O pobre sapo

Eu estava assim numa boa, devorando as minhas moscas, quando de repente aquela princesa me pegou e beijou. Sem menos pedir licença. Violentando-me assim em pleno dia. E aí aconteceu um desastre inimaginável. De sapo fui transformado num homem; pior ainda, num príncipe.

Sei o que vocês estão pensando. Que antes eu era um príncipe que uma bruxa tinha transformado em sapo. Ha-ha-ha. Coisa mais sem lógica nunca ouvi. Tem leopardo que troca as suas manchas? Tem bruxa boazinha que pega um príncipe feio e transforma ele num sapo bonito como que eu era?

E aqueles lábios rubros e ternos da princesa, doces como maracujá, que horror! Nunca provei coisa tão repugnante. Em vez das minhas fêmeas gostosas (minhas "desculpas" por não usar os termos politicamente corretos, mas na minha cultura não existem essas besteiras), é com isso que vou ter que viver "feliz para sempre"?? Ah, mas que destino triste...

Fiquei tão feio que imediatamente todos os outros sapos começaram a me zombar em uníssono. Até as rãs e as pererecas da minha poça nativa entraram naquele coro de palhaçaria, mas logo depois todo mundo se calou quando viram que com as minhas botas eu tinha esmagado os meus irmãos e também uma grande parte da nova geração, aqueles girinos pequenininhos e fofinhos. Que tragédia! Que desastre! De nada vale eu saber que não foi a minha culpa e sim a culpa daquela princesa horrenda. A minha consciência me dizia que eu era um assassino em massa. Ainda bem que os meus pais já não estão vivos porque eles iriam morrer quando ouvissem em que monstro o seu filho tinha-se transformado.

A princesa estava toda orgulhosa com si mesma e a sua corte estava cucuricando em volta de nós. Não entendi porque esse espalhafato inteiro. Pode ser que para eles ser príncipe era novidade. Mas eu já era o Rei da Poça Fedentina, minha terra (e água) amada, e para mim voltar a ser um príncipe era um tipo de degradação.

Digam-me, isso é conto de fadas? Ou talvez um pesadelo??

Se alguém tiver alguma idéia como salvar este pobre sapo, por favor escrevam aqui.