A Menina dos olhos de Logum

Não havia quem não se encantasse com sua beleza, seus cabelos cheios e cacheados, dum castanho escuro, que linda ela, que linda era aquela pele, tão delicada, tão macia, da cor do doce de leite mais escuro, como que revestido por um leve cetim dourado, tão fino, mais tão fino, que não se pudia definir se era sua pele ou um leve tecido.

Ela, a pequena Ayabá, tinha 9 anos e adorava andar pelas ruas de barro com sua família. Sempre perto dela, estava Dindinha, dindinha, quando Ayaba nasceu, era ela que fizera seu parto e desde então não desgrudou da menina, que virou sua afilhada, como se era de costume, quando se era parteira. Aquela ligação tão sagrada, não poderia se romper ao longo da vida, ela estava pra alem dela.

Dindinha era uma mulher que transmitia força e leveza, carinhosa, zelosa, ela sabia que seu papel era guiar Ayabá por seus caminhos, ajudar Ayabá a descobrir-se, Dindinha ensinava a menina a ser mestra de si mesma, não fora ela que havia gestado Ayabá, mas era ela quem ajudaria a menina a florir.

Ayaba gostava de ficar do lado de fora da casa, quase nunca chovia e ao redor de sua casa haviam muitas árvores, árvores de todas as cores: vermelhas, verdes, amarelas, roxas, algumas até azuis, algumas bem baixinhas, do tamanho de Ayabá ou grandes árvores que ultrapassavam o tamanho de seus pais e de Dindinha.

Ayaba ficava ali, fascinada, por entre as árvores, todos os dias, eram uma cantoria só, pássaros de todas as espécies ali moravam e moravam em festa, sempre felizes, coloridos e cantantes.

Ela se deitava na sombra de uma árvore e os pássaros a rodeavam, brincavam por cima dela e ela só sabia sorrir, ela não falava muito, sorria, sorria daqueles sorrisos que vão contagiando cada um que estiver a sua volta…

Seu pai, sentado na porta da casa, ali em sua cadeira de madeira, amava ver o fim de tarde, ficar ali, das quatro e meia da tarde até o sol se por, esperando que as cores do sol pintasse tudo de dourado…. e assim ele chamava a pequena Ayabá, ele dizia: ei meu pequeno pavão dourado, venha cá, de um beijo em seu pai e ela vinha com seus olhinhos, como que asas de um lindo pavão, cheio de amor por ele… E ele, ele trazia em si um amor de tamanha gratidão, pois não havia algo que ele amasse mais no mundo, do que aquela garotinha, ele se admirava com ela. Como ela conseguia ter os passarinhos a brincarem com ela? como se fossem seus melhores amigos.

Era fascinante de ver. Eles andavam pelo ombros, braços e se ela deitasse… rá! Tinha dia que ela parecia ser um borrão múltiplas cores no chão, com os passarinhos por todas as partes de seu corpo… e ela? ah! Ela ria, sabia só era rir, ela ria e eles cantavam, era assim a conversa deles.

Não lhes contei, mais Dindinha, quando Ayabá completou 7 anos, ela fez uma festa tão bonita pra ela, muitas frutas, muita comida, muitos doces, muita música, foi festa o dia todo, mas antes que a menina se cansasse e o sono quisesse alcançar, Dindinha pegou delicadamente em sua mão e disse: venha com a Dinda, tenho um presente pra te dar. E ela sorriu, bem de leve, com os olhinhos apertados e seguiu com a tia, ambas entraram em um pequeno comodo da casa, Ayaba nunca havia entrado ali, haviam muitos tecidos, como que cortinas e objetos atras deles, que objetos? ninguém sabe… era segredo e sendo segredo, não sou eu que vou lhes contar, né!? sentaram-se em uma esteira, feita com palha, que colhiam ali mesmo no terreno e Dindinha pegou uma caixinha que deixará ali, próxima a esteira, Ayaba olhava com curiosidade para a caixinha, Dindinha, só observava, com um leve sorriso no rosto, os olhares de Ayabá: quer saber o que é? Ela sorriu e balançou com a cabeça dizendo que sim, estava ansiosa, queria logo saber qual seria seu presente daquele ano.

