As aventuras de Nívea, a nuvem sujinha. Parte II

Parte II

Já havia se passado uma semana desde o encontro do ratinho com a nuvem sujinha. O ratinho Raul tinha acordado disposto a viajar até a floresta. Queria visitar a sua amiguinha e o dia ensolarado convidava-o a se aventurar pelo mundo afora.

Raul olhava entusiasmado para o céu. O sol alaranjado dava saudações aos moradores da terra enviando seus raios acolhedores para aquecer o gostoso dia.

O ratinho começou a se preparar para a viagem. Colocou na mochila alguns pedaços de pão torrado que encontrou por ali. Não sabia se haveria comida pelo caminho. Depois pegou a sua violinha e partiu em direção à mata.

Andava contente. No caminho, o ratinho ia assobiando enquanto fazia mil planos para aproveitar os dias que ficaria hospedado na casa da Nívea.

- Que gostoso será acordar de manhã sentindo o cheiro da relva molhada pelo orvalho da noite! – Pensava. - Vou cantar todos os dias, comer frutas silvestres, beber água da cachoeira.

O ratinho andava tranquilo assobiando uma bonita canção, quando de repente ouviu um barulho atrás de si. À medida que caminhava, percebia alguma coisa o seguindo.

Estrategicamente, Raul se escondeu atrás de um muro e olhou de relance para ver o que era. Alguém estava atrás dele.

- Quem está aí? - Disse corajoso. – É bom que diga logo, sou faixa preta de Karatê!

- Qua, qua ,qua, qua, qua! – Riram dois ratinhos que estavam escondidos atrás de uma lata de tinta. – Faixa preta você? Conta outra, Raul.

Ao avistar os dois ratinhos saindo por detrás da lata de tinta, Raul perguntou irritado:

- Muito bem, Diego e Heitor, o que fazem aqui?

Os ratinhos saíram do esconderijo zombando do primo.

- Ora Raul, nós vamos com você.

- Não, não, de jeito nenhum, podem dar a meia volta! Eu sou um viajante solitário. Somente a minha viola e eu.

Antes que terminasse de falar, o ratinho viu saírem de trás da lata de tinta uma fila de quatro ratinhos filhotes.

- Tia Mei, o que faz aqui? E essa ninhada com você? Ah, mas eu não vou levar essa rataiada comigo de jeito nenhum; podem esquecer, não vou mesmo!

- Mas, Querido! – Disse calmamente a tia Mei. – Já estamos muito longe do lixão. Voltar agora é colocar os filhotes em perigo. Sabes muito bem a quantidade de gatos que estão soltos por aí. Só chegamos até aqui pela ajuda do Diego e do Heitor. Além do mais, você pode precisar de nós. Estamos indo para um lugar desconhecido.

- Estamos uma vírgula; eu estou; eu, euzinho! A nuvenzinha convidou a mim e não a vocês.

- Ora, querido, não fique bravo com a sua tia que gosta tanto de você; veja a alegria nos olhos dos filhotes; nunca fizemos uma viagem assim, tão longa!

Olhando nos olhos da tia Mei, o ratinho que tinha o coração mole, acabou concordando.

- Está bem, está bem, podem ir! Mas eu não garanto conforto para ninguém. Trago pouca comida e dormiremos em qualquer lugar ao relento. Não há tocas pelo caminho.

- Não se preocupe querido, eu trouxe tudo! Fiz uma sacola de lanches assim que o Diego me convidou.

- Ah, convidou? – Disse revoltado com a situação e depois virou-se para o primo. - Então foi você o fofoqueiro, eu já deveria saber! A essa altura, Diego se escondia atrás da tia Mei.

Antes de tudo se tornar em uma discussão, a tia Mei interrompeu o assunto e começou a andar apressadamente.

- Vamos, rapazes, não queremos chegar tarde!

Iniciaram a jornada andando pelos cantinhos das ruas da cidade até alcançarem a estrada que os levaria à casa da nuvenzinha. Diego e Heitor andavam na frente observando tudo para garantir a viagem em segurança. Quando sentiam o caminho livre, faziam sinais com as mãos e os outros passavam correndo. Porque além dos gatos, os carros da cidade eram um perigo constante.

Enquanto isso, na mata, as nuvens que tinham caído com a chuva do dia anterior descansavam na nascente do rio. Nívea estava otimista. Mais alguns dias de chuva e ela estaria limpa novamente.

No caminho, Raul e os amigos admiravam a paisagem que, aos poucos, ia se transformando. Os prédios, as ruas cheias de gente e os carros davam lugar às flores, árvores e ao cheiro do campo.

