A roseira macho

Nasceu em terreno baldio, sem água e cuidados, entre lixo e desgastos da vida

Cresceu ali, longe de outras flores, sem saber sua cor ou perfume

se acostumará entre urubus, carniças e restos

Cresceu ali, longe de sentimentos e virtudes, mas cresceu

O sol brilhava forte por vezes e aquela roseira sabia que havia algo além daqueles muros

além de tudo aquilo que lhe era comum, havia outras histórias e possibilidades

o sol em suas pétalas brilhava e mesmo sem saber o que era sentia ser especial

passou por tentativas diversas de poda, chuvas e tempestades intensas torceram seus agora fortes galhos, e seus espinhos vistosos e mais fortes que o comum, prontos a ferir qualquer um que se aproximasse ainda não conseguiam de fato esconder sua natureza,

era uma roseira legitima.

Sabia então que algo lhe faltava, e por isso não se entregava a nada, a nenhuma adversidade, sempre que alguém solicitava, mesmo com o rancor de seus espinhos, oferecia suas flores para brotar um sorriso no rosto de alguém, e se sempre solicita a ensinar como havia passado tantas adversidades e com tantas historias quanto espinhos, cada qual tinha seu motivo, seu álibi perfeito e justificável, de fato, era não só uma roseira, mas nobre.

A roseira vistosa, fixa com suas raízes naquele terreno, entre todo o lixo jogado ali, aguardava, mas seu tamanho já ultrapassava aqueles frágeis muros que até então lhe parecia berlinacios. Muitos agora a viam, colhiam suas flores que resplandeciam a metros, brilhava como nenhuma outra, mas só alguns percebiam nem sua beleza, mas sua existência, mas para quem chegará até ali, era um lucro de bom tamanho.

Enfim, populares sem relevância e por motivos avessos ou nada inerentes ao pensado, mas com cuidado inconsciente, transplantaram a roseira para o jardim da praça próxima dali, entre tantas outras roseiras e flores.

A roseira se reconheceu por vezes, nas flores, nos espinhos frágeis de suas colegas, mas de fato pertenciam a um grupo em comum, mas aquele sentimento do lote vago, do lixo, não, nem ali entre comuns, havia abandonado-a.

A roseira passou seus dias a entender o que era, como era e porque era, sempre a chamavam de roseira, flor linda, e tratavam como ela, quando esta percebeu em sua maturidade e complexidade que se tratava então de uma roseira macho!

Qual diferença faria, seu sexo entre tantas outras cores, afinal era uma bela roseira, a mais bela de todas, a mais forte e intensa, o que faria diferença?

Nossa roseira queria se apaixonar, e sim, faria diferença, pois em seus tempos e espaços, a roseira se tornou bela, forte e jamais deixou a fragilidade de ser em sua natureza uma flor, uma flor macho.

As rosas fêmeas eram atraídas por seu porte, mas não compreendiam a plenitude de sua existência e quase sem exceção, jamais sabiam ou tentavam desarmar aqueles grossos e potentes espinhos, desistindo na metade de uma metade de prosa.

Seus colegas machos, mais frágeis e cheios de si, desdenhavam sua beleza e isolavam suas palavras, teorias e pensamentos, afinal, uma roseira deverias ser uma roseira e pronto, seu perfume e cor já bastavam para conquistar o que precisasse enfim.

Nossa roseira não se abalou com nada disso, afinal, o ambiente ali no jardim era mesmo agradável e mesmo que não as compreendessem, as outras flores ainda sim eram companhia, e por vezes ainda recebia visitas de seus antigos vizinhos, os urubus, que sempre traziam as novas do lote vago em frente, não deixando esquecer que aquele jardim tinha muito em comum com o lixo de onde viera.

Não passei mais por aquele jardim, mas a ultima vez que a vi, e colhi uma de suas flores, notei que seus espinhos eram parecidos com minhas palavras, suas pétalas brilhavam como minha alma, e suas raízes marcadas pelo lixo e agora aguadas com mangueiras artificiais mas prontas para encarar qualquer tempestade, bem, de fato, éramos muito parecidos.

A roseira ainda busca o cessar de sua angustia em quem desarme seus espinhos e entenda suas raízes e claro, contemple suas flores, mas para isso, é preciso entender, que existem roseiras diferentes, entre tanto, roseiras.