E então, dindinha abriu a caixinha, bem de vagar. Ayaba estava achando aquela caixinha bem bonita, ela era azul, com desenhos de espirais, desenhadas com uma tinta dourada. Dindinha fez uma pausa antes de abrir a caixinha e disse: Ayabá, este presente é algo muito especial, ele é mágico e a Dinda fez ele especialmente pra vc. E então ela abriu a caixa: será sua coroa, e como uma rainha, vc sempre deve portar sua coroa, combinado? E então Ayabá respondeu: sim Dinda!

E da caixinha ela tirou um lindo tecido branco de renda, que ela mesma tecera, uma renda tão delicada, tão cheia de detalhes e esmeros, que pareciam as asas de um pavão.

Colocou sob a cabeça de Ayaba e disse pra ela que daquele dia em diante, sempre que saísse de sua casa, deveria estar com sua coroa. E assim foi, todo dia, lá estava Ayabá, linda com sua cora, brincando com seus amigos, subindo nas árvores, correndo pra todos os lados. Era cair a luz do dia e ela entrava pra dentro de sua casa,abria sua caixinha azul e dourada e guardava sua coroa, sua renda, bordada com tanto esmero por Dindinha.

Como lhes contei, Ayabá tinha 9 anos e seu aniversário estava perto, logo ela faria 10. Seus pais então resolveram levá-la para um passeio, ela amava andar pelas estradas de terra do sitio, gostava de olhar os vales e montanhas que lhes cercavam, ela brincava que aquelas montanhas eram como grandes dragões adormecidos.

Então no dia de seu aniversário, seus pais prepararam uma surpresa, chamaram Dindinha até sua casa, todos se arrumaram com sua melhor roupa: todos trajavam branco, pois essa era a cor que Ayabá mais gostava. Ela estava com um vestido branco e sob sua cabeça o tecido de renda que Dindinha havia lhe presenteado, era a sua coroa.

O que seus pais não sabiam era que algo muito mais surpreendente estava pra acontecer....

Andavam tranquilamente pela estrada, ainda era manhã, o Sol estava leve e agradável. De um lado da estrada de terra estava seu pai e sua mãe e do outro Ayabá e Dindinha, seu pai olhou pra ela, cheio de carinho, já estavam perto de onde ele preparará a surpresa… mas como lhes disse, algo mais surpreendente ainda estava pra acontecer… foi então, que Dindinha quando eles chegaram na parte mais alta do morro, ali pela estrada de terra, ela tirou o tecido da cabeça de Ayabá e bateu um vento forte, parecia que toda poeira do chão havia levantado, e aquela terra vermelha, parecia ter pó de ouro no meio dela, todos, exceto Dindinha ficaram meio assustados, quando de repente, em meio a poeira surgiu um pássaro, um pequeno pavão, lindo e majestoso e foi voando pela estrada e voou, e voou pairou por entre os picos dos morros, o Pai havia entendido, ninguém ali ficou mais assustado, estavam encantados e sentiam muito amor, sabiam que aquele pássaro era Ayabá, ele sabia que ela era: seu pequeno pavão dourado….

E então ela voltou pra perto deles, pousou em uma madeira que da cerca e eles puderam vê-la de perto, sua cabeça e peitoril eram de um azul celeste, em seus olhos, um leve traço lilas, como uma pequena máscara, e toda sua pelugem, era como uma renda, toda branca, aquela mesma renda que Dindinha havia tecido e pendurados nela, os olhos mágicos do pavão, como brincos, cheios de encanto. Ayabá estava magnifica, ela agora podia voar como seus amigos, ela também era um pássaro, um pássaro magnifico, ela era um pavão!

A família toda estava feliz, continuaram caminhando pela estrada e Ayabá - o pequeno pavão dourado, planava a frente como que se divertindo em ser pássaro….

E ao cair da noite, Ayabá voltava a ser menina e quando o sol voltava a nascer, ela voltava a ser pássaro, o pequeno pavão dourado.

Dimas Reis
Enviado por Dimas Reis em 25/08/2016
Reeditado em 25/08/2016
Código do texto: T5739201
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