O Homem e o Camundongo (O Paradoxo da Amoralidade)

Houve um tempo, perdido nos arquivos da humanidade, em que animais e seres humanos falavam todos o mesmo idioma. Comunicavam-se entre seus iguais em suas respectivas línguas, mas compartilhavam um idioma comum e assim funcionava. Porque ou como isso acontecia, não se sabe. Somente sabemos o que foi sendo contado durante os milênios de existência da raça humana. Milênios esses que, aos olhos do universo, são tão insignificantes que não podemos nem dizer que existiram.

Nessa remota realidade, que muitos, sentados em seus tronos de certezas, dirão ser fictícia, havia o reino dos homens e o reino dos bichos, divididos por longos trilhos ferroviários. Não se tem registro da serventia dos trilhos, para onde iam e de onde vinham os trens. Só se sabe que tais trilhos marcavam o início de um território e, consequentemente, o fim do outro. Também se sabe que a ninguém era permitido cruzar os trilhos, não importava ser bicho ou homem, cada um vivia em seu respectivo reino e, por medo ou respeito recíproco, não poderiam em nenhuma hipótese invadir o limite do outro.

Assim, nesse distante cenário, um homem solitário morava em uma cabana na floresta, bem próxima aos trilhos do trem. Sozinho por opção, pois não gostava da companhia de outros seres humanos e muito lhe agradava os sons que os animais faziam enquanto conversavam entre si, do outro lado dos trilhos. Levava uma vida simples e assim estava bom. Plantava suas batatas e sua soja, consumia o fruto da terra, dormia confortavelmente e nada diferente acontecia. Há quem diga ser impossível viver em tão inalterável rotina por tanto tempo, mas para esse homem estava bom.

Eis que, certo dia, estava o homem a preparar um belo ensopado de legumes com especiarias, que lhe cairia bem na noite fria que se aproximava, quando de repente um furtivo e pequeno vulto lhe alcançou a periferia da visão. Assustado com a possibilidade de companhia, o homem prontamente virou-se para certificar que o vulto não passava de mero fruto de sua imaginativa percepção. Houve silêncio e o homem se manteve extremamente alerta, atento a cada canto de sua cozinha, enquanto buscava, sem desviar o olhar, algum utensílio que pudesse lhe servir de arma. Sua mão cega encontrou a faca que usava para picar os ingredientes do ensopado e, quando por um milésimo de segundo seus olhos se distraíram, novamente percebeu um movimento.

Em um sobressalto, e com a faca na mão, avançou para a direção de onde acreditava vir dito vulto. Arrastou a mesa para o lado com violência e em um canto da cozinha estava, encolhido e assustado, um camundongo.

O homem ficou estarrecido pelo que viu. Tratava-se da situação mais absurda que sua mente podia desenhar; estava vendo um animal. Ele, não só, acreditava que nunca iria ver um bicho, como nem sabia dizer do que se tratava aquele pequeno ser. Com a faca em punho inclinou-se em direção ao camundongo que, por sua vez, encolheu-se ainda mais no canto, como se acreditasse que assim passaria despercebido.

Temeroso, assombrado e com as mãos trêmulas, o homem se aproximou do camundongo, levantou a faca contra o animalzinho e, no momento do golpe, ouviu:

- Clemencia! – sem se mover o camundongo suplicou – Tem piedade humano. Tem piedade pois não lhe ofereço nenhum perigo.

O homem instintivamente paralisou a agressiva investida que fazia contra o camundongo e assim ficou. Imóvel, com a faca em punho, pronto para terminar o movimento fatal. O camundongo, sentindo que conseguira adiar seu destino mesmo que brevemente, ainda encolhido e sem olhar para o homem, continua:

- Essas são terras proibidas para nós e disso eu não tenho dúvida. Mas poupa-me da minha sentença, pelo menos para que eu me explique. Vai ver que tenho razão.

- O que é você? – indagou o homem, ainda em choque e em posição ofensiva.