Raul cantarolava modinhas acompanhado pelos filhotes, enquanto a tia Mei procurava um lugar para descansarem.

- Venham, meninos, vamos sentar à beira daquele lago. Estão com fome?

Sem esperar por resposta, a tia Mei correu em direção ao lago e sentou-se ao pé de um arbusto. Começou, então, a preparar os lanches. Seria como um pequeno piquenique. Estendeu a toalha no chão e todos se sentaram em volta. Depois de comer, com as barrigas cheias e cansados da caminhada, os ratinhos tiraram um cochilo. Esqueceram das horas. Só foram acordados quando ouviram os gritos da tia Mei.

- Socorro, meninos, tem uma coisa horrível perto de mim!

Levantaram assustados e correram para ver o que era.

Um morceguinho, que também tinha se assustado com os gritos da tia Mei, se escondia atrás dos arbustos. Depois de alguns minutos, colocou a cabeça para fora dos galhos e olhou admirado para os ratinhos.

- Quem são vocês? - Perguntou admirado.

- Ora, nós é quem lhe perguntamos. O que faz aqui e o que quer? Fique sabendo que somos muito valentes. Não temos medo de uma boa briga.

O morceguinho não sentiu firmeza nas palavras dos ratinhos e começou a responder as perguntas calmamente.

- O meu nome é André. Sou da família dos morcegos, e vocês?

- Somos ratos! - Disse o Diego com voz ameaçadora. - Nossa família é numerosa e, se algo acontecer com a gente todos virão atrás de você.

- Não se preocupem. - Disse o morceguinho. - Só estou procurando por meus óculos. Eu os deixei cair aqui na noite passada. Não enxergo bem sem eles, por isso me aproximei tanto daquela bonita senhora. Não queria assustá-la, me desculpem!

A tia Mei sentiu-se envaidecida. Encabulada agradeceu ao elogio.

- Obrigada, querido, não há do que se desculpar!

O morceguinho estava admirado com aquela turma viajando sozinha. Tinha certeza que não conheciam os perigos da floresta. Curioso perguntou aos ratinhos:

- O que fazem aqui próximos ao lago dormindo assim tão desprotegidos?

- Vamos até a nascente do rio onde mora a minha amiga nuvenzinha. Prometi-lhe uma visita - Disse o Raul. - Estamos viajando desde o amanhecer. Por isso paramos um pouco para descansar próximos a este lago. Estávamos famintos e com sede.

- Mas isso não é bom, amigos! Podem ser atacados por uma cobra ou um gavião, uma águia, talvez. Se quiserem descansar mais um pouco lhes ofereço a minha caverna. É escura e aconchegante. Só não façam barulho, pois todos os meus parentes estão dormindo. Tivemos uma caçada muito cansativa ontem à noite.

- Nós agradecemos a sua hospitalidade, mas já vamos andando. – Disse o Raul. - Estamos com pressa de chegarmos até a nascente.

- Se eu estivesse com os meus óculos, eu os guiaria até lá. Eu sei o caminho, mas...

Antes que o morceguinho terminasse a frase, o ratinho Heitor pisou em alguma coisa estranha e retirou debaixo de seus pés os óculos perdidos. Sem graça os entregou ao dono.

- Está um pouquinho amassado, André! – Disse receoso. – Só alguns ajustes aqui, ali e ficarão bons.

O morceguinho pegou os óculos retorcidos e com uma das lentes trincadas das mãos do ratinho. Mesmo assim o colocou nos olhos. Queria enxergar a tia Mei.

- Está bem melhor! - Disse sorrindo uma mentirinha.

Na verdade, o morceguinho não estava enxergando bem com apenas uma das lentes. A outra lente trincada dificultava-lhe a visão.

- Agora, se quiserem, posso guiá-los até a nascente do rio. – Disse entusiasmado.

- Viva! – Gritaram os filhotes e também a tia Mei. Então vamos logo.

Sem esperar a resposta dos outros ratos, começaram a correr pela estrada.

Contentes, todos os amigos partiram em direção à nascente do rio.

O morceguinho voava baixo. Ia mostrando os encantos da floresta aos seus novos amigos.

A tia Mei se encantava com as cheirosas bromélias que enfeitavam a beira da estrada e de vez em quando, chamava pelos filhotes que corriam na frente.

- Fiquem perto de nós, crianças, não sabemos o que tem por aí!

Raul estava quieto. Quase não falava. Olhava de canto para o morceguinho com ciúmes de sua tia. Diego e Heitor não perdiam a chance de provocá-lo.

