O PÍER e O BARCO

Em um Píer de madeira antigo foi atracado um Barco e deixado lá por seu dono até que pudesse voltar.

Mas o dono era jovem, tinha muito que estudar, trabalhar, passear, namorar... enfim, só podia de vez em quando em seu Barco navegar.

E o Barco, que era bonito e novo, não se conformava em ter que ficar preso ao velho Píer e vivia a reclamar:

_Que revolta sinto em ficar preso em você, Píer maldito, eu queria sair por aí, navegando, livre pelas águas, poderia conhecer outros lugares, outros mares...

O Píer ouvia os lamentos e as ofensas do Barco todos os dias e com toda paciência costumava aconselhar:

_Não é assim como você pensa, existem os perigos do mar, os recifes, as correntezas, as tempestades, ondas gigantes que podem até te afundar.

Mas o Barco era arrogante e o interrompia com raiva e com toda superioridade que sentia em relação ao Píer, dizia sempre com voz alta e imponente:

_ Cale-se, seu invejoso, fala essas coisas só porque não pode sair do seu lugar, está condenado a viver a beira mar, não conhece as belezas de longe, por isso não pode falar! Eu sim, conheço outras paisagens, outras águas temperadas, os paraísos que existem por aí, inclusive lindas marinas onde até já fiquei aportado, que te fariam envergonhar-se de sua aparência tão feia e pobre, assim posso afirmar que sei muito bem o que quero de verdade!

E o tempo foi passando, o Barco às vezes navegando com seu dono, porém, a maior parte do tempo passava preso no Píer.

Mas aconteceu que um dia, o dono do Barco chegou de navegar e se esqueceu de prender o Barco no Píer.

O Barco deu um sorriso de alegria e partiu sozinho deixando o Píer a implorar:

__Volte agora enquanto há tempo, você vai se machucar!

Mas ele nem se importando, só conseguia gritar:

_Consegui a LIBERDADE, nunca mais irei voltar! Adeus Píer infeliz, não vai mais me segurar!

E depois de muito tempo o Píer continuava lá, lembrando sempre do Barco e imaginando qual teria sido a sua sorte na imensidão do mar.

E então um belo dia sentiu algo em sua madeira tocar, olhou e viu um velho Barco, todo arrebentado, caindo aos pedaços e com pena ofereceu-se para ele se apoiar.

Fez-se um silêncio profundo até que o Píer perguntou com piedade:

_Quem é você, de onde vem, o que aconteceu contigo?

Ao que o Barco respondeu:

_Venho de onde fui buscar uma tal liberdade! Não me reconhece mais? Sou eu, aquele Barco que vivia ao seu lado, Píer amigo!

Mas então começou uma grande ventania e o Barco que só estava apoiado no Pier não conseguiu segurar-se... foi levado pelas ondas de volta para o mar.

O Píer triste chorava e dizia:

_ Volte, amigo, volte, eu ainda te quero ao meu lado!

O Barco também chorava e muito se esforçava para tentar voltar, lutava com as ondas, mas não conseguia, estava sem forças e foi sumindo... ficando para sempre a deriva no mar.

Claudia Salck
Enviado por Claudia Salck em 19/01/2013
Reeditado em 24/01/2013
Código do texto: T4094040
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