- Sou o que os homens chamam de camundongo, sou inofensivo e tenho família. – aos poucos o camundongo vira a pequenina cabeça em direção ao homem – Fomos caçados pelo o que vocês chamam de uma raposa e quando não havia mais como fugir me fiz de isca para que ela ignorasse minha família. Continuei correndo às cegas e, quando estava quase completamente exaurido, avistei os trilhos. Imaginando que a raposa não se atreveria a cruza-los, vislumbrei minha única chance. Estive correto quanto ao comportamento da predadora: quando viu os trilhos, parou quase que instantaneamente. Porém, não tendo me restado forças para retornar para casa, precisei procurar abrigo nessa terra que não conheço e na qual não sou bem-vindo. Foi assim que me deparei com sua moradia.

O homem, que nem de piscar se via capaz, aos poucos recuou e abaixou a arma que usaria para encerrar a vida do animal. Enquanto isso, o camundongo terminava de virar a cabeça na direção do humano e agora olhava-o diretamente nos olhos. Embasbacados mutuamente, ambos tentavam entender do que se tratava o ser à sua frente. O camundongo, naturalmente teve menos dificuldade de aceitar, uma vez que no reino que habitava existia uma diversidade maior de espécies. Já o pobre homem, não só estava isolado há várias colheitas, mas, quando em sociedade, conviveu somente com outros humanos e, por isso, achava que tinha enlouquecido por estar conversando com um kiwi:

- Tem nome, criaturinha? – perguntou, com a voz tão fraca que parecia não sair de sua garganta.

- Tenho nome sim, mas não sei como pronunciá-lo na língua comum. E você? – atreveu-se o camundongo – Como te chamam?

- Não tenho nome. Quero dizer, tive nome, mas abandonei-o. Há muito tempo moro sozinho aqui e, sem a necessidade de ser chamado por ninguém, acabei por me esquecer de como era conhecido.

Mais alguns minutos de silêncio e compartilhada contemplação se arrastaram por uma eternidade. Ambos continuavam estáticos e fixamente se analisavam, mas temendo que o prolongado silêncio pudesse soar como ameaçador e acabasse despertando no homem o desejo de eliminá-lo, o camundongo aventurou-se novamente ao assunto:

- Por que vive sozinho? Não há outros humanos por perto?

- Não há. – respondeu o homem com a voz um pouco menos trêmula – A cidade dos humanos é longe daqui. Demasiado longe, na verdade, e provavelmente me perderia tentando chegar lá. Mas vivo bem sozinho, tive motivos para me afastar a assim está bom.

Enquanto ia melhorando a articulação das suas frases, também ia se acalmando cada vez mais e, sendo capaz de produzir alguma ideia em sua confusa mente, o homem percebeu que o camundongo tentava ganhar tempo de vida. Porém, aquilo não lhe parecia ruim e, sem conseguir se libertar totalmente da tensão que a situação havia imposto, aceitou continuar a conversa:

- E você, camundongo, nunca tinha visto um humano?

- Nunca e, em verdade, nunca imaginava ver. – respondeu o pequeno, entendendo a encabulada tentativa do homem de dialogar – Nunca havia visto os trilhos, também. Vários de nós nem acreditam na existência dos humanos. Principalmente os bichos menores que, para andar em volta de uma arvore, levam um dia inteiro.

- Existem diversos tamanhos de bichos, não é? – disse o homem – Me lembro vagamente de aprender sobre seu reino, mas não me lembrava o que era um camundongo e nem imagino o que seja uma raposa. Somente imagino que existem diferentes tamanhos de animais, baseado na grande variedade de sons que ouço vir do seu reino. Digo, imagino que vários barulhos venham de vários bichos diferentes, porque nós humanos fazemos todos os mesmos sons.

Novamente houve silencio e novamente uma breve reflexão por ambas as partes. O camundongo, não encontrando mais assunto e consequentemente não sentindo mais a necessidade de evitar a pergunta fatídica, indagou:

- Você irá me matar?

O homem, que ainda se via em posição defensiva e pronto para proteger-se de um ataque do pequeno bicho, recuou por completo e sentou-se no chão, ainda contemplando a situação em que se encontrava. Refletiu por mais um minuto e respondeu:

- Não posso ser o responsável por essa resposta, camundongo. Não pretendo matá-lo caso não haja motivo, porém não irei hesitar em encerrar sua existência se tornar-se um perigo para mim.