- Sabe, André, a tia Mei é uma ótima cozinheira. Pena que é solteira! Quem casar-se com ela terá uma vida de rei.

Enquanto o morceguinho entrava na conversa dos ratinhos irmãos, não perceberam a aproximação de outros animais.

- Quem são eles, André? – Disseram um grupo de animais curiosos.

- São meus novos amigos. Vamos até a nascente do rio para visitar uma nuvenzinha.

- Oba! – Disseram todos. Nós vamos também.

Sem dizer uma palavra, o Raul deu uma olhada ameaçadora para o primo Diego.

Queria esganá-lo, mas continuou andando batendo os pézinhos no chão com força. De repente, a viagem que faria sozinho tinha se transformado em uma comitiva de ratos, morcego, tatus, cotias, gambás e até um tamanduá que estava por ali. E antes que se distanciassem pela mata adentro ouviram um grito:

- Esperem por mim! – Disse uma enorme sucuri que se rastejava depressa na direção deles.

- Ah não! – Gritou o Raul. – Assim já é demais. Ela vai nos matar.

- Nossa, mas que juízo você faz de mim, ratinho! Eu sou muito boazinha. Só como um pouquinho para sobreviver. E agora, não estou com fome. Quero apenas passear com vocês. Não me julguem pelo meu tamanho. Sou gordinha.

Raul, que já via o seu passeio perdido, apenas balançou os ombros em sinal de tanto faz e a sucuri seguiu com eles. Durante o trajeto olhavam desconfiados para a alegre companheira que se arrastava rebolando pela mata.

- Amigos! - Disse a alegre serpente. - Porque não sentam no meu corpo. Eu ando rápido e poderei levá-los mais depressa até a nascente.

- De jeito nenhum! – Disse o Raul. Você irá se enrolar em nós e ficaremos sufocados.

- Ora, ratinho! Estou começando a ficar ofendida com os seus comentários; já disse que não estou com fome; não vou me enrolar em ninguém. Agora, subam no meu corpo de uma vez e vamos em frente!

Assim, todos os animaizinhos subiram no enorme corpo da sucuri, que saiu se arrastando pela floresta completamente lotada parecendo um ônibus de transporte urbano.

No meio do caminho, a comitiva deu uma parada para saborear alguns morangos silvestres que encontraram pelo caminho. De repente ouviu-se um gemido. Uma enorme águia segurava o Raul pelas garras e subia voando com ele em direção ao céu.

- Solte nosso amigo, sua covardona! – Gritavam os animais.

Preso nas garras da águia, o ratinho estava com medo. Seu pobre coraçãozinho pulsava desesperado. Mesmo assim, juntou forças para implorar por clemência àquela enorme predadora.

- O que vai fazer comigo, Dona Águia? Não pode me devorar. Preciso ir até a nascente do rio visitar a minha amiga. Eu prometi a ela.

- Sinto muito, ratinho! Você será um belo jantar. Saiba que estou de dieta e você será a primeira refeição que farei hoje. Preciso perder uns quilinhos.

Dizendo isto, a águia levou o Raul até o alto de uma montanha onde ficava a sua casa. De lá, o pobre ratinho observava a floresta e os seus amigos que olhavam para cima desconsolados. O ninho daquela ave ficava na beirada de um penhasco e qualquer tentativa de fuga faria o ratinho cair no abismo.

- Fique aí mesmo. – Disse a águia. Vou beber um pouco de água e voltarei em seguida. Aproveite para se despedir dos seus amigos.

- Por favor, Dona Águia! – Suplicava o Raul. Vim para a floresta somente para ver a minha amiguinha Nívea, pois prometi a ela que iria visitá-la. Veja, na minha mochila tem bastante morangos silvestres que guardei para comer mais tarde. Já que a senhora está de dieta, uma refeição leve lhe cairá bem. Sou muito indigesto e a senhora, com certeza passará mal. São morangos bem madurinhos e bem doces. Eu os darei para a senhora. Por favor, pegue todos!

A águia virou-se com ar de surpresa para o Raul. Enquanto ele falava, a ave ia se aproximando cada vez mais do seu frágil corpinho.

Tremendo de medo, pensou que seria devorado no mesmo instante, mas quando fechou os olhos prevendo o seu fim, sentiu a força da águia com suas enormes asas envolvendo o seu corpo num demorado abraço. Aos poucos, foi abrindo os olhos e viu-se coberto por aquelas penas tão macias, enquanto a águia rodopiava com ele no ar.

