O Camponês e a Raposa

O Amarelo Dourado ia avançando aos poucos.

E o vento brincava, como uma criança que não se cansa. Era mais um início de outono.

Uma estrada estreita seguia cheia de curvas e por ela um jovem camponês caminhava, carregando suas compras.

"Falta muito para chegar a casa." O rapaz parou debaixo de uma das árvores frondosas, recostou-se e avistou a montanha ao longe. O campo,as árvores, toda a paisagem vibrava de cor, anunciando a nova estação.

Estava ele descansando da longa caminhada. Ouviu leve ruído. Seria penas o vento brincando? Não, algo se mexia no meio dos capins altos e secos.

"Uma raposa!" O jovem admirou o animal de cauda longa e pelos amarelados, quase se confundindo com a vegetação.

Foi quando uma sombra ameaçadora surgiu de trás da árvore. Era um caçador, que apontava sua arma. O camponês, vendo que o outro estava prestes a atirar, tossiu alto. Num instante o animal fugiu, desaparecendo em meio as touceiras de capim.

-Idiota! Você tinha que atrapalhar esperei horas por esse momento!

-Sinto Muito...

-Como vai me reparar essa perda?

-Não tenho Dinheiro.

-Então, me dê o que tem ai!

Que jeito se não lhe obedecer? Entregou toda a compra. Mais calmo, o caçador deu-se por satisfeito e foi embora, carregando o saco nas costas.

"Era a compra do mês", lamentou-se o rapaz. Mas voltou pra casa feliz por ter salvo a vida do animal. Naquele dia, sua refeição foi apenas um cozido de nabo com arroz. Pelo menos isso ele conseguia em sua roça, o que o deixava mais tranquilo.

E passavam os dias. Da casa pra roça, da roça pra casa, sem novidades. As árvores iam-se avermelhando, contrastando com o céu azul sem nuvens.

Era uma noite como as outras. Enquanto o jovem preparava a comida, ouviu batidas na porta. Foi abrir. E teve uma surpresa: estava parada, em frente a casa, uma moça muito bonita, nunca vista na região.

-Eu i até a cidade, mas escureceu e não tenho onde dormir. Pode me ajudar? - Perguntou ela.

- É uma casa simples. Caso não se importe...

E rapaz um pouco sem graça, dividiu com ela seu simples jantar.

"Como é que uma moça viaja assim sozinha?" Ele observou discretamente o rosto bonito à luz do fogareiro. Para um homem solitário, uma companhia feminina era sempre agradável. O arroz com nabo pareceu-lhe bem mais saboroso.

Na manhã seguinte, a moça preparou-lhe a refeição. Tudo muito simples, mas delicioso. Assim que terminaram de comer, ela lhe disse:

-Na verdade, não tenho para onde ir. Meus pais morreram e pensei em trabalhar na cidade... Só que nem sei onde.

-Gostaria de ajuda-la, mas sou tão pobre...

- Por Favor, deixe-me ficar. Posso cuidar da casa, ajudar na roça.

Tanto insistiu, que ele aceitou. Era uma companhia que lhe agradava.

Logo se surpreendeu com a disposição dela para o trabalho. Cuidava de todo o serviço da casa e ajudava nas plantações. Também começou a fazer chinelos e chapéu de palha, que o jovem pôde vender na cidade, melhorando em muito a vida deles.

Veio mais um outono.Para completar a harmonia, nasceu-lhes um filho, menino forte e bonito. Poderia haver felicidade maior? Uma mulher a quem amava e um filho que crescia a cada dia mais esperto, alegrando a casa com seu riso e suas travessuras.

Muitos outonos chegavam e iam, alternando-se as estações. O garoto completou seis anos.

Um dia, o marido havia saído para a cidade. A mulher ia arrumar a casa e pediu ao filho:

-Vá brincar perto da castanheira.

-Esta bem, mamãe.

Por algum tempo o menino brincou sozinho, mas sentiu falta de companhia e voltou para chamar a mãe. Concentrada nos afazeres, ela não lhe percebeu a presença. Cantarolava baixinho e varria as folhas secas colhidas pelo vento durante a noite.

-Mamãe tem uma cauda! - Gritou o menino.

-Imediatamente a mulher recolheu a longa cauda de raposa com a qual varria o chão.

Ah, você descobriu... -Disse ao filho, tão assustada quanto ela própria. - Agora que você sabe de tudo, não posso mais ficar aqui.

O menino chorando tentou segura-la, mas em vão. O homem voltava nesse instante e viu a mulher transformando-se. Uma raposa? Como como aquela que vira há muito tempo.

Já distante ela explicou:

-Um dia salvou a minha vida! Quis agradecer. Agora preciso ir...

Pai e filho chamaram, imploraram.

-Por favor, volte! Fique com a gente, sempre.

Mas a raposa distanciava-se cada vez mais, olhando para trás de vez em quando. Em silêncio, despedia-se dos amados.

E sua figura fundiu-se ao amarelado dos capins. Era mais um início de outono.

Conto Japonês
Enviado por Suiyu em 21/01/2015
Código do texto: T5109589
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