As aventuras de Nívea, a nuvem sujinha - Parte I

As aventuras de Nívea, a nuvem sujinha

Parte I

Ironi Lírio

Era uma vez, um vaporzinho de água limpa e cristalina que saía da nascente de um rio.

Quando a nascente era aquecida pelos raios do sol, o vaporzinho subia quente para o céu e chegando lá, juntava-se aos outros vapores para formarem as grandes nuvens.

Eram nuvens bem branquinhas, parecidas com algodão. Todas elas bem limpas e de formatos diferentes umas das outras.

Todos os dias aconteciam às mesmas coisas, como se fosse o encanto de uma magia: os raios do sol aqueciam a água, subia o vapor para o céu, formavam as nuvens, e depois, a chuva caía sobre a terra da mata alegrando as plantas e os animais daquele lugar.

Um dia, depois de uma chuva, o vaporzinho de água resolveu tirar um cochilo. Rolou para debaixo de uma pedra e rapidamente adormeceu.

Quando acordou, olhou assustado ao seu redor e não viu mais ninguém. O sol havia esquentado a nascente, e ele que estava escondido embaixo de uma pedra, não tinha recebido os raios necessários para se aquecer. Saiu depressa de onde estava e, quando foi aquecido pelo sol, subiu correndo para o céu, pois já estava bem atrasado.

Olhou para todo mundo procurando alguém para se juntar a ele, mas todos os lugares já estavam ocupados. Tentou espremer-se entre as nuvens maiores e foi enxotado por elas que lhe disseram em coro:

- Você dormiu demais, vaporzinho; já estamos todas formadas e prontas para cair sobre a terra. O melhor que tens a fazer é voltar para lá e continuar dormindo!

O vaporzinho desolado e sem saber como fazer, foi para um cantinho no céu e ali se encolheu como se fosse uma bolinha. Ficou por um tempo observando aquelas nuvens se moverem lentamente de um lado para o outro, até perceber que elas também não paravam de olhar para ele. Admirado, olhou para si mesmo e viu que havia formado, sem querer, uma nuvenzinha com o seu próprio vapor. Orgulhoso de sua imagem, que havia chamado tanta atenção, flutuou no ar junto com suas amigas grandonas esperando o momento certo de voltar para a casa como sempre faziam.

Mas na tarde daquele dia, houve um imenso temporal. O vento começou a soprar forte dispersando aquelas nuvens para todos os lados.

Algumas, atingidas pela força dos raios, foram partidas ao meio e separadas para longe umas das outras. A nuvenzinha assustada tentou esconder-se atrás das nuvens grandonas, mas com aquela tempestade todas elas começaram a cair de uma só vez, sem saber para aonde estavam indo.

Já era noite quando a nuvenzinha transformada novamente em água correu arrastada por uma correnteza e transformou-se numa pequena poça.

No dia seguinte, quando passou a tempestade e o sol começou a brilhar novamente, a nuvenzinha perdida conseguiu, então, enxergar.

Estava num lugar esquisito. Não tinha árvores, nem pássaros, nem flores, nem cheiro de relva molhada. O cheiro daquele lugar era muito ruim e olhando ao redor, a nuvenzinha transformada em poça d’água viu muitos objetos espalhados no chão. Tinha garrafas, plásticos, latas, móveis velhos, e todo tipo de tranqueiras que as pessoas não queriam mais. Por isso eram jogadas ali.

A nuvenzinha em forma de poça d’água estava dentro de um pneu velho. De repente uma mosca, que estava passando por ali, quis pousar em sua água. Mas um ratinho que passava perto daquele pneu falou para ela:

- Vá para os raios do sol e não deixe esta mosca pousar em você, porque dela sairão muitos ovos que irão te contaminar. Deixe que o sol te aqueça para que possas subir em forma de vapor e voltar a se transformar em nuvem no céu.

- Quem é você? Perguntou a poça d’água.

- Eu sou um ratinho e moro aqui.

- Porque você vive neste lugar malcheiroso, meu amiguinho?

