Detalhes de Bartira - uma fábula indígena

Uma moça nos idos de seus dezessete anos, seminua, vestida com uma simples tanga de penas coloridas, portando um delicado colar de conchas do mar no seu pescoço moreno, está parada à beira-mar admirando com demasiado espanto e curiosidade uma flecha cravada na areia branca. Ainda que ameaçadora e mortal como a maioria das flechas aquela, hirta e rígida, possuía algo de diferente, estava adornada com ramos verdes e formosas rosas vermelhas. Enquanto a índia observa o misterioso objeto, ondas silenciosas lançam-se sobre rochas e pássaros desfrutam à claridade do dia sobrevoando a densa floresta de árvores frondosas e galhos sobressalentes que rodeia aquela tranquila paisagem tropical.

Absorta, Bartira rodeia a flecha com olhares indiscretos, desconfiados. A passos curtos, circunda o objeto até que se permite aproximar o rosto em uma das rosas. O aroma, amargo e letal, penetra rapidamente em suas narinas com uma acidez corrosiva que a obriga a se distanciar. A moça cai, ajoelhada, os olhos cheios de lágrimas, o desespero e a dor crescendo em seu rosto. Esfrega freneticamente o ardido nariz com as mãos calejadas e sujas e em poucos segundos tomba para frente, desfalecida.

Moral: O perigo das coisas belas está na delicadeza dos detalhes que carregam. O mal, na maioria das vezes, é invisível e intocável, sua natureza mostra-se irregular e traiçoeira, seu caráter pode travestir-se de bem-aventuranças e iludir aqueles que se permitem abraça-las.