Aconteceu na Missa da Paixão de Cristo

Sexta Feria Santa. Feriado nacional. Contrariando o calendário e a lei impressa em Constituição, o vigário Eugênio levantou no despontar da aurora e quando os sinos martelavam cinco horas da manhã, ele já estava de pé. Trocado de roupas a caráter, cavalgou seu alazão por uns quilômetros e seis horas em ponto, estava de prontidão para a missa; evento este que só acontecia em épocas especiais e obviamente, Sexta Feira Santa não podia passar incólume e despercebida.

Cobertos com mantos vermelhos, calças compridas brancas, os Coroinhas e Sacristãos recebiam os fiéis condadenses na porta principal: “Sejam bem vindos à casa do Senhor, meus irmãos! A paz e o amor de Cristo estejam sempre entre nós”.

Embora celebrassem a paixão de Cristo, iniciaram a missa com cânticos alegres e esfuziantes. O primeiro versava sobre a abastança e o poder de Cristo em transformar as pequenas coisas em grandes obras. Na segunda parte, o padre Eugênio fez uma longa reflexão sobre a morte de Cristo.

Valendo-se dos relatos bíblicos, discorreu sobre as covardias dos soldados Romanos, Judas, Pilatos, sacerdotes e cia ao fazer as atrocidades e traições, culminando com a morte dele, Jesus Cristo, o filho do Criador. Ouvindo o ato litúrgico, nem uma mínima lágrima escorreu dos olhos dos fiéis e cristãos condadenses; porém, se não choravam, também não sorriam, exceto os filhos dos presentes à missa: estes corriam, brincavam e não desgrudavam as retinas dos olhos da tela dos telefones celulares.

Na terceira parte da missa, o vigário alertava os cristãos para a necessidade das mudanças em seus hábitos e costumes e que deveriam amarem-se mutuamente, livres de críticas, posturas discriminadoras e principalmente, liberto das maledicências da carne. Citou o erro como fato humano, mas que não reconhecer o erro é a claridade daqueles que insistem em permanecer nas trevas: “Para esses irmãos, o pecado e a pena para absolvição do mesmo, será triplicada; portanto caros irmãos, reconhecer os nossos erros e pedir perdão com o coração e espírito, é redimir do pecado cometido”.

Por fim, na sessão derradeira retomou o significado da Sexta Feira Santa, dizendo que Cristo amou e ama todos aqueles que creem nele a ponto de morrer pregado na cruz; sacrifício que somente ele poderia fazer pelos filhos do Criador e consequentemente, seus irmãos. Dito isso, os fiéis em uníssono fez reverberar a palavra “Amém” na igreja, no condado e arredores.

- Vamos em paz e o Senhor vôs acompanhe. Não comam carne no dia de hoje de jeito nenhum e excelente páscoa!

O tal senhor era irmão de Eugênio, morador muitas léguas do condado, criador de coelhos e durante o culto, alegando que eles botavam ovinhos de chocolate, havia distribuído coelhinhos para a criançada e pacientemente, esperava o fim da missa para cobrar a dívida dos pais. O fato enfureceu os genitores e progenitores, que esbravejaram e choraram copiosamente, enquanto que os filhos, não tendo nada a ver com a conta, deram gargalharam da situação frustrante.

- Não sei se vou resistir esse coelhinho até domingo e você, Paulinho?

- Coma-me agora mesmo, até domingo papai compra mais! Tenho amiguinhos de 10 quilos; uma delícia! Sugeriu o Coelhinho, protagonista principal da Paixão de Cristo.

- Esse de 50g, que custa duas pratas, meu pai surtou e xingado os Demônios, quase enfartou; imagina um grandão de 10 kg, quem terá que ter orelhas grandes para ouvir e ser puxadas, sou eu; isso se não for comido vivo.

O conto lido ocorreu em tempos remotos no condado chamado planeta Terra, habitado exclusivamente por homens embrutecidos. Maquinados!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 03/04/2015
Reeditado em 13/04/2015
Código do texto: T5193437
Classificação de conteúdo: seguro