, avistara a mais bela das cenas. Era Samantha, colhendo flores para um ritual antigo. Seu vestido camponês-medieval enegrecido, espartilhado e rendado afinando sua bela cintura, extasiou o rapaz. O decote da garota era todo decorado em renda, formando o desenho de belíssimas rosas negras.

Seus companheiros e principalmente Hugh, olharam-no reprimindo-o, pois todos sabiam do juramento à castidade que fizeram antes mesmo de ingressar à Ordem. Elliot, retomando seus desejos, fitou os companheiros como se nada tivesse acontecido e continuou a beber do suntuoso vinho e a comer do calórico pão.

- Vamos, retornemos ao castelo! – ordenou Elliot aos seus soldados.

E assim o fizeram. Ao sair cavalgando montado em seu negro corcel, olhou para trás e seus olhos cruzaram-se aos de Samantha. Ambos inconscientemente sabiam de seus destinos, naquele momento não enxergavam mais nada, a não ser um ao outro. Sentiam que eram diferentes e que aquele pequeno flerte era mais do que especial, era espiritual.

Samantha, inebriada, recolheu o restante das flores, virou-se e seguiu seu caminho. Elliot fez o mesmo. Hugh percebera algo diferente no ar, sabia que Elliot ou qualquer um que pertencesse à ordem não poderia traí-la.

Enfim, ao longe da colina mais alta e verdejante, avistaram o castelo de D. Felipe II, pai de Elliot. O castelo era esplendoroso e colossal, ornado por duas torres enormes, onde em seus ápices encontravam-se duas imensas cruzes prateadas.

Fora construído com imensas pedras, estrategicamente colocadas, contra os ataques mulçumanos e cártaros (considerados hereges). Munido de vários labirintos secretos e um estoque de armas frias, os templários preparavam-se cada dia mais para a batalha contra seus inimigos e a heresia. O Papa dos Cavaleiros, fiel escudeiro, zelava dos assuntos religiosos e condenações.

As cornetas ecoavam a chegada dos cavaleiros ao reino de D. Felipe II, os quais foram ovacionados por toda a nobreza. Cantaram seus hinos de vitória, balbulciavam afoitos por cada golpe, cada movimento desferido contra seus êmulos, enfim, toda o cenário o qual realizou-se tal feito honroso.

D. Felipe II recebeu o filho com muito orgulho, convidando-o para tomar uma taça de vinho e após iniciar alguns principiantes aos ritos templários.

Elliot, ao beber da bebida e comer em demasia, seguiu para o seu templo, mesmo não estando em jejum, a fim de dedicar-se um pouco à Ordem, em sua parte religiosa. Embora fossem cristãos, os templários eram adoradores de Baphomet, uma figura deusificada, formando um pentagrama invertido (ou a cabeça de um bode, figuramente falando). Para eles, tal deus, era um símbolo de sabedoria e poder. Havia papas que consideravam-no como prática de feitiçaria, bruxaria (magia negra) ou heresia. Muitos, em várias partes da Europa, foram torturados até a morte por tal ato herege.

Elliot ainda era protegido por uma cigana, a qual morava nas redondezas do reino seu nome, Marridwen. Ela o atendia secretamente em uma parte isolada de sua casa, justamente devido à sociedade clerical ser contra esse tipo de crença.

Apesar de ter bebido e realizado seu ritual, o rapaz estava ainda meio que “enfeitiçado”, depois de ter cruzado seus olhos aos de Samantha. Pensou em ir à casa da cigana, para saber um pouco mais a respeito da moça a qual conhecera naquele dia. Ainda assim, refletiu – não era o momento.

D. Felipe II bateu à porta do quarto do rapaz e relatou-lhe a respeito do nobre baile o qual aconteceria nos próximos dias, em seu presente castelo. Elliot, não muito empolgado, ouviu o pai e retirou-se aos seus aposentos para dormir.

Antes de fazê-lo, Elliot abriu um baú escondido em uma rústica poltrona e tirou a imagem de Baphomet. Rogou-lhe por conhecimento e pediu-lhe ajuda para que a luta dos cavaleiros templários nunca se findasse. Então, clamou em sua litania: - Que meu destino, esteja eu onde estiver, seja de virtudes, glórias, honra e principalmente, devoção. Que assim seja e assim se faça!

Não muito longe dali, clamando junto à lua cheia, Samantha, com uma taça áurea de vinho, soou: - Que meu destino, esteja eu onde estiver, seja de virtudes, glórias, honra e principalmente, devoção e amor. Que assim seja e assim será!

*

O sol, ainda que timidamente, rutilava aos poucos sobre a bela paisagem romântica da Europa. Os raios doirados reluzidos às colinas, felicitavam toda a mãe natureza presente em cada canto das deslumbrantes colinas verdejantes.

Pouco depois do sol raiar, um mensageiro peregrino todo ensangüentado soou suas últimas palavras ao rei. Os cátaros, juntamente com os mulçumanos, invadiram a Terra Santa, assassinando centenas de peregrinos lá presentes.

O rapaz, com as vestes rasgadas, braços e abdômen feridos, pedia ajuda aos nobres cavaleiros.

Elliot, rapidamente convocou o general e a todos os soldados a seguirem, sem mais demora, à Terra Santa, para acabar de vez com o sanguinário genocídio.

