Um conto de bichos

De repente a floresta ardeu em chamas.

Os bichos, aturdidos, não sabiam o que fazer.

Em meio à áspera nuvem de fumaça, surgiu um belo passarinho carregando um pouco de água no bico. Corajosamente sobrevoou o foco do incêndio e lá atirou as gotas de água que conseguiu ajuntar.

O macaco sorriu, apontou para o passarinho: “sai daí bicho estúpido, você jamais conseguirá apagar o incêndio”.

O passarinho, que sabia falar a língua dos macacos, respondeu: “sei que não apagarei o incêndio, mas estou fazendo a minha parte”.

Os outros bichos se entreolharam, surpresos.

Deu-se um ameaçador silêncio, nem mesmo as hienas foram capazes de sorrir.

O rei Leão resolveu agir, fazer valer sua liderança, ordenou que o elefante enchesse a tromba de água e ajudasse o corajoso passarinho.

Um tanto contrariado, resmungando que outros poderiam ajudar de alguma forma, o elefante caminhou até o rio e encheu o quanto pode de água a tromba.

O leão pensou dar ordens ao jacaré, um pensamento corrido, talvez com uma boca tão grande, poderia enchê-la de água e ajudar o elefante e o corajoso passarinho.

Mas o jacaré fechou os olhos e mergulhou na água profunda. Ali estava livre do perigo das chamas e disso sabia muito bem.

O fogo aumentou, o passarinho continuou fazendo sua parte enquanto o elefante desistiu na terceira tentativa. Quando os bichos esperavam pelo pior, quando o calor das chamas já chamuscava todos os pelos, detrás do sol partiu uma imensa nuvem negra de chuva.

E o temporal desabou em poucos minutos, apagando o incêndio.

Depois de horas, o incêndio já não existia, apenas o cheiro de queimado insistia a pairar pelo ar.

Assim que tudo se acalmou, entre lágrimas incessantes, a raposa trouxe entre suas patas o corpo ainda fumegante do passarinho.

O leão se aproximou, fez um gesto de carinho na cabeça do passarinho e logo depois o devorou.

“Nunca confiei nas raposas."

Disse entre dois arrotos com gosto de carne explodindo. Depois estalou os dedos:

- Não existe nada mais gostoso do que passarinho assado”.

E a vida voltou ao normal na floresta.