- Entendo e concordo, humano – disse o camundongo, também se sentando no chão, lentamente, defronte para o homem – na cidade que moro esse é um procedimento bastante comum. Todos compreendem que não há a necessidade de atacar se não for atacado, mas encontrando-se em situação de perigo poderá usar toda a brutalidade que dispuser para defender-se. Entretanto, entre os bichos existem aqueles que se alimentam de outros bichos, por isso fiquei apreensivo pela possibilidade de ter me livrado da raposa e caído nas mãos de outro predador.

- Não é o caso – descontinuou o homem – no reino dos homens o alimento vem todo da terra e nenhum sangue precisa ser derramado para que todos se alimentem. Todavia, deveras me intriga o que você acabou de falar, pois nós humanos entendemos e aceitamos aquilo que chamamos de legítima defesa. Trata-se do mesmo juízo que é certo e permitido sermos violentos uns contra os outros, se isso for usado para proteger a nossa própria vida ou a vida de quem amamos. Curioso que os animais compartilhem uma ideia tão humana.

- Sim, compartilhamos, mas ao que me consta esse é um comportamento característico dos bichos. – acrescentou o camundongo – Exponho, também, que estou surpreso, pois sempre nos foi doutrinado que os humanos são diferentes e por isso homens e bichos vivem separados. Entretanto, pelo menos no que tange as medidas necessárias para proteção de seus iguais, vejo que os humanos são idênticos à nós.

O camundongo sorriu e o homem correspondeu o gesto de amizade.

- Sim, nesse aspecto, – emendou o homem – somos bichos.

Continuaram, os dois inusitados e momentâneos colegas, sentados no chão, conhecendo um pouco mais sobre as particularidades de cada um dos reinos e encontrando ainda mais elementos em comum. Perceberam que muito do que eles tinham como certo a respeito do reino do outro, em verdade, tratava-se de uma percepção da realidade alheia. Não eram ideias falsas ou erradas, eram simples concepções, um mesmo objeto visto de diferentes ângulos. Afinal, como era sabido, os trilhos marcavam o início de um reino ou o fim do mesmo, dependendo de onde o espectador vinha.

Foi quando o primeiro raio de sol entrou pela janela aberta que ambos perceberam que vinham conversando, trocando experiências e filosofias há tempo suficiente para ver perdida a hora do ensopado e do justo sono. Aquilo não lhes incomodou pois, coincidentemente, tanto o homem quanto o camundongo tinham em si um particular respeito pelo conhecimento e viam como frutífero um jantar perdido ou uma noite mal dormida, se esse sacrifício fosse recompensado com novas ideias e novos questionamentos.

- Vejo que nos perdemos no tempo – disse o homem – nem terminei meus afazeres da noite e já vou começar os da manhã, mas é bem-vindo se quiser comer antes de partir. Ainda tenho ingredientes suficientes para nós dois. Imagino que não coma tremendas quantidades, visto o seu diminuto tamanho.

- Agradeço sinceramente o convite, mas em verdade, tenho outra pretensão e gostaria de saber o que pensa – respondeu o camundongo com olhar encabulado – pretendo buscar minha família e trazê-los para esse lado dos trilhos.

O homem arregalou os olhos, empalideceu e, dando alguns passos para trás, respondeu rispidamente:

- Está louco, camundongo? Por que haveria de trazer sua família inteira para um território proibido? Quer ver todos mortos?

- Calma, amigo, pretendo trazer somente minha companheira e filhos. Faria sentido pois ocuparíamos pouquíssimo espaço, estaríamos protegidos dos predadores e, como você mesmo havia dito, estamos distantes de qualquer outro humano. Poderíamos viver em harmonia sem que homens ou bichos jamais saibam o que se passa aqui nesse pequeno espaço de terra.

