Tigela Vazia

Eu estava na fila com a minha tigela nas mãos.

Estava emasiado frio e eu não me lembro de ter dormido ou feito outra coisa antes de estar ali.

Para falar a verdade eu nem me lembro de ter ido a outro lugar...

E se eu nasci ali?! Naquela fila?!

Não.

Impossível.

Repreendi a mim mesmo, murmurando mais baixo do que a minha respiração fraca.

E se talvez eu colocar a tigela no chão eu possa esfregar as palmas?! Está frio!

Abaixei-me, encostando meu joelho esquerdo no asfalto... AH! Mas fui pisoteado por um par de pés!

Levanto-me novamente, envergonhado.

Roubaram a minha frente na fila, mas eu não tenho coragem de reclamar. Meu coração se aperta e eu passo a língua nos lábios, na tentativa de umedecê-los, mas não consigo falar. Acabo me conformando e aperto a tigela entre os dedos.

E se eu nasci ali?!

Pensei novamente. Besteira.

Depois de longos minutos esperando, chegou a minha vez.

Estendi as mãos e o cozinheiro, dono de uma grande colher de madeira cutucou a panela, mas dela só veio um tiquinho de nada.

A sopa rala eu bebi em dois goles.

Eu pedi mais um pouquinho, mas antes do cozinheiro botar na minha tigela, eu fui empurrado e caí no chão.

Minha vez acabou.

Saí do bequinho e olhei pela última vez aquela placa:

“Sopa da Felicidade”.

Respirei fundo.

Não deu nem para sentir o gosto...

Bruna Morgan
Enviado por Bruna Morgan em 20/01/2012
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