601-A REBELIÃO DAS MOSCAS -

Ou: Como a mosca doméstica transformou-se em mosca varejeira.

Uma mosca doméstica caiu numa panela de carne.

Afogada no molho e já quase morrendo, pensou:

Se já comi, já bebi e já tomei um banho, que me importa morrer?

Mas o instinto de sobrevivência foi maior. Enquanto subia num pedaço de carne que flutuava no molho, lembrou-se da narrativa de uma prima, que também estivera em situação idêntica.

A prima chegara até ouvir uma voz da Deusa Mosca, que procurava consolar nos últimos momentos:

“Você suportará a morte com mais facilidade se você não tiver pensamentos tristes.”

Zumbira a Deusa Mosca, num som metálico e ampliado por seus poderes infinitos.

No afã de sobreviver, a mosca doméstica não tinha pensamentos tristes. Estava era revoltada contra a Deusa Mosca, que deveria ajudar as suas fiéis seguidoras com atos e não com palavras.

Vou escapar daqui e junto com minha prima, vou tirar satisfações com a Deusa Mosca, prometeu a si mesma a mosca em apuros, cujas asas já secas permitiram-lhe voar para cima e para fora da panela.

Algum tempo depois, com a prima, procurou a Deusa Mosca, que, impávida e soberana, nem quis ouvir a queixa das duas.

Revoltadas, as duas moscas domésticas combinaram:

“Vamos nos rebelar. De hoje em diante, não vamos mais obedecer a Deusa Mosca”.

A partir daquele momento, as duas procuraram adeptas e formaram a primeira separação no grande ramo das moscas: as varejeiras.

Conclusão amoral:

O líder que se explica com palavras, perde os liderados.

ANTÔNIO GOBBO

Belo Horizonte, 18 de abril de 2010

Conto # 601 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

1º. Conto da série Fábulas e contos amorais.

Inspirado em fábula de Esopo “A Mosca”,

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 26/12/2014
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