- Bem se vê que não me conhece. Eu moro neste lugar porque aqui eu encontro comida facilmente. Se eu for para a cidade e entrar em alguma casa, as pessoas vão me caçar com ratoeiras, mas neste lixão eu vivo tranqüilo. Agora, não perca tempo; vá para os raios do sol e fique esperando que ele te esquente, porque eu como rato não tenho a mesma sorte que você e o meu destino é viver aqui para sempre!

- Eu moro nas matas. Disse a poça d’água. Vim parar aqui por engano.

- Então, deves voltar para lá. Este lugar já foi bonito, mas as pessoas o deixaram assim; cheio de lixo e malcheiroso. E agora, nem eles querem viver aqui.

A poça d’água agradeceu ao ratinho e escorreu mais que depressa para perto dos raios do sol. Queria sair daquele lugar o mais rápido possível.

Em alguns minutos começou a subir contente para o céu em forma de vapor de água e enquanto subia, despediu-se do ratinho que acenava para ela:

- Tchau, meu amiguinho! Espero encontrá-lo algum dia, em outro lugar!

- Pode ser! Disse o ratinho. Talvez um dia, eu vá visitá-la na mata onde você vive. Como é mesmo o seu nome? O meu nome é Raul Cancioneiro, e o seu?

- Que nome interessante para um ratinho!

- É que eu não sou um ratinho qualquer. Eu canto muito bem, sabia?

- Não, não sabia. Espero vê-lo cantar algum dia desses. Quanto a mim, eu não tenho nome. Sou apenas uma nuvenzinha.

- Então irei chamá-la de: Hã... Vamos ver... Nívea. É. Nívea é um bom nome para uma nuvenzinha como você. Bonito, não? Agora você tem um nome de verdade. Assim ficará mais fácil encontrá-la na mata quando eu for visitá-la, está bem?

- Está! Vou esperá-lo, então; obrigada pelo nome!

Despedindo-se contente do ratinho, a nuvenzinha subiu rápido para o céu. Queria encontrar as nuvens grandonas e contar a sua aventura. Foi flutuando no espaço até avistar uma de suas amigas que estavam voltando da viagem à terra.

- Até que enfim me livrei daquela mosca! Pensou a nuvenzinha enquanto esperava pelas outras.

Mas quando as nuvens grandonas começaram a se formar, a pobre nuvenzinha ficou encabulada, pois as outras começaram a caçoar do seu estado:

- Olhem só, dizia uma delas; que nuvem suja e amarelada; não é bonita e brilhante como nós! De onde será que ela veio?

- Vocês não me reconhecem? Disse a Nívea às amigas. Sou eu, a nuvem que foi formada pelo pequeno vapor de água da nascente; eu fui arremessada pelo vento num lugar estranho, muito sujo e mal cheiroso, por isso estou assim.

- Ah, é você? Então vá para lá, disseram as nuvens grandonas; não queremos uma nuvem suja perto de nós; fique longe!

A nuvem sujinha se afastou das outras e encolheu-se no seu cantinho. De lá, observava o conjunto de névoas branco-azuladas e pensava em sua nascente na mata.

Uma águia que sempre passeava pelo céu e era amiga das nuvens viu a Nívea afastada das outras e para ela foi perguntar:

- O que aconteceu com você, nuvenzinha? Porque está tão triste e amarelada neste cantinho?

A nuvenzinha contou o que tinha acontecido e a ave, que era muito confiante, disse para a amiguinha:

- Ora Nívea, não se preocupe! Eu estou aqui, não estou? Para que servem os amigos? Suba nas minhas asas e eu a levarei até o lugar onde você poderá cair na mata novamente.

A nuvenzinha afastou-se até conseguir subir nas asas da águia e começou sua viagem de volta ao lugar da nascente.

Mas, como sempre acontecia, um temporal começou a se formar no céu e o vento, num redemoinho, veio empurrar e dispersar aquelas nuvens.