Foram dias de longa caminhada. Elliot, acompanhado de seus 1200 soldados, chegaram ao pôr do sol e por entre trincheiras descansaram, para, na manhã seguinte, armar o esquema de ataque surpresa ao inimigo. Estabeleceram-se nas proximidades da fortaleza dos mulçumanos.

Os mulçumanos e os cátaros, agiram juntamente, destruindo um vilarejo peregrino. Mulheres foram estupradas até a morte, crianças degoladas e as mais velhas trazidas como escravas. Os homens lutavam incessantes, casas foram queimadas, famílias inteiras torturadas e queimadas vivas. A saga violenta e sangrenta promovida por eles poderia chegar ao fim, com as cruzadas dos templários.

Pouco antes de o dia amanhecer, Elliot, estrategicamente, promoveu uma ação direta ao inimigo. Mais de 800 cavaleiros e o restante de infantaria planejavam atacar em instantes.

Percebendo a presença dos templários, milhares de cátaros armaram um ataque surpresa pelas costas dos lendários cavaleiros, enquanto que frontalmente os mulçumanos completavam a cilada.

Elliot tentou refugiar-se com seu pequeno exército, comparando aos mais de 3000 inimigos, mas já era tarde. A frustrada guerra estava quase que perdida.

Elliot conseguiu decapitar dezenas de cabeças. As colinas antes verdes foram rapidamente pintadas em rubro e os corajosos cavaleiros lutaram até o fim. Muitos foram degolados com suas entranhas atravessando seus corpos. O general Hugh e Eugenius, o qual era fiel amigo de Elliot, lutavam com unhas e dentes, mas, num simples vacilo, Hugh tomou uma flechada pelas costas, Eugenius então correu ao lado do general, para salvá-lo. Mesmo assim Eugenius conseguiu matar alguns, antes de Hugh ser completamente exterminado. Pelas costas, Hugh levou uma machadada violenta, dividindo sua clavícula em duas partes. Elliot gritou furiosamente e, com sua espada em punho, cravou o ferro no peito de seu inimigo que resfolegou, soou algumas palavras, mas não resistiu. Elliot mais 257 soldados conseguiram escapar, os outros foram massacrados pelos ímpios. Ao final da batalha, milhares de corpos de ambos os lados, contornavam a lutuosa paisagem em sangue amargo. Os templários conseguiram ainda matar mais de 980 soldados do lado inimigo, mesmo assim, eram maiorais em número.

*

Finalmente, depois de relutar contra o frio e a pouca neve que insistia em cair, chegaram ao castelo de D. Felipe II, com a soturna notícia da guerra perdida e a morte de Hugh. O rei, triste e furioso com o ocorrido, condecorou Eugenius como o novo general, pedindo-lhe que reunisse a maior quantidade de homens possíveis do vilarejo ao redor do reino para comparecer no dia seguinte ao castelo, adentrando dessa maneira, à Ordem. No início, a Ordem dos Templários não era formada somente por nobres, mas sim, homens pobres, e era conhecida como: Os Pobres Cavaleiros Templários.

Elliot e o amigo saíram à busca desses futuros heróis cristãos. Nessa busca, Elliot novamente deparou-se com a esplendorosa presença de Samantha. Montado em seu cavalo negro, avistou a moça e, sem mais delongas perguntou seu nome. Samantha meneou sua delicada face à Elliot. (O pai de Samantha fora um dos convocados para ser um templário, mesmo seguindo o paganismo, sendo assim foi perdoado pela Igreja).

A moça, revoltada pelo ingresso de seu pai à ordem, cuspiu ao rosto de Elliot, gritando:

- Cristãos imundos!!

Elliot, sem deixar que os outros cavaleiros ouvissem, desceu de seu cavalo e a levou para um lugar mais reservado. Contou-lhe sobre a batalha perdida e que a próxima área que os mulçumanos invadiriam seria o reinado de seu pai, e conseqüentemente o vilarejo. Por isso deveriam estar mais do que preparados em caso de ataques surpresas. A moça, ainda abalada, tentava absorver, e assim, plangeu por seu pai, pois sua dedicação à arte (ao paganismo) era sua vida. Elliot, não os condenava, pois tinha sua cigana protetora e Baphomet. Seus olhos novamente cruzaram-se e ambos sentiram uma energia avassaladora rondando-os. Parecia que já se conheciam há tempos e que suas vidas, a partir daquele dia, haviam encontrado-se novamente por algum nobre motivo. Elliot alisou a face veludínea da moça, confortando-a de sua dor perante o ocorrido. Samantha cerrou os seus olhos, flutuou, imergiu em seus sentidos. Elliot então ouviu por perto a voz de seu amigo o chamando. Em tom sussurrante revidou à Samantha.

- Me encontres hoje, em pleno arrebol, no penhasco acima do mar.

Sem hesitar, a moça concordou e perguntou:

- Como te chamas, glorioso cavaleiro?

- Elliot. E tu, mulher de portentosa beleza?

- Samantha.

Elliot subiu em seu cavalo, ambos encararam-se prestimosos, e este, seguiu sua jornada com Eugenius em busca de mais homens para ingressar à ordem. Elliot sabia que se fosse pego com alguma mulher, sua sentença seria a morte. Por isso, deveria fazer tudo no mais absoluto sigilo.

