Carneiros e porcos

Era primavera quando foi colocado em um grande curral de porcos um rebanho de carneiros.

De início, os carneiros que pastavam comendo a grama verde não se aproximavam dos porcos que comiam a sua babugem.

À medida que o verão chegava a grama ia secando e rareando, diante do causticante sol.

Quando era pouca a grama, alguns carneiros abandonaram o pasto e passaram a achegar-se aos porcos e, em pouco tempo se integraram a estes, sendo admitidos a comer sua comida, não querendo sofrer com a escassez do pasto.

Outra parte dos carneiros alternava comendo a rara grama e a babugem dos porcos.

Mas, havia uns poucos carneiros que resolveram ser fiéis as suas origens de herbívoros e mesmo sofrendo, tendo que se alimentar mal com a grama seca, mantinham-se longe dos demais, ou seja, dos porcos e dos carneiros que aderiram à comida fácil dos porcos.

Quem entrasse ali, naquele curral e que não tivesse acompanhado paulatinamente aquele processo, se confundiria.

É que os carneiros que comiam junto com porcos ficaram gordos parecidos com estes, as vezes confundidos com os porcos na aparência e até guinchavam como os suínos.

Outros, ora pareciam carneiros, mas às vezes eram confundidos com os porcos.

Uns poucos ficaram magros, quase esqueléticos, porque só comiam a grama seca pois não chovia, ficando à margem, isolados, alvo de rejeição e às vezes ataques. Mas, esperavam pacientemente o retorno do inverno e da primavera, quando então, com a grama crescida, poderiam se fartar com a comida que lhes cabia sem se impregnarem com a babugem dos porcos.

Castanhal, 13 de junho de 2000

(conto escrito entre 1997 e 1998; perdido e reescrito para concorrer, sem sucesso, a um concurso literário da Associação de Poetas e Escritores da Baixada Santista)