Fábula

Um dia me contaram , um dia me disseram . Ou melhor um dia , apenas. Essa historia não tem começo e seu meio é o meu fim. Há tempos , remotos apenas, vivia uma tribo, desolada por secas , guerras ela resistia. No riso pútrido de raças superiores ela existia. Sem vaidade ou esplendor era serena como o mar que de tempos em tempos se torna hostil. Em seu interior haviam castas de homens e mulheres lapidados pela humilhação de serem livres a troco de muito esforço , liberdade esta que era um desafio a tudo e a todos. Povos escravos a olhavam e seus patriarcas diziam , vejam esta tribo , livres do açoite porem escravos de si mesmos , que sejam uma lição meus filhos a todos que almejam a liberdade . Ela não passa de uma ideia , ser livre é ser escravo , ser escravo é ser livre . E com olhar cabisbaixo passavam por seu território há muito conquistado porém apenas uma única vez.

Outros povos simplesmente a ignoravam como uma pedra a muito tempo no sapato . O dedo calejado já não sentia a dor de não te-la dominado , sua liberdade apenas como um grito antigo em uma caverna escura , ainda ecoando embora fraco e sutil. Outros ainda riam de sua liberdade como hienas em torno de uma carcaça já massacrada por leões incansáveis , e em sua covardia rosnavam , e se regozijavam com isso.

Em meio a isso tudo , surgia a leste uma ameaça estridente. Corvos da meia noite os chamavam ,vultos sem alma ou peito e de onde não pulsava nenhum coração. Suas carnes eram os corpos de quem já haviam destruído , se penduravam em arvores e guinchavam como porcos no matadouro ,não pronunciavam palavras , apenas agiam , e suas ações eram pérfidas e monstruosas. Não detalharei o que me disseram sobre eles mas chorei e clamei por todos que foram suas vitimas ainda agora no momento em que escrevo esta historia de tempos remotos.

Essas criaturas se é que algum criador ousaria te-las criado, haviam chegado a sua extinção no evento até então mitológico que chamavam de Expurgo.

Nesse evento , que ocorreu no auge da criação das florestas ancestrais , quando o mais velho pinheiro ainda brotava do solo, o que chamam agora de corvos eram simples pássaros de canto belo porem estridente. Suas luzes iluminavam a noite e suas vozes eram admiradas por todas as tribos ainda alheias aos males do mundo. Passaros de fogo os chamavam , e em seu calor passavam noites frias e quentes.

Sua queda ocorreu quando a grande chuva aconteceu. Não era uma chuva qualquer mas sim um caldo de piche que caia dos céus como antítese a suas luzes e calor . Em poucos dias se transformaram e pereceram negros como o mais forte dos venenos.

Agora despertavam do leste e meu fim se aproxima . Deixarei apenas claro que foram dizimados , e uma tribo sobreviveu. Sozinha em um mundo destruído prosperaram e construíram várias maravilhas. Pereceram e se tornaram poeira e desta poeira nasceram novamente como uma fênix ou um pássaro de fogo de canto estridente. Isso até a segunda grande chuva é claro...