Samantha entrou em sua casa, pegou as runas (antiga arte divinatória de origem celta), para visualizar o seu futuro. Enxergava-o, míope, como se não tivesse permissão de saber mais sobre seu recôndito destino.

Ao final do dia foram mais de 1500 os convocados, que, na manhã seguinte, começariam os treinos e ritos iniciáticos que a ordem propunha.

O sol se pôs e Elliot, sem dar satisfação a ninguém, montou seu corcel negro e rumou em direção ao penhasco. Passando por uma imensa floresta negra de gigantescos e centenários arbustos e ecos de ferinos animais, deparou-se com os “Demônios Noturnos”, assim como eram chamados os temíveis lobos negros que habitavam as colinas distantes. Desviando-se deste caminho, Elliot seguiu em frente, adorando a natureza, as verdes montanhas, até chegar ao topo do penhasco, onde lá em sua profundidade as violentas águas debruçavam-se contra os rochedos. Samantha, montada em seu cavalo, já se situava à espera do rapaz. Vestida sob um capuz negrume, sentada numa rocha, adorando a Mãe Lua, sentiu a tenra presença de Elliot. Ela virou-se e num sorriso resplandecente, cumprimentou o jovem. Este pegou em sua mão, acariciou novamente sua face, alisou seus negros e longos cabelos e se abraçaram.

O tempo dizia tudo, vidas após vidas suas almas já haviam se encontrado. Seus corpos férvidos pelas chamas da volúpia e do amor guardado às sete chaves, envolviam-nos. Não conseguiam conter-se! Seus olhos penetravam em suas almas, suas bocas sedentas pelo beijo tocavam-se sob a mais bela paisagem da França antiga. Ao longe ouviam o mar, os ruídos da floresta e sobre a relva, se amaram. Seus corpos nus sob o luar, reluziam à bela paisagem. Seus desejos reprimidos, agora eram entregues e libertos a eternos espasmos lascivos e cálidos. Os cabelos castanhos escuros e também longos de Elliot, afagavam sobre o monumental corpo de Samantha. Seus sussurros inocentes, suas mordidas indecentes, pintavam a natureza em ávido amor e sedução. Elliot percorria o doce e delicado corpo de Samantha, derramando-lhe seu sabor e saliva melíflua sobre ela. Retorcidos pela entrega total, se amaram, em meio a devaneios, mordidas e beijos esfaimados. Os seios fartos da moça perante a boca de Elliot, promoviam a mais libidinosa das cenas. O corpo fálico do rapaz adentrando o sexo de Samantha era magia pura e real. Por horas ali ficaram, até o gozo total, pleno, final. Estavam em pleno êxtase, entregues ao plano universal maior. Eram agora duas divindades, onde o eflúvio escaldante do sexo do rapaz escorria ao corpo alvo e adocicado de Samantha. A moça, em gemidos estridentes e felicidade suprema abraçou calidamente seu eterno amado.

Após o amor concretizar-se, ambos, deitados sobre a relva e entorpecidos, apreciavam a cheia lua que ornamentava o negro céu europeu.

Elliot fez um convite a Samantha: comparecer no dia do baile ao castelo do pai. Sabiam que não poderiam sequer se encostar, devido o juramento à ordem, e em se tratando de roupas, Elliot fazia questão de arrumar algo suntuoso à sua amada. O pai de Samantha também estaria presente, pois já era um templário.

Samantha aceitou o convite. E assim combinaram, e, em meio a beijos e abraços cada qual foi para o seu lado. Montaram em seus selvagens cavalos e trotaram.

Elliot, antes de chegar ao castelo, seguiu à casa de madame Marridwen e contou-lhe o acontecido. Esta pegou sua mão esquerda e lhe disse:

- Os destinos recônditos de ambos estão traçados, meu filho. Tuas almas afagam toda a amargura desta vida. Mas cuidado, vejo algo de muito terrível a acontecer. Haja o que houver, amai-vos por completo, pois o amor vence a tudo. Sois senhores de vossos destinos, faça-te a escolha certa, meu filho. – esta o abençoou e Elliot, sem mais questões rumou ao castelo, refletindo a respeito das palavras da cigana.

*

Dois dias se passaram e o baile estava prestes ter o seu início.

Duques, lordes, condes, condessas, príncipes, princesas, reis e rainhas das mais diversas partes da Europa estavam presentes. O cenário suntuoso, condizente à decoração, encantou Samantha, que junto ao pai, havia chegado. Samantha perdera a mãe quando ainda tinha quatro anos de idade. Morgana, mãe da garota, morrera estuprada por um andarilho escocês. Ela, uma grandiosa feiticeira, deixou todos seus conhecimentos em seu Livro das Sombras, para que quando Samantha crescesse um pouco mais, pudesse vir a tornar-se uma poderosa adoradora da natureza, ou seja, uma bruxa.

Os templários estabeleciam-se às proximidades do salão principal, recebendo os convidados. O salão forrado por um tapete escarlate, lustres áureos iluminados por velas flamejantes, quadros de reis e ancestrais da família real e uma majestosa mesa de madeira, oriunda das florestas obscuras da França. Elliot procurava seu amor em meio à multidão. Seus olhos, de um lado para o outro, pareciam mais uma coruja noturna em busca de sua presa.