- Não está certo, pequeno camundongo. – respondeu o homem, ainda bastante inquieto – Não está certo. Está me pedindo que compactue com um crime que, se descoberto, punirá você e sua família com a morte e eu com a expulsão do reino dos humanos e consequente morte do outro lado dos trilhos. Tamanho risco somente para que não precise lidar com predadores? Colocará sua vida e a minha em risco para que tenha mais conforto? Ninguém em lugar nenhum está em harmonia! Não existe tal realidade! Não está certo, amigo...

- Somente seremos punidos se descobertos – interrompeu o camundongo – não há o que temer se nunca formos vistos por ninguém. Você nos entregaria aos outros humanos?

O homem fechou os olhos e respirou fundo por um minuto, se acalmou e pode ouvir os sons dos bichos, distantes, do outro lado dos trilhos. Abriu os olhos devagar e encarou o camundongo.

- Jamais te entregaria, porque jamais voltaria à cidade dos humanos. Mas me ouça, como já concluímos, somos iguais no que diz respeito ao que faríamos para conservar nossa própria segurança. Não posso ser o responsável pela segurança da sua família quando será você colocando eles em risco. Ademais, também não posso aceitar que me coloque em uma situação de perigo em prol de seu próprio conforto. Por isso peço que volte para seu reino junto com sua família e lá permaneça, como deve ser.

O camundongo, visivelmente decepcionado, olhou para o chão refletindo sobre a ideia por alguns segundos e, então respondeu:

- Infelizmente esperava que, depois das nossas conclusões, pudéssemos suprimir nossa natureza em prol de uma vida mais harmoniosa – levantando os olhos para encontrar os do homem, ele continuou – mas te digo que, embora não possa colocá-lo em uma situação de risco e respeite seu desejo, garanto que minha decisão foi tomada e trarei minha família para esse lado dos trilhos. Tenha certeza que não iremos importuná-lo, ou melhor, esteja certo e em paz, pois jamais iremos nos encontrar novamente. Irei para longe daqui e nunca saberão da nossa breve convivência.

- Camundongo, não existe a possibilidade de suprimirmos nossa natureza. – respondeu o homem, com a voz calma e o semblante triste – Torço para o sucesso da sua empreitada e rogo para que tenha cuidado. Não acredito que outros da minha espécie tratarão vocês com respeito, principalmente se estiverem em grupo. Nós humanos, tendemos a perder nossa capacidade de dialogar quando estamos em grupos.

O camundongo sorriu, agradeceu os votos, o abrigo e a companhia:

- Contarei histórias aos meus filhos sobre o humano que conheci – disse, o camundongo, ainda sorrindo enquanto alongava as perninhas – e eles vão ter que acreditar em mim.

Sem maiores cerimônias, pôs-se porta afora com a ligeireza que se espera de um pequeno roedor, enquanto o humano se manteve na soleira da casa com o olhar apreensivo e angustiado. Antes que o camundongo sumisse na vegetação, o homem exclamou:

- Antes de desaparecer para sempre, traga sua companheira e filhos para eu conhecer!

O camundongo parou por um instante, virou para a cabana onde o homem encontrava-se parado à frente e respondeu a plenos pulmões:

- Irá conhecê-los em poucos dias! – desaparecendo em seguida no mato.

Os dias passaram e o homem teve dificuldades para voltar a sua rotina. Estava inquieto, impaciente, preocupado. Não sabia como lidar com tantas variáveis pois tudo que conhecia era seu espaço e sua vida em isolamento. Não se lembrava como era lidar com outros seres e a incerteza de suas atitudes. Tentava se acalmar ouvindo os sons dos bichos ou concentrando-se nos seus afazeres, mas era inútil pois estava bipartido. Sua racionalidade clamava para que o camundongo voltasse enquanto seus sentimentos imploravam para que nunca mais aparecesse.

Algum tempo se passou e estava o homem colhendo legumes para o jantar quando ouviu, de dentro da sua cabana, um chamado abafado que imediatamente lhe torceu o coração em agonia. Sabia ser o camundongo, já que era a única voz que tinha lembrança. Levantou-se, limpando as mãos sujas de terra nas roupas e caminhou batendo os pés descalços no gramado a fim de tirar o excesso de folhas secas que colaram em suas canelas devido ao clima úmido.