- Então, é você o amigo da minha nuvenzinha Nívea?

Raul estava surpreso. Nunca pensou que aquilo pudesse acontecer com ele. Quase sem voz, respondeu a águia;

- Eu sou o Raul. O ratinho que vive no lixão onde a nuvenzinha caiu. Nos tornamos amigos.

- Sim, já sei, já sei tudo! - Interrompeu contente. Ela me contou toda a história. Você é o ratinho cantor, não é? Por que não me disse logo quem era. Teria evitado que eu o trouxesse para cá. Minha amiguinha está esperando ansiosa pela tua visita. Eu sei onde ela mora. Suba nas minhas asas e eu o levarei até lá.

- Mas e os meus amigos? Estão preocupados comigo. A esta altura, pensam que eu já fui devorado.

- Não se preocupe com eles, amigo! Eu o levarei até a nuvenzinha e depois voltarei para avisá-los. Agora vamos. Ela ficará muito contente em receber a sua visita e modéstias à parte, eu também estou. Vamos logo.

O ratinho subiu nas costas da águia e começou a sua viagem em direção à casa de sua amiguinha. Lá embaixo os ratinhos e os animais da floresta lamentavam a sua perda. Enquanto os outros choravam, o tamanduá subiu num toco de árvore e começou a fazer um discurso comovente.

- Meus amigos: - Disse com voz de político em época de eleição. - Esta violinha que eu seguro em minhas mãos foi a companheira inseparável daquele feliz ratinho, que entoava belíssimas músicas na intenção de alegrar os nossos dias.

- Você já ouviu o ratinho cantando? – Interrompeu admirado o morceguinho.

- Não! - Disse o tamanduá. - Mas faz de conta. Não interrompa o discurso.

Empolgado, o tamanduá continuou a falar:

- Como eu ia dizendo, meus amigos, aquele ratinho tão disposto e tão companheiro, irá nos deixar saudades. De hoje em diante, toda a vez que olharmos para esta violinha, nos lembraremos do nosso amigo Raul que nos presenteou com a sua maravilhosa existência. Onde estiver, ele saberá da nossa gratidão em ter convivido com uma criatura tão magnífica!

Terminado o discurso, todos os animais, chorando entristecidos pela perda do Raul, se despediram na intenção de voltar para trás, quando foram interrompidos pela tia Mei.

- Aonde é que pensam que vão? Então é assim, na primeira derrota vocês desistem? Meu querido sobrinho desejava visitar a nuvenzinha e é isso que nós iremos fazer. Nós devemos isso a ele. Se não fosse pelo meu querido Raul, não estaríamos aqui e nunca teríamos nos conhecido. Somos amigos graças a ele. Se não querem mais ir, eu vou sozinha.

Dizendo estas palavras, a tia Mei e os filhotes começaram a andar lentamente em direção à nascente do rio.

Sem muito entusiasmo, Diego e Heitor foram andando atrás da tia Mei para segui-la.

Vendo a firmeza dos ratinhos, aquele grupo de animais voltou-se para a trilha de terra e retomaram o rumo da nascente. Não tiveram coragem de desistir.

Enxugando as lágrimas, a sucuri colocou os filhotes em cima do seu corpo e foi se arrastando lentamente pela mata. Depois, um a um os animaizinhos foram sentando em seu lombo e continuaram traçando o triste cortejo até a nascente.

Viajavam calados. De vez em quando alguém ouvia um profundo suspiro.

- Tia Mei: Disse um dos ratinhos. - O que vamos dizer à nuvenzinha quando chegarmos lá?

- Eu não sei, querido! Não pense nisso agora. Quando chegarmos lá, eu verei o que fazer.

O morceguinho, sensibilizado, tentava consolar a tia Mei cobrindo-lhe o corpo com as suas asinhas.

Andaram pela trilha durante horas sem dizerem uma só palavra. Estavam tristes e cansados.

Enquanto isso, na nascente do rio, a águia festejava contente o encontro do ratinho com a nuvenzinha. Naquela euforia, esqueceu que tinha prometido voltar para a floresta e avisar os animais.

Quando a águia chegou com o ratinho nas suas asas, encontrou a Nívea descansando debaixo de uma pedra. O ratinho desceu devagarinho das asas da águia e colocou-se de pé sobre a poça d’água.

Quando a Nívea abriu os olhinhos viu diante de si o seu amigo tão querido. Rapidamente, deu um salto sobre ele encharcando-lhe o corpo todo num abraço molhado. Contentes, os três amigos sentaram-se embaixo da pedra onde dormia a nuvenzinha e começaram a contar as novidades. Nem se lembraram que as horas passavam rápido.