Eis que, após muita procura, encontrou Samantha. Ela estava vestida em um longo e aveludado vestido rubro-negro. Decote rendado, mangas encobrindo parte de suas mãos, como luvas medievais na cor negra, olhar rutilante e pregas suntuosas. Em um simples piscar de olhos, cumprimentou-a.

A doce sinfonia medieval ao fundo tomava o ambiente, o vinho e muita comida alimentavam todas as almas ali presentes.

Elliot percebeu que havia uma outra mulher a encará-lo, era a Princesa Ingrid da Grã-Bretanha, filha de Henrique I, prometida ao Conde de Gouvelau (este estava ausente de luto, pela morte de seu pai). O rapaz ignorou-a e continuou ao longe, fixando seu olhar em Samantha.

Ingrid, aos poucos chegou para conversar com Elliot. Seus companheiros olhavam atentamente. Conversar, não era nada de mais perante os olhos da Ordem, mas a castidade era um santo pecado, a não ser que pela castidade nascesse um herdeiro.

- Como estás, Milord...?

- Elliot. Mademoiseur...?

- Princesa Ingrid, mas podes me chamar somente de Ingrid.

- Prazer em conhecer-te. – cumprimentou timidamente Elliot.

- E então, como foste nas cruzadas? Soube do fracasso da batalha contra os mulçumanos.

Elliot, ignorando-a, pois sua atenção era somente para Samantha.

Samantha, observando cautelosa à cena, toda enciumada, aproximou-se de ambos.

- Como tens passado, Milord?

- Muitíssimo bem senhorita. E tu, como tens passado?

- Melhor agora.

- O que a madame estavas a me dizer anteriormente mesmo? – perguntou ironicamente Elliot à Princesa Ingrid.

- Não disse nada, Milord Elliot, com sua licença. – pediu permissão, Ingrid para se retirar.

- Quem era aquela mulher, Elliot? – disfarçadamente perguntou Samantha.

- Uma esnobe princesa inglesa que não tem o que fazer.

- Milord Elliot!! – cumprimentou generosamente o agora Peter, pai de Samantha.

- Grande Milord Peter, estavas aqui a conhecer tua filha.

- Ela é uma grande mulher. Apenas te cuides, Elliot, não fiques de conversa com Samantha, senão vossos amigos pensarão que estás traindo a ordem.

- Logicamente, meu amigo, seria tolice minha, ainda mais com a filha de um templário - sorriu o rapaz junto à Samantha e Peter.

Eugenius, amigo de Elliot, entrou na conversa.

- Saudações, Milord Peter, como vais?

- Muito bem, Milord Eugenius, pelo que podes ver, estou gostando em chamar meus amigos de Milord. – risos gerais.

- Sim, tens mérito para isso, companheiro.

Eugenius, Elliot, Peter e Samantha conversaram praticamente a noite toda.

A bebida subiu à cabeça de todos. Risos e piadas de mulçumanos surgiam. A descontração era permanente.

Ao longe, a princesa Ingrid observava-os. Mas principalmente a Elliot. O rapaz vestia uma camisa negra, cruzada em seu peito um barbante cinéreo, mangas plumosas e decoradas e uma espécie de calça aveludada adentrada em uma bota pitoresca.

A noite, aos poucos, estendia-se e a festa também. Antes de Samantha e o pai partirem para sua casa, Elliot combinara de encontrar-se com ela em um corredor, na parte superior do castelo. Encontraram-se numa despedida triunfal, beijos cálidos e escaldantes, pois amanhã ele partiria para a batalha “final” contra seus ímpios inimigos. Na entrada do corredor, à espreita, a Princesa Ingrid presenciava cuidadosamente a cena da despedida. Seu olhar de reprovação tomou-lhe conta e antes que ambos a notassem, saiu à inglesa.

A festa havia acabado e todos os convidados rumaram aos seus destinos, menos Ingrid. Ao entrar em seu quarto, em meio à embriaguês, Elliot foi tomado por um beijo da maldosa princesa.

- Mas o que significa isso, princesa?

- Quero-te agora, meu Senhor. Vem, entregue-te a mim, sejas meu!

Elliot, embriagado, não tinha voz ativa para espantar a desafortunada princesa.

Aos poucos, ela despiu-o e acariciou o corpo viril do rapaz.

A princesa possuía olhos pouco puxados e castanhos, os cabelos eram da mesma cor. Era ardilosa e assaz ardente.

Em pouco tempo, ambos estavam nus e por cima do corpo fálico de Elliot, como uma fera no cio, cavalgava libidinosamente soando ecos pervertidos e devassos às alturas.

Esta pegou as mãos do rapaz, fazendo-o acariciar e apertar seus seios, gritando em desejos.

A noite findara-se e o dia raiou. A princesa já havia ido embora.

Elliot levantou-se com uma tremenda dor de cabeça e dores por todo o corpo. Não se lembrava direito do ocorrido, somente em ter visto Ingrid em seu quarto.

Passadas algumas horas, já era tempo de rumar para o que chamavam de “A Batalha Final”.

Os cavaleiros, todos reunidos em frente ao castelo, ouviram as últimas ordens de Elliot e Eugenius. Este último, filho de um nobre francês, nascera praticamente junto com Elliot, ambos cresceram e tiveram a mesma infância. Eugenius, cabelos louros e ondulados, olhos azuis, demonstrava, com seu cavanhaque, um certo ar de arrogância e onipotência.