Chegando na porta de entrada parou, e viu dentro da sala o camundongo ao lado de uma fêmea da sua espécie com o pequeno rosto assustado e vários filhotes presos as suas costas. Quando o camundongo viu o homem, sorriu e cumprimentou-o:

- Como vai caro humano, disse que conheceria, essa é minha companheira...

- Não espero que compreenda. – interrompeu o homem que, com um grande passo alcançou o lugar onde os pequenos visitantes estavam e, com um rápido e violento movimento de perna, pisou na companheira do camundongo e em todos os filhotes, esmagando-os sob seu calcanhar.

- Não! O que fez, homem?! – gritou a camundongo de maneira quase incompreensível, misturando palavras da língua comum com guinchos e choro, enquanto tentava buscar algum sinal de vida na sua família – Por que, humano?!

O homem, com profunda amargura no olhar, levantou o pé que acabara de usar para encerrar a vida da companheira e posicionou-o sobre o camundongo que continuava a balbuciar dolorosos lamentos.

- Por que, humano? – conseguiu murmurar o pequeno camundongo entre os sons incompreensíveis que produzia – Antes de encerrar as execuções, dê-me motivo.

O homem olhou para baixo, nos olhos do camundongo que se debruçara sobre os corpos sem vida de sua companheira e filhotes, e respondeu com voz rouca e abatida:

- Ora, camundongo, não pertence ao reino do outro lado dos trilhos?

- Não iria te fazer nenhum mal. – retrucou o camundongo.

- Não há como saber, meu caro, talvez tudo corresse como você havia pensado, mas talvez fosse encontrado por outros humanos e me entregasse sob tortura. Talvez vivêssemos em paz pelo resto de nossas vidas e talvez trouxesse a morte prematura para todos. Fato é que você tomou a decisão de quebrar o contrato, viria residir em uma área que não lhe é permitida e, em benefício próprio, iria colocar em risco um longo e pacífico equilíbrio entre humanos e animais. Como disse, não espero que compreenda a minha decisão, mas espero que acredite que fiz para proteger a mim e aos meus iguais.

- Poderia ter encerrado a minha vida, sem esperar que eu buscasse minha família. Podia ter lhes poupado.

- Poderia, mas talvez viessem procurá-lo. – argumentou o homem.

- Responda-me, humano, acredita que sua vida é mais valiosa do que a minha?

- Acredito, camundongo, – respondeu com olhos marejados – porque é minha. – houve mais um breve silêncio e o homem acrescentou – Diga-me, camundongo, você acredita que a vida, em qualquer forma, tem um propósito?

- Acredito sim, meu algoz, mas os meus propósitos estão mortos, então nada me resta.

- Até nisso somos parecidos, meu breve amigo, – respondeu o homem enquanto esmagava o pequeno corpo do camundongo e via o brilho da vida abandonar os seus olhos – os meus também.

O homem não ficou orgulhoso de sua decisão, tampouco satisfeito, mas sim, deprimido com o desenrolar dos acontecimentos. Porém, o tempo tem um especial poder de sossegar os aflitos. Algumas luas se passaram, o homem foi se acalmando, a depressão converteu-se em alívio e tornou-se capaz de voltar a sua rotina. Sua vida em nada se alterou, continuou em seu voluntário isolamento até o final de seus dias, os trilhos continuariam dividindo os dois reinos, animais e humanos permaneceram respeitando suas fronteiras e assim funcionou.

Há aqueles que dizem que o homem foi cruel, e há também, quem diga que agiu certo. Há, por sua vez, quem entenda que o camundongo trouxe para si e sua família a evidente e inevitável tragédia e há quem defenda que seria impossível prever o acontecido. Infelizmente, da mesma maneira que não se sabe a origem e destinos dos trens que dividiam os dois reinos, pois se perderam nos arquivos da história, também se perdeu a moral da fábula do homem e o camundongo.

Élio Cury Benazzi
Enviado por Élio Cury Benazzi em 09/06/2016
Reeditado em 09/06/2016
Código do texto: T5662182
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