O PEQUENO BARCO

Nos tempos idos, um rei fora derrotado, sua rainha foi morta, seus exércitos dizimados e seu reino queimado. Restaram-lhe apenas seus cinco filhos ainda menores, aos quais deveria proteger a todo custo. Sendo o rei esperto e sábio, saiu na calada da noite pelos túneis secretos, enterrou o tesouro que havia escondido e foi com os filhos morar numa pequena ilha que havia recebido por herança, longe de tudo e de todos. Passados alguns anos, com as forças esgotadas e os filhos já moços, era chegada a hora de revelar aos filhos sobre o tesouro que havia escondido. Partiu o mapa em cinco partes, as quais localizavam a fortuna e disse aos príncipes:

“São vocês bons irmãos, sangue de meu sangue e de vossa mãe — que Deus a tenha! Pega-se o barco para ir ao continente resgatar o tesouro sobre o qual eu disse, depois voltem. Comprarão um reino, terão cada qual sua esposa, que deverá ser uma princesa, e assim terão um vasto império”.

O velho rei entregou a cada um dos herdeiros uma das partes do mapa para que fossem todos, mas sabia que apenas três das partes do mapa formava um mapa completo, pronto a resgatar o imenso pote de ouro. Dois dos irmãos mais velhos saíram correndo e fugiram ambos com o grande barco, deixando aos outros três irmãos apenas um pequeno barco. Quando os mais jovens chegaram à praia, os dois mais velhos já estavam em alto mar. Então perceberam que foram roubados pelos mesmos de sangue. Voltaram os três ao pai e o mais moço disse:

“Pai, seus outros dois filhos mais velhos nos saquearam, pegaram a embarcação e fugiram — só nos resta um barco pequenino que não suporta a nós três. O que faremos?"

O velho rei, sábio e astuto disse:

“Meus filhos, agora tenho certeza de que nunca observaram o velho pai. Se tivessem observado, saberiam o que fazer. Embora não tenham aprendido nada, dou-lhes um último ensinamento: vão dois de vocês ao continente, depois um volta e busca o que ficou, assim estarão os três juntos para encontrar o tesouro”.

E assim foi feito. Quando chegaram todos ao continente não avistaram os irmãos mais velhos. Juntaram as três partes do mapa e localizaram o pote de ouro, depois o levaram ao pai. Ao chegar, o velho rei não perguntou sobre os outros dois filhos, despertando a curiosidade nos jovens.

“Não vai fazer nada pelos seus outros dois filhos?" — perguntou um.

“Não” — respondeu o velho.

“Por quê?" — indagou o outro.

“Porque todo pai conhece os filhos que têm. Não há lugar para eles no novo reino”.

Este texto foi retirado do romance “O Mentor”, de autoria do escritor Hamynthas Mathnatha.