E assim, rumaram para cruzar uma vez mais, a barreira de seus destinos.

Passaram pelo vilarejo onde Samantha esperava pelo pai à despedir-se e ao ver Elliot passando, trocaram rápidos olhares apaixonados e, sem mais delongas, seguiram seus caminhos.

Foram dias de fatídica caminhada. O exército dos cavaleiros templários, agora com cerca de 1750 soldados, estavam preparados para a clamada vingança.

Para não haver mais ciladas ou surpresas, Elliot entoou o seguinte plano.

- Demonstrando ao inimigo que tendes poucos soldados, alguns de vós ficareis em frente à base, os outros atrás e vocês – apontou para um tanto de soldados - atrás do castelo, evitando assim os ataques surpresas dos cátaros, entendeis, templários?? – gritou Elliot.

- Entendeis!! – bramiram em alto e bom som!

- Em nome de Deus, lutareis aqui, se preciso for, até a morte, para acabar com a heresia em vosso mundo! – clamou em voz alta Eugenius.

*

A nevasca começava a despencar, mau sinal, pois a visibilidade piorava e caminhar sobre a neve exigia ainda mais da infantaria. Não muito preocupados com os obstáculos, os bravios guerreiros anunciavam sua chegada aos mulçumanos. A batalha estava prestes a ter o seu início.

Os mulçumanos, percebendo o pequeno exército templário, iniciaram o ataque. O som das afiadas espadas zunia aos ouvidos dos guerreiros e o sangue, uma vez mais, começava a escorrer. Nisso, o batalhão de trás, liderado por Elliot, surgiu além da colina, pegando o inimigo de surpresa. O líder dos mulçumaos anunciou a retirada, mas a terceira parte do exército templário os cercou, retomando assim, o genocídio dos ímpios.

Parecia mais um formigueiro onde soldados davam sua alma em nome de Deus para combater o mau. Os gritos piedosos dos mulçumanos e a dor permaneciam no campo de batalha, enquanto isso, Eugenius e uma parte dos cavaleiros, lutavam. Elliot ordenou que parte dos soldados invadissem em comunhão a ele até a base inimiga.

Estes foram recebidos com cataputas de fogo, cruzando a branca paisagem da neve. Dezenas de templários foram aos poucos queimados e tomados por aquele antigo artefato. Soltaram ainda bolas imensas de ferro, que rolaram esmagando muitos dos seguidores de Elliot.

Elliot, ainda assim, com cerca de 120 soldados ao seu lado, invadiu o castelo, dizimando um a um.

Eugenius, com cerca de 1022 soldados, continuou o genocídio. Aos poucos, os homens de negro foram mortos e degolados. Alguns poucos que sobraram foram pegos como prisioneiros. Elliot carregou o mastro com uma bandeira templária, estendendo-a no alto da fortaleza, iniciando assim a ocupação daquele lugar

A batalha estava ganha e todos comemoraram com gritos de satisfação e abraços.

Mas um mau pressentimento atormentava Elliot. – Onde estariam os cátaros?

- Volteis imediatamente ao castelo, agora! – ordenou Elliot.

- O que há contigo Elliot? – perguntou o amigo Eugenius

- Estou com um mau pressentimento – ordenou Elliot a volta ao reino de seu pai.

Novamente dias de caminhada e ao longe, avistaram uma negrume fumaça encobrindo o reino de D. Felipe II.

A tropa rapidamente trotou ao vilarejo. Casas totalmente queimadas, pessoas mortas, sangue e tristeza espalhados por todos os cantos.

- Meu Deus, o que houve por aqui? – gritou Peter

- Minha intuição me dizia, foram os malditos cátaros. – berrou Elliot.

Peter, sem rumo, saiu correndo à procura da filha.

Elliot, primeiramente fora ao encontro do pai, mas estava muito preocupado com a amada. Entrando no castelo o rei Felipe estava pendurado de cabeça para baixo com os braços e pernas abertas. Ele fora degolado e suas entranhas esparramadas ao chão, onde sua cora fora colocada sobre as mesmas.

Elliot, aos prantos e aos gritos pela dor da perda e o ódio persistente diante daquele momento, fez um juramento prostrado ao chão:

- Prometo aqui com meu sangue – com sua espada teceu um corte em seu braço – em nome de Baphomet e qualquer que sejas o deus presente nessa vã terra, juro por todos estes que, a partir de hoje, meu sangue cristão, será eternamente pagão, pois Deus abandonaste meu pai, no momento em que ele mais precisou. Que assim sejas e assim será.

Do alto, o céu enegrecido derramava sobre o reino, uma tórrida tempestade.

Do lado de fora, Samantha, fora encontrada, muito machucada e estuprada. Seu pai e alguns “templários médicos”, cuidavam de seus ferimentos.

Elliot então rumou para rever sua amada.

Revoltado com a aparência com que a deixaram, reuniu alguns de seus melhores soldados e furiosos, direcionaram na busca pelos cátaros.

Eugenius tentou impedi-lo, mas já era tarde.

*

Dias se passaram e nenhum sinal de Elliot e dos outros.

Até que...

- Hei! Ao longe! Descendo as colinas - gritou um camponês.

