MEU CANTO

Nasci para ser livre, é da minha natureza, meu limite é o azul do céu, eu habito no dossel, das frondosas framboesas.

Minha casa sobre os galhos, balançam ao sabor do vento, sob chuva ou tempestade, é acolhedora por dentro.

De gravetos e penas, restos de trapos e pedaços, as vezes ate de barro.

Minha pequenina casa, repousa por entre as folhas, desse território vasto.

Nasci cego e pelado, mas, poucos dias depois, meu corpo se encheu de penas, mas, olhos se abriram, e ensaiei um piado.

Enxerguei dois lindos pássaros, eles cuidavam de mim, felizes deveras meus pais, cantavam maravilhados.

Eu tenho o dom do canto, um canto bem afinado, alegro a vida de todos, nos telhados ou nos prados.

Voando pelo céu, vou a todos os lugares, visito todos os bairros, ora voo pra cima, ora voo pra baixo.

Antes do sol nascer, meu canto alegra a vida, nas cidades, nos pomares, nos telhados, ou no mato.

Sem destino certo, canto nas copas das árvores, em um galho escondido, ou garimpando no solo.

Atraído por um canto, inocente e lisonjeiro, eis que esse me levou a cela prisioneiro.

Puseram-me nessa dessa coisa, a quem chamam de gaiola, não passa de uma jaula, pendurada numa argola.

Rodeada de espaço, de espaço infinito, espaço que me roubaram, e só posso contempla-lo, protestando com meus gritos.

Minhas asas não me servem, me debato, salto e pulo na esperança de escapar, do perverso gradeado.

Por vezes fico ferido, então paro, fico imóvel, solto notas musicais, ou permaneço calado em meu silencio é deprimido. Tudo que quero é ser livre, voltar a cantar por aí.

Mas, o egoísmo é tão grande, que o homem ficou cego, e assim me condenou a servir o seu ego.

Confinado neste mundo encolhido, conjugo tristeza, e pranto, por ter sido condenado, pela beleza do meu canto.