A nuvenzinha chamou as amigas grandonas e apresentou a elas o ratinho que havia encontrado no lugar onde tinha caído.

- Soube que és artista! - Disse uma nuvem grandona.

- É verdade. – Disse a Nívea às amigas. O Raul é um ratinho cantor.

De repente, o ratinho desejou cantar uma música para a sua amiguinha e somente nessa hora, lembrou-se da sua violinha e de seus amigos que tinha deixado na mata. Rapidamente, deu um pulo e gritou para a águia:

- Dona Águia, nós nos esquecemos dos animais e da tia Mei na floresta; estão sozinhos; precisamos voltar para pegá-los!

- É mesmo; esqueci completamente; vamos depressa; suba nas minhas asas e você, Nívea, espere por nós que voltaremos em breve!

Enquanto o ratinho se preparava para voltar à mata com a águia, os animais foram se aproximando da nascente do rio trazidos no lombo da sucuri.

- Vejam, gritaram os filhotes. É o Raul e aquela águia maldosa!

- Maldosa, eu?

Imediatamente todos os animais foram em cima da águia.

- Solte o nosso amiguinho, sua brutamontes! Porque não pega alguém do seu tamanho? Olha que eu me enrolo em você! – Disse a sucuri nervosa.

O ratinho precisou interferir.

- Calma, calma, pessoal! Foi um grande mal entendido.

- Pensei que estivesse morto, querido! – Disse a tia Mei soluçando.

- Calma tia Mei, não chore! Como eu disse a vocês, tudo não passou de um mal entendido. A águia é uma boa amiga e me deu uma carona nas suas asas até aqui. Por isso cheguei mais rápido. A nossa intenção era voltar e avisar a todos, mas esquecemos da vida e as horas foram passando.

- Puxa, e eu fiz aquele discurso tão bonito à toa! – Disse decepcionado o tamanduá. - Bom, pelo menos serviu para descobrir que eu sou muito bom nos improvisos. Precisando, estou às ordens. Tome Raul, pegue de volta a sua violinha. Sei que com você ela terá muito mais serventia do que comigo. Cante alguma coisa para nós. Precisamos acabar com este clima triste.

O ratinho pegou de volta a sua violinha e começou a cantar uma alegre canção de amor, enquanto era cercado pelas nuvens grandonas, pelos animais, pela Nívea e pela águia que o erguia no ar enquanto suspirava apaixonadamente para o tamanduá.

Ficariam naquela nascente por vários dias. Comendo frutas silvestres e bebendo refresco de hortelã feito com água fresquinha do rio.

Depois daquele dia, a tia Mei se acertou de vez com o morceguinho André. Estavam apaixonados. Quando voltassem da viagem seria marcado o casamento, pois a família dos ratos tinha gostado tanto da floresta que não desejavam voltar nunca mais para aquele lixão.

O restante dos parentes, que estavam na cidade, seriam avisados da mudança. Caso fosse interessante, também se mudariam para a mata.

O ratinho Diego fugia dos olhares penetrantes da sucuri. Tinha medo do seu abraço. E o ratinho Heitor se acertava com uma gambazinha ciumenta que não lhe dava sossego. Vigiava o ratinho o tempo todo.

A águia, enamorada pelo tamanduá, ouvia suspirando as músicas cantadas pelo ratinho, enquanto a Dona Tatu afofava-lhe as penas.

Raul havia convidado o tamanduá para compor suas músicas, pois o achava um ótimo parceiro de cantorias. E o vento, que agora era brando, se oferecia para fazer parte do coro. Envaidecido, o tamanduá começou a declamar poemas improvisados.

Naquele final de dia, depois de um belo jantar preparado pela tia Mei para impressionar o morceguinho, todos os animais descansaram na grama verdinha e macia.

Os filhotes dançavam contentes ao som da violinha do nosso ratinho cantor, que fazia serenata para a sua querida amiga Nívea, a nuven sujinha. E as nuvens grandonas dormiam contentes naquela nascente de água cristalina, enquanto esperavam por um novo dia de sol quente que as levaria de volta ao céu em forma de vapor, para depois caírem na terra. Continuando assim, com o fascinante ciclo das águas formado pelas mãos da sábia mãe natureza e com a preservação da vida no lar de todos nós, o nosso querido planeta: a Terra.

Fim

Ironi Lirio
Enviado por Ironi Lirio em 18/07/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3102585
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