Era Elliot, com mais 3 soldados que restaram. Em uma de suas mãos estava a cabeça do líder dos cátaros, totalmente desfigurada e rasgada. Cumprira o que prometera. Mataram um a um, sem dó ou piedade.

Eugenius, observando aquela cena, sentiu-se um tanto quanto perplexo.

Elliot fez questão de pendurar a cabeça ao centro do vilarejo, para depois queimá-la, e então, rumou à casa de Samantha para de revê-la. A moça estava iracunda e preocupada, pois Elliot poderia ter morrido com sua sede de vingança e segundo ela, o próprio universo trataria da vingança contra os cátaros, através da lei da ação e reação.

Passaram-se seis messes e o castelo estava quase que completamente reformado após invasão dos cártaros. Junto disso, uma pessoa conhecida de Elliot chegava ao reinado, cruzando novamente seu destino, trazendo-o a um sentimento desgraçado e fastidioso.

Era Ingrid, bela e esnobe como sempre, numa luxuosa carroça. Mas dessa vez, grávida de seis meses.

Chegando ao castelo, estavam Elliot, Eugenius e Peter, cuidando da ordem do grande salão.

- Bom dia, Milords. – cumprimentou Ingrid.

- Bom dia, Mademouseir. – os três a cumprimentaram.

- Milord Elliot, quero apresentar teu mais novo herdeiro. – apontou para sua barriga.

Elliot, estarrecido, deixou cair a madeira a qual segurava em suas mãos e sem soar qualquer palavreado ou som, despencou em melancolia profunda.

Peter e Eugenius, assustados, não sabiam como agir ou o que falar

- Madame, tens certeza que esse filho que esperas é de Elliot? – perguntou Eugenius.

- Sim. Naquela noite da festa, Elliot estava muito embriagado, me encontraste em um dos corredores do castelo e me levaste para o teu quarto.

- Não, não podes ser. Eu, mesmo embriagado, nunca cometeria tal infâmia. Por favor, Eugenius tu me conheces, não estás vendo que ela está jogando sujo comigo, ou melhor, convosco?

- Não é hora para explicações no momento, Elliot, tendes, o mais urgente possível que preparar teu casamento, antes da criança nascer, essa é a lei! – ordenou-lhe Eugenius.

Elliot, fitando-a em total torpor, retirou-se.

A noite caiu e, com ela, os sussurros desesperados de Samantha ao tomar conhecimento, pela boca do pai, do ocorrido. Não podia suportar a dor da traição, ainda mais com uma pessoa tão baixa tal qual era Ingrid. Samantha, nada podia fazer, pois sabia que seu destino era amargo e cruel, mas não tinha ideia que seria tão rapidamente.

Noites e noites sem dormir, Elliot resolveu fazer uma visita a Samantha a fim de explicar-se.

- Samantha, Samantha, abra-te a porta, por favor!!

- Saia-te imediatamente daqui, seu canalha!! Toma-te o rumo!

- Samantha, não é o que pensas, essa mulher estás a enganar a...

- Não precisas te desculpar Elliot, basta!! – cortou o assunto imediatamente

Elliot virou-se, montou em seu cavalo e voltou para o castelo.

Passado um mês, o castelo já estava praticamente refeito para o casamento de Sir Elliot e por pegar a todos de surpresa, poucos foram os convidados. Elliot nada podia fazer senão aceitar o que o destino lhe reservara. Desistir seria a morte! Fugir? Uma necessidade! Pensaria num jeito.

O Papa do reino fora convocado para celebrar o casamento, ali mesmo, no altar do castelo. Ingrid, em seu longo vestido negro, despertava a curiosidade de todos. Elliot, soturno, melancólico, deprimido, envolto com seu olhar cabisbaixo e de reprovação diante daquela mulher, mal a notara.

Samantha, ao longe, apareceu apenas para certificar se tudo aquilo era real. Em prantos e lágrimas, deixou o castelo e rumou para o penhasco meditar e orar para sua Deusa. Pediu para que ela ajudasse diante de seu austero sofrimento e aliviasse esta cruz tão pesada que pegara e que a torturava cada dia mais e mais. Seu coração apunhalado pela adaga do torpe amor, antes sereno e sensível, agora parecia esvair-se pela garganta.

Novamente tomou de suas runas e perguntou sobre seu futuro.

Percebeu que ainda podia ser feliz, mas tudo iria depender de Elliot e que mesmo assim uma desgraça estava prestes a acontecer.

Na lua de mel de Elliot, uma briga tórrida foi armada contra a atual esposa. Em meio a berros e xingamentos, Ingrid sentiu uma dor intensa na barriga e despencou ao chão.

Elliot saiu correndo a procura de um médico. Tarde demais, ao chegar, a moça havia abortado o herdeiro de Elliot. Mesmo furioso com a mulher, plangeu aos cântaros, por perder a outro que tanto amava e que estava por vir, seu filho. A sangria escorria quaro a fora, e o feto, já formado, era um natimorto. Novamente a tristeza, melancolia e os acontecimentos dramáticos tomaram conta do agora lúbrico castelo.

*

Passados alguns dias, Elliot, resolveu fazer a loucura mais maravilhosa de sua vida. Aproveitando que seu relacionamento com esposa não era muito bom, devido principalmente como tudo estava ocorrendo, resolveu fazer uma visita inesperada a Samantha.

Chegando lá, a moça o atendeu cabisbaixa.

- O que houve desta vez, Elliot?

- Queres fugir comigo? – indagou resfolegante a ela.

- Mas como? Já? Assim, sem me preparar? E tua mulher, o que farás?

- Eu não a amo, Samantha, será que compreendes isso? Aquela mulher aproveitou-se de minha embriaguês e fizeste aquela coisa horrível.

- Queres dizer que ela o estuprou. Sei, Elliot. – respondeu ironicamente Samantha.

- Tu tendes que acreditar em minhas palavras, meu amor. Tu acreditas nela ou em mim? Onde está teu amor, que tanto juraste? O verdadeiro sentimento que tens por mim? Ou tuas crenças de nada valem?

A moça, inerte, sem mais hesitar, beijou ardentemente o rapaz.

- Oh! Elliot, eu te amo, do fundo de mi´alma. Meu coração não agüenta mais ver-te ao lado dela, tu não sabes a dor que passei por esses últimos meses, Elliot, pensei até em suicídio, a não viver ao teu lado. A dor e amargura são tão fortes, que só penso em morrer, amor meu! – disse a agonizada moça.

- Não, meu amor, nunca deixarei que isto aconteças a ti. Samantha fareis o seguinte, encontras-me hoje, novamente ao arrebol, ao alto do penhasco. Leveis algumas roupas, pois fugiremos noite afora.

- Mas, para onde, meu amor?

- Meu pai tinha uma pequena cabana de lenhador, onde guardava algumas armas, era uma estratégia contra os inimigos. Fica a mais ou menos cinco horas a cavalo daqui e depois rumaremos para o norte.

- Ok, Elliot, combinado.

Depois de deixar a casa de Samantha, Sir Peter, pai da moça, ouvira tudo, dizendo à filha:

- Tens certeza do que estás fazendo minha filha?

- Pai? Você por aqui? – respondeu surpresa – Ouviste nossa conversa, não é mesmo?

- Sim querida, já sabia de seu amor por ele desde o dia do baile. Os olhos de ambos não me enganaram. Sabes, gosto muito de Elliot, acho-o um grande rapaz e com certeza serás um grande marido. Mas temo por ambos, minha filha, pois se a Ordem descobrir, ambos serão condenados.

- Eu sei, meu pai. Por isso fugiremos para muito longe. Atravessaremos a fronteira.

- Aconteças o que acontecer, sempre estarei ao teu lado filha – emocionou-se dando-lhe um forte abraço – Quero que sejas feliz, assim como eu e tua mãe o fomos.

O sol se pôs. Enquanto isso no castelo...

Elliot mal acabou de jantar e disse à mulher que iria colher lenhas para a lareira.

Suas roupas já estavam no cavalo, havia pego o mínimo necessário. Um dos cavaleiros perguntou a Elliot aonde iria e respondeu o mesmo.

Rumou ao penhasco.

Samantha já estava a esperá-lo e com um baú, onde segredos estariam por ser revelados ali dentro.

Sob o prateado luar, abraçaram-se e beijaram-se incessantemente.

Mal sabiam que alguém estava na penumbra da floresta, era ela, Ingrid. Desconfiada do marido, pegou seu cavalo e rumou atrás de Elliot. Traída em seus sentimentos, pegou o caminho de volta. Sem nada ouvir ou ver, Elliot ofereceu à sua amada:

- Amor, partiremos daqui a pouco. Antes quero dar-te algo.

- O que é isso, amor?

Elliot tirou de uma caixinha um anel argênteo com uma pedra púrpura.

- Era de mamãe, quero que uses.

- Nossa, que lindo, mas, não posso aceitar querido, é uma relíquia importantíssima para ti.

- Faço questão, mamãe certamente está feliz numa hora destas.

Samantha, lisonjeada, aceitou o presente e disse-lhe:

- Também quero mostrar-te algo, meu amor.

Samantha pegou seu baú e, de dentro, tirou o maior de todos os segredos, a maior de todas as relíquias, o tão procurado e sonhado Santo Graal.

- Meu Deus!! O que é isto Samantha? Não me diga que és...

- Sim, isso mesmo que pensas, o Santo Graal.

- Mas como, como achaste?

- Mamãe, antes de morrer, sabia dos mais variados segredos dos Cavaleiros da Távola Redonda, minha avó, Viviane (amiga de Merlin), mesmo nome da Senhora do Lago, junto às Cruzadas durante as escavações no Templo de Salomão, encontrou o Santo Graal. Não querendo que tal relíquia ficasse para os Cavaleiros, resolveu escondê-la. Para eles, vovó era uma espécie de vidente, um talismã, tal qual Merlin o foi. Ela então guardou nesse baú e repassou para mamãe, que deixou para mim e assim sucessivamente. Agora quero passar a ti, quero que guarde com toda sua fé e devoção...

Junto à branda bruma, alguém presenciou a cena, cortando a conversa dos dois amantes.

- Não é que Ingrid tinha razão – interferiu Eugenius e mais sete cavaleiros – os dois pombinhos estão a se encontrar às escondidas. Elliot, não sabes de seu juramento?

- O que fazes aqui, amigo impostor?

- Impostor, eu? Não me faças rir, Milord Elliot. Sabes o que fizeste. Ingrid contaste sobre o dia do baile, de teus beijos cálidos no corredor do castelo, com esta bruxa.

- Não fales assim, maldito! – gritou rumando para cima de Eugenius.

Então, um dos cavaleiros deu um chute em sua face, fazendo Elliot despencar ao chão.

- Deixes Elliot em paz, é a mim que queres, eu sou a bruxa aqui, não? – gritou desesperada Samantha.

- Tua hora chegará, maldita, agora cala-se. Que blasfêmia, Elliot, traindo tua esposa com uma bruxa, será acusado três vezes. Primeira acusação: Sairdes às escondidas com uma bruxa há tempos - Segunda acusação: trairdes tua bela e adorada esposa - Terceira acusação: heresia. Encontrei isso em teus aposentos – jogou a figura de Baphomet em sua cabeça.

Eugenius desceu de seu cavalo e espancou Elliot. Chutou seu abdômen, rosto e pernas.

- Levantem-no! – ordenou.

- E quanto à bruxa, Milord Eugenius? – indagou um dos cavaleiros.

- Tenho um presentinho a ela.- pegou no cavalo um caixote e jogou perto dela, onde de dentro, a cabeça de seu pai rolava ao negrume chão do penhasco.

- Não! Maldito, não! Porque fizeste isso? – prostrou ao chão aos prantos e lágrimas de sangue, ódio e tristeza.

- Este traidor estava a ajudar-vos a fugir, sendo assim tive que dar um jeito nele. Cavaleiros, seguireis em frente! – ordenou Eugenius

Elliot, preso ao cavalo, gritava desesperado por Samantha. Esta igualmente clamou incansável e avidamente pelo amado.

Samantha virou-se para o penhasco, levantou seus braços à Deusa Mãe e disse:

- Mãe protetora de beleza e amor, leves minha alma junto de ti, envolvas-me sob tua luz. Por que, minha Mãe, por que tudo isso? – questionou sob choro profundo – meu destino, infelizmente, chegou ao fim.

Pegou o Santo Graal que seu amado havia deixado cair ao ser espancado, abraçou-o forte e jogou-se no violento Oceano, a uma altura de mais de cinquenta metros. Seu corpo, despencou tal qual uma pluma, como se a Deusa sob suas mãos, a segurasse, pela eternidade. Sobre uma rocha, espatifou-se, sendo engolida pelo mar. O sangue escarlate misturou-se ao triste azul do oceano e o Santo Graal, junto dela, afundou nas infinitas e gélidas águas do oceano.

Não muito longe dali, Elliot, todo machucado, foi levado ao interior da Floresta.

- Parem! – ordenou novamente – Amarrem-no neste árvore.

- Mas por quê, Milord? Não deveis condenar o impostor?

- Esperais, ouçam! Os Demônios Noturnos (os ferozes lobos negros). Tirai-no do cavalo.

E assim o fizeram.

Amarraram-lhe as mãos e os pés, recostando-o em uma lendária árvore.

- Agora, deixe que a própria natureza te condenes.- disse Eugenius, fitando iracundo aos olhos de Elliot, partindo com os soldados.

- Traidor– sussurrou Elliot – Tudo poderia ser diferente se fosse meu real amigo. Um dia, em outra vida, voltarei, e então, acertareis as contas. Que Deus tenha piedade de ti. – Elliot regenerou-se diante do tal juramento que havia feito junto a morte de seu pai, há meses atrás.

Eugenius ainda cuspiu à face de Elliot, virou-se e rumou junto dos cavaleiros.

Agora era entre Elliot e os lobos. Ele então lembrou-se das tristes palavras que a cigana havia dito, e principalmente, do amor imortal que sentia por Samantha. Cerrou seus os olhos e plangeu.

De repente, apareceram três lobos, logo já haviam sete famintos babando por tamanha volúpia pela carne fresquinha de Elliot.

Ele ainda tentou espantá-los com gritos, mas, de nada adiantou. Eram sete contra um.

O primeiro lobo atacou-o em uma das pernas, puxando-a. Dois outros arrancaram-lhe, com muito esforço, um braço. Com uma patada, o lado direito de seu rosto foi rasgado por inteiro e os gritos incessantes de dor e pávido podiam ser ouvidos a metros de distância. Lutou por sua vida mesmo amarrado e seu último grito: - Samantha!!!

Eugenius, chegando ao reino, avisou a todos sobre ocorrido. Sem rei, ele tornou-se o regente daquele vilarejo e do castelo. O povo começou a odiar por completo o primeiro rei tirano da região.

Ingrid, sabendo da morte de Elliot, pegou um punhal e penetrou-o contra seu peito, acabando com sua própria vida.

*

Anos se passaram e, por toda a Europa, cavaleiros templários foram julgados por heresia, por adorarem um certo deus: Baphomet. O mesmo que Eugenius encontrara nos aposentos de Elliot. Nenhum templário foi poupado. Torturados, enforcados e queimados vivos, a lendária história dos cavaleiros templários despencava do mais alto dos abismos na Europa medieval. Até hoje, especialistas do mundo inteiro procuram uma explicação notória quanto ao sumiço do Santo Graal.

Essa é uma real e lendária história, ocorrida há muitos séculos, e que agora, de alguma forma, vem à tona nessa vida infame.

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Tiago Tzepesch
Enviado por Tiago Tzepesch em 21/01/2011
Código do texto: T2743278
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