Eu sou apenas...

E aí, dor, como vai? Eu, eu vou bem, lutando como sempre luto e caminhando ao teu lado todos os dias. Você quer contar a minha história? Ah, faça-me o favor, que história há para contar? Não há historia alguma, eu sou apenas...

“Sou apenas um garoto de quinze anos que queria ser amado. Queria ter uma casa para chamar de lar, queria ter quem me protegesse, queria ter quem apoiasse meus planos, quem me abraçasse e desse um sorriso sincero. Sou apenas mais um, no meio de um milhão. Tenho pai, tenho mãe, mas me sinto um órfão. E a tristeza cega meu coração e meus olhos, às vezes, fazendo-me afundar no travesseiro, fazendo-me desabafar com o cachorro ou com a parede.

Tenho muita coisa, mas trocaria tudo o que eu tenho para que meus pais me vissem, para que eles me notassem, para que eles me amassem. Às vezes, eu me sinto um erro, um espermatozoide que deveria ter morrido, ou um filho que deveria ter sido abortado. Sou um garoto, com mente de homem. Tenho tanto amor com todos, e não recebo amor de ninguém. Se eles apenas me chamassem de ‘filho’, eu choraria de alegria. Mas nem isso, nem isso eu escuto, de duas pessoas que parecem carregar um enorme peso nas costas chamado Fabrício. Se eu não tivesse tanto amor no meu coração, já teria cometido uma loucura há muito tempo, já teria me mandado dessa família que ainda insisto em chamar de família.

Não muda nada, nada nunca muda. Eles passam por mim todos os dias, mal me olham, e já saem batendo a porta. Quando chegam, me chamam apenas para reclamar disto ou daquilo, ou ainda para me dar bronca por ter esquecido de algo. Tenho meus defeitos, claro, ninguém é perfeito, erro, mas não sou rebelde, embora queira me rebelar. Mas o meu coração (ah, coração!), ele me controla sempre, me faz abaixar a cabeça para todas as petições e ordenanças a mim submetidas. Me sinto como em uma guerra, a defender pessoas que e ferem pelo prazer de me ver sangrar e sofrer. Por isso, minha única amizade nasceu, e o nome do meu amigo é DOR. Converso com ele todos os dias, é uma rotina que me alegro em ter, uma rotina que alegra um pouco meu dia. É o único a me fazer companhia no meio de tanto bem material, que aqueles que se chamam meus pais insistem em me trazer todos os dias, como se isto tudo se chamasse amor. É uma luta que às vezes canso de enfrentar, é um combate diário entre a razão e a emoção, entre o controle e a ira, entre o amor e o ódio. Eu, um filho que qualquer pai favelado gostaria de ter, meus pais, pessoas que nem um garoto gostaria de ter como progenitores”.

MORAL: Ame seu filho enquanto você pode amá-lo. Não espere-o morrer, para derramar lágrimas sobre um morto. Abrace-o enquanto há tempo para abraçar, curta, viva seu filho! Troque um brinquedo, por um pouco de amor; uma repreensão, por uma conversa; um desafeto, por um abraço sincero; uma hora extra, por um diálogo; uma festa, para estar com ele. Aproveite o tempo que tem, para que as lembranças sejam as mais sinceras e amorosas possíveis. Não seja mais um no meio de tantos. Seja diferente, seja o pai ou seja a mãe do seu filho, esteja com ele em todos os momentos, permita-o lembrar de chorar no seu colo, ou de tê-lo defendido por alguma causa que estava sendo acusado injustamente. Faça de tudo para que, se perder o seu filho precocemente, você olhe não para um morto, mas para o filho que te trouxe tanta lembrança... e para que ele também, quando você estiver dentro de um caixão, possa te olhar com ternura e amor, lembrar que você foi um bom pai ou uma boa mãe. Que não importou situação alguma, importou apenas que você esteve ao lado dele. Sempre, e para sempre.

Camilla Lima, 16/01/2013

Anita Ferraz
Enviado por Anita Ferraz em 16/01/2013
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