Vendo que a Nívea estava agarrada às costas da águia, as nuvens grandonas começaram a gritar para ela:

- Ajude-nos, nuvenzinha! Vamos ser arrastadas pelo vento. Deixe-nos também segurar nas asas da águia.

- De jeito nenhum! Gritou a águia. Vocês são muito grandonas e muito pesadas! Eu sou uma ave e não um trator! Além do mais, vocês não gostam de ficar perto de uma nuvem sujinha, lembram?

A águia começou a voar rapidamente por entre as rajadas de vento. Queria tira-la daquele temporal e levá-la a um lugar seguro. Mas a nuvenzinha olhou para trás e viu suas amigas grandonas serem separadas pelos raios. Imediatamente, a nuvem sujinha fez menção de sair das asas da águia. A ave amiga percebeu a sua intenção e suspirando conformada parou de voar.

- Já sei, já sei! Nem precisa falar! Vamos voltar e ajudar aquelas nuvens ingratas. Eu sou como você nuvenzinha; também não guardo rancor! Agarre-se bem e vamos voltar.

A nuvenzinha agarrou-se firme nas costas da águia e, em poucos minutos estavam de volta ao temporal. Assim que entraram naquele redemoinho, a nuvenzinha pediu à sua amiga águia que a levasse o mais perto possível do vento. Quando se aproximou, começou a chamar por ele:

- Senhor Vento, Senhor Vento, por favor! Senhor Vento, escute-me, por favor!

Mas o barulho que fazia era tão alto que ele não podia ouvir a nuvenzinha chamando.

Vendo que seria inútil chamá-lo, lançou-se de cima das asas da águia e caiu de encontro ao redemoinho onde o vento soprava forte. Ali dentro, a nuvenzinha começou a gritar para ele:

- Senhor Vento, pare por favor! Pare um minuto e ouça-me, por favor!

O vento olhou para a nuvem sujinha e parou de soprar.

- O que você quer nuvenzinha? Porque está aqui, tão suja e amarelada, atrapalhando o meu trabalho?

- Porque fui arrastada do meu lugar de origem e caí num lugar poluído. A força das tuas rajadas é muito forte e nós, as nuvens, somos jogadas para todos os lados. Por isso vim aqui. Para pedir ao Senhor que não leve minhas amigas para longe, pois elas poderão cair no mesmo lugar que eu e ficarão sujas como fiquei. Diminua, por favor, a intensidade do temporal para que minhas amigas continuem a ser nuvens brancas e brilhantes como um algodão enfeitando o céu. Quanto a mim, não me importo de permanecer sujinha, pois desde que caí naquele lugar não parei de conhecer novos amigos e o Senhor, com certeza, é um deles!

Comovido com as palavras da nuvenzinha, o vento transformou aquele terrível temporal numa suave brisa de uma tarde de verão. Então, olhou para sua nova amiguinha e perguntou:

- Está bom assim, amiguinha?

- Está, Senhor Vento! Muito obrigada!

As nuvens grandonas vendo a coragem e a lealdade da Nívea aproximaram-se pedindo desculpas e começaram a chorar comovidas. Por isso naquele dia, em vez de uma tempestade, começou a cair do céu apenas uma garoa fininha. Eram as lágrimas das nuvens.

Vendo que tudo se resolvia, a águia aproximou-se dos amigos e começou a falar:

- Bom, agora que já se tornaram amigos, vejo-me no direito de também reclamar: Olha, esta ventania toda acabou com o meu penteado! As unhas da Dona Tatu já estão ficando cegas de tanto alisar minhas penas! Assim não há tatu que agüente! Vai devagar Senhor Vento!

Naquela tarde, os amigos ficaram horas conversando e deram risadas gostosas ouvindo as aventuras da nuvem sujinha e as piadas da Dona Águia, enquanto as nuvens aguardavam para caíarem na mata e a nuvenzinha Nívea esperar a visita do seu amigo, o ratinho cantor: Raul

Ironi Lirio
Enviado por Ironi Lirio em 14/06/2011
Código do texto: T3034242
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