Branca por neve

Ela está imóvel. A garota dorme profundamente... E sabe que isso pode durar para a eternidade.

Espera por ele intacta e maravilhada, em todos os instantes acha que será beijada.

Sofre por sua petulância. Mesmo que a maça lhe conserve a juventude, os olhos e a boca permanecem lacrados.

Ela, pela primeira vez, chora. E então, seus olhos se abrem. E, pela primeira vez, grita! Rompendo o lacre de seus lábios. A garota está livre.

Sai pelas ruas desertas de pessoas, deslumbrada com o que vê. Enfeitiçada pelas paredes coloridas. Corre desesperadamente para o castelo, e encontra um apartamento. Bate na porta e um velho grotesco abre-a. Era seu príncipe.

Ela sorri, se despede dele, dos sete pequenos que moram juntos e da madrasta má que por sinal está grávida.

Descobre que perdera muito tempo. Tempo demais. Muda para si.

Rasga o vestido, corta os cabelos, poem um sapato de salto e marcha com as vadias.

Descobre que não tem mais tempo. Perdera todo ele. Desespera-se.

Corre nua pela rua, beija uma mulher, faz uma tatuagem, fuma maconha, escreve um livro, publica-o e volta.

Deita sob o tumulo que, por uma eternidade, esperou tanto pelo seu príncipe que lhe traria o final feliz. Ela, por mais dos desprazes, está realizada. Feliz por sinal. Finalmente, fecha os olhos e dorme. Para sempre.

Neto Gouveia
Enviado por Neto Gouveia em 06/06/2012
Código do